Ele ouvia-os tranquilamente. Na posição em que
estava não podia ver muito bem as caras mas algumas vozes até identificava.
Era um gajo porreiro, dizia o Silva para o Lopes
que acrescentou, mesmo simpático. O João, pareceu-lhe pela voz, dizia, não
percebeu a quem, colega como ele nunca tive.
E tão divertido que era, dizia a D. Júlia,
ninguém ficava aborrecido ao pé dele. Era um exemplo de trabalhador disse
alguém que ele não conhecia.
Uma senhora com ar inspectivo olhou para ele e
comentou para uma outra que a acompanhava, era um homem novo e bem-parecido.
O Chefe, que também apareceu, contava para o
Lopes e para a D. Júlia como eram animadas as conversas que tinha com ele, para
além do serviço. Conseguiu ainda perceber a voz do Manel, o cunhado, com quem
sempre discutia e se desentendia, a afirmar para alguém, éramos como irmãos.
Até o Francisco, um tipo que ele não via há anos,
comentava os tempos de convívio que tinham passado juntos e de que ele,
francamente, não se lembrava. Entretanto, devagarinho, as vozes foram ficando
mais longe, imperceptíveis, e ele adormeceu.
Sonhou que ainda estava vivo.
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