O povo costuma dizer, “cada cabeça, sua sentença”,
neste caso será mais apropriado afirmar, “cada estudo, sua sentença”.
A Associação Nacional de Profissionais de
Educação e Formação de Adultos divulgou hoje um Relatório “Educação e
Formação de Adultos em Portugal, uma prioridade, um contributo para vencer a
crise”, que pretende contrariar a avaliação do Programa Novas Oportunidades
que o Governo encomendou, no sentido literal, a uma equipa do IST. Segundo a
ANPEFA e com base em pareceres de especialistas nestas matérias, a avaliação
contém erros graves do ponto de vista metodológico que não permitem as conclusões
na altura apresentadas.
Segundo a avaliação produzida pelo IST e em
síntese, a dimensão reconhecimento, validação e certificação de competências
parece ter um baixíssimo impacto na empregabilidade e um efeito quase nulo nas
remunerações dos participantes. Por outro lado, as modalidades com maior
componente formativa, Educação e Formação de Adultos apresentam efeitos
consideráveis, aumento da empregabilidade de 14 % nos homens e 2 % nas
mulheres. Formação de natureza mais curta têm impacto mais baixo, 3 % nos
homens e 1 % nas mulheres. No que respeita à remuneração a frequência de um
curso EFA parece promover um acréscimo de 4 %. Curiosamente e de forma estranha,
num programa que se destina nos seus fundamentos a promover qualificação, a
avaliação do Programa agora realizada, não contempla a qualidade das
competências (qualificações adquiridas). Um bom exemplo, mais um, da manha da
PEC – Política Educativa em Curso, aliás, já em voga há muitos anos.
Na verdade, as avaliações, as sucessivas
avaliações vão servindo a agenda de interesses políticos. Quando o Relatório da
equipa do IST foi divulgado Luís Capucha, antigo responsável pelo Programa
Novas Oportunidades, também contestou a equipa, o modelo e os conteúdos da
avaliação realizada pela equipa do IST.
No entanto, se bem se recordam avaliações
externas que já tinham sido realizadas ao Programa Novas Oportunidades, sob a
responsabilidade, uma delas, do Eng. Roberto Carneiro. Recupero excerto de um
texto antigo sobre essas avaliações.
“É óbvio que as pessoas envolvidas terão de
expressar uma opinião genericamente positiva, acedem a diplomas que lhes
certificam competências, acedem a algumas experiências e competências, a
equipamentos informáticos, etc. Parece-me aliás, estranho que apenas um terço
revelem que o Programa teve pelo menos um aspecto positivo. É interessante que
dos 32% que referem um aspecto positivo, apenas 27% refiram o alargamento de
competências. Numa outra avaliação referia-se que os participantes aumentaram a
sua auto-estima e se sentiam mais envolvidos na escolaridade dos seus filhos.
Estas avaliações não referiram se o Programa se repercutia na empregabilidade,
na qualificação ou na qualidade do emprego”.
A gestão do Professor Capucha assentou, como
muitas vezes, referi na promoção despudorada do equívoco entre certificação e
qualificação e a recuperação estatística dos diplomados com o 9º e com o 12º
ano foi notável.
A actual Secretária de Estado do Ensino Básico,
com base na avaliação da equipa do IST anunciou como prioridade a retoma do
Ensino Recorrente, entretanto quase desaparecido, providenciado por uma rede
selecionada de escolas e no redimensionamento da rede de Centro de Novas
Oportunidades que passam, num processo de restyling, a Centros para a
Qualificação e o Ensino Profissional.
Milhões de euros depois, centenas de
profissionais despedidos depois, algumas boas práticas e experiências depois,
vai restar o quê? A cada estudo sua sentença, para alimentar a deriva política
da educação em Portugal nas últimas décadas.
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