Final da manhã, um passeio na
praia por conta do antonino feriado dos lisboetas deu para apanhar um solzinho
e assistir, enquanto resisti, a uma cena curiosa em que intervinham uma mãe
preocupada, um filho chateado, de uns nove anos, e um pai indiferente, que
também por ali feriavam. A mãe preocupada e o filho chateado estavam debaixo do
chapéu de sol com um caderno de exercícios escolares e o pai indiferente digeria
as sardinhas e as "bejecas" da véspera, deitado na toalha.
O diálogo da mãe preocupada e do
filho chateado que me chegava era, mais ou menos, este.
Tens que fazer isto até ao fim, depois jogas à
bola com o teu pai.
Mãe, não me apetece fazer isto,
já estou farto, é férias.
Tens de fazer, ainda não está de férias, eu ajudo-te, vá
diz lá, o que é que cai no Outono? Tu sabes.
São as folhas mãe.
Vês como sabes, vá completa lá a
frase, escreve.
Mãe, já chega.
Já te disse tens que acabar. Se
não acabas isso quando chegarmos a casa não vais ver televisão. Já sabes, tens
que acabar esses exercícios.
Desisti, de mansinho levantei-me
e zarpei para outro porto.
Pobre criança, quase de férias, de
feriado, na praia, não pode jogar à bola com o pai, tem de realizar os
exercícios escolares e se não os realizar não vai ver televisão quando chegar a
casa.
Que raio andamos nós a fazer da
vida dos miúdos?
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