terça-feira, 30 de abril de 2019

DO BRINCAR

Há uns dias, alguma imprensa fez referência a um Documento da OMS com um conjunto de orientações relativas à promoção de desenvolvimento saudável destinado às crianças até 5 anos, “Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age”. O documento foi divulgado esta semana.
As orientações não são novas mas suficientemente importantes e actuais para que mereçam leitura e ser levadas a sério nos contextos educativos familiares ou institucionais.
Em linha com que tantas vezes aqui tenho referido e integrado no trabalho desenvolvido com educadores, pais e encarregados de educação sublinharia como aspectos essenciais a importância da qualidade do sono, o combate ao sedentarismo e promoção da actividade física das crianças adequando essa actividade à sua idade e desde bebés.
Apesar de a realidade variar de país para país, a situação em Portugal está longe ser satisfatória como se mostra num extenso trabalho hoje no I.
Em muitos contextos familiares muitas crianças não têm as horas de sono de qualidade que a idade que deveriam e verificam-se ausência de rotinas como deitar à mesma que hora.
A relação entre os estilos de vida e as rotinas, higiene e qualidade do sono dos mais novos são conhecidas e estudadas, mas importa sempre sublinhar a sua importância.
Também apresentamos níveis não satisfatórios de actividade física nas crianças, designadamente, no que respeita a actividades de ar livre ou de natureza desportiva.
Acresce a esta baixa actividade o recurso aos ecrãs como babysitter das crianças o que aumenta os níveis preocupantes de sedentarismo com riscos sérios para o saudável desenvolvimento global saudável das crianças e com impacto que perdura ao longo da sua vida como, por exemplo, a obesidade
O brincar de forma activa é uma ferramenta imprescindível à saúde física e mental das crianças e para todas as áreas do seu funcionamento. Como tantas vezes tenho escrito, brincar é a actividade mais séria que as crianças realizam, em que põem tudo o que são, sendo ainda a base de tudo o que virão a ser e a saber.  

segunda-feira, 29 de abril de 2019

PAIS E ESCOLA


Gostei de ler “Como posso eu apoiar a escolaridade dos meus filhos?” de Lourdes Mata no Público.
“ (…)
(…)
Muitas vezes tenho escrito no Atenta Inquietude que apesar dos estilos de vida pouco amigáveis é muito importante que os pais e encarregados de educação, no âmbito da educação familiar assumam algum envolvimento com a vida escolar.
É comum que este envolvimento seja entendido fundamentalmente por estabelecer contactos com a escola ou participar nas reuniões de pais e “ajudar” nos trabalhos de casa dos filhos.
Como está escrito no texto é bem mais do que isso.
Deixando de lado, os contactos com a escola pela sua relevância óbvia, algumas notas breves.
Existe uma forte associação entre o desempenho escolar dos alunos e o nível de escolaridade dos seus pais/encarregados de educação. Por outro lado, sabemos também que temos ainda um baixo nível de qualificação escolar em muitas das nossas famílias.
Neste cenário e como tantas vezes refiro apoiado em estudos de diferente natureza, o recurso excessivo aos trabalho de casa, sobretudo em alunos mais novos (menos autónomos) coloca muitas vezes dificuldades aos pais que querem ajudar mas não “sabem” e não conseguem a ajuda externa, as “explicações”, criando-se desta forma situações que alimentam desigualdade de oportunidades.
No entanto, se considerarmos que "Trabalho" Em Casa não é o mesmo que Trabalho Para Casa, por princípio, todos os pais, independentemente, do seu nível de escolaridade, são capazes, podem e devem envolver-se … na vida escolar dos filhos. Conversar sobre as dificuldades, incentivo ao conhecimento e à curiosidade, promoção e envolvimento em actividades de lazer de natureza variada, ler (independentemente do suporte) ou brincar ao ar livre e tantas outras, comunicação sobre assuntos do dia-a-dia, promoção de rotinas e formas de organização mais eficientes e saudáveis, aproveitar o que está à volta para criar “mundo” e autonomia nos miúdos, são apenas exemplos do muito que pode ser feito pelos pais com reflexos positivos no processo de escolaridade dos filhos.
Trata-se de uma matéria que abordo com regularidade em conversas com pais que sinto estarem de forma geral disponíveis para este olhar.
Sabemos todos, quase não adianta referir, que muitos pais, por negligência, por dificuldades grandes com horários, por insegurança ou por algum desconhecimento do papel que também neste campo podem ter, não assumem os procedimentos e atitudes que mais desejaríamos.
Por isso … temos de insistir. É bom para as crianças e adolescentes.

domingo, 28 de abril de 2019

FAMÍLIA, PRECISA-SE. É URGENTE


Finalmente. Entrou em discussão pública o projecto de decreto-lei que reconfigura a política de apoio às famílias de acolhimento.
De acordo com a proposta as famílias nesta situação terão acesso a direitos sociais, como faltas ou baixas médicas, em caso de doença, e acesso a todas prestações a que uma criança tem direito, como o abono de família.
Prevê-se ainda que estas famílias terão direito aos benefícios fiscais previstos no Código do Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares e no Estatuto dos Benefícios Fiscais e o Estado atribuirá um apoio pecuniário por criança ou jovem acolhido correspondente a 1,2 vezes o valor indexante dos apoios sociais.
Era tempo de corrigir uma situação inaceitável e que se constituía como um sério obstáculo, não será o único, à promoção desta resposta que minimize o número excessivo de crianças e jovens institucionalizadas.
O objectivo é conseguir que tornar-se uma família de acolhimento seja mais atractivo tornando-se, de facto, uma alternativa ao acolhimento residencial, assumindo-se como resposta prioritária e preferencial para crianças até aos 6 anos.
Segundo dados do último Relatório CASA, divulgado em Novembro passado e relativo a 2017, apenas 3% (246) das 7553 das crianças sob tutela do estado vivem em famílias de acolhimento enquanto 87% estão em residências. A disparidade face à situação noutros países da Europa é significativa, em Espanha e Itália são mais de metade e Irlanda e Noruega têm 90% das crianças em famílias de acolhimento.
Ainda segundo o Relatório CASA existiam 652 crianças até aos cinco anos em instituições generalistas e apenas 18 a viver em famílias.
Importa salientar que foi em 2015 que foi publicada legislação que estabelece o quadro das famílias de acolhimento para crianças em risco mas, três anos depois a lei continuava por cumprir.
A lei pretendia contrariar que a institucionalização seja a resposta mais frequente, sobretudo no caso das crianças mais novas, até aos seis anos pelo que os números são elucidativos. Aliás, o número de crianças nesta situação em famílias de acolhimento tem vindo a decrescer, em 2008 viviam com famílias 918 face às 246 em 2017.
Esta situação inibe o desenvolvimento de projectos que colocar em contextos familiares crianças que por situações de risco foram retiradas às famílias biológicas e ainda não estão em processo de adopção e vivem em instituições.
Parece assim importante que sejam criadas melhores condições que favoreçam a criação da pretendida bolsa de famílias de acolhimento e que estas tenham um conjunto de apoios adequados e justos. É óbvio que importa também definir dispositivos de regulação que assegurem a qualidade educativa e cuidadora destes contextos.
Em nome do bem-estar das crianças e jovens seria desejável que se conseguisse até ao limite promover a desinstitucionalização das crianças por múltiplas e bem diversificadas razões. Uma entrevista de Robbie Gilligan, Professor de Serviço Social e Política Social no Trinity College, em Dublin, no Público quando há uns meses esteve em Portugal merece reflexão.
Um estudo de Paulo Delgado da ESSE do Porto, creio que divulgado 2018,  refere que as crianças evidenciam uma percepção de bem-estar significativamente diferente consoante estejam em família tradicional, 9.05 numa escala de 0 a 10, em famílias de acolhimento, 8.69 e em instituições, 7.61.
Recordo um estudo de há alguns anos da Universidade do Minho mostrando que as crianças institucionalizadas revelam, sem surpresa, mais dificuldade em estabelecer laços afectivos sólidos com os seus cuidadores nas instituições. Esta dificuldade pode implicar alguns riscos no desenvolvimento dos miúdos e no seu comportamento.
A conclusão não questiona, evidentemente, a competência dos técnicos cuidadores das instituições, mas as próprias condições de vida institucional e aponta no sentido da adopção ou outros dispositivos como forma de minimizar estes riscos e facilitar os importantes processos de vinculação afectiva dos miúdos. Também deve acentuar-se o trabalho de grande qualidade que muitas instituições procuram desenvolver. Além disso, sabemos todos, que existem contextos familiares que por razões de ordem variada não devem ter crianças no seu seio, fazem-lhes mal, pelo que a retirada pode ser uma necessidade justificada pelo superior interesse da criança, um princípio estruturante das decisões neste universo.
Uma família é, de facto, um bem de primeira necessidade.

sábado, 27 de abril de 2019

AS ESCOLAS SIMPÁTICAS


A notícia não traz nada de novo, é reconhecido que vários estabelecimentos de ensino, designadamente no ensino privado, têm práticas avaliativas altamente generosas e simpáticas. Esta simpatia e generosidade é particularmente sentida durante o ensino simpático, as notas internas dos alunos são hipervalorizadas dando um forte contributo para a subida da média final do ensino secundário que continua a ser o critério quase exclusivo no acesso ao ensino superior.
Tendo sido inicialmente divulgadas no blogue ComRegras do Alexandre Henriques várias pautas do 10º ano do Colégio Ribadouro (sempre bem posicionado nos rankings claro) relativas a Educação Física mostram que nenhum aluno do 10º teve nota inferior a 18 no 2º período. Mais precisamente, de 248 alunos do 10º, 128 (52%) tiveram 20 valores, 108 alunos (44%) tiveram 19 e apenas 12 desajeitados alunos tiveram 18. Notável o desempenho dos alunos em Educação Física, tão notável quanto o desempenho da escola em rigor, seriedade, ética e manhosice.
Os negócios da educação têm destas coisas. E têm destas coisas porque apesar da alteração que se verificará no ensino profissional o acesso ao ensino superior continua a depender quase que exclusivamente da média final do secundário. Como, do meu ponto de vista bem, a nota de educação Física voltou a contar para o cálculo, o resultado está à vista.
Como disse a situação não é nova, o que é novo, é esta despudorada vergonha com as notas de Educação Física. No final de 2018 foi divulgado um relatório da Inspecção-Geral de Educação e Ciência que analisou algumas escolas em que se tem verificado uma discrepância significativa entre os resultados dos alunos na avaliação externa, os exames, e a avaliação interna na qual a generosidade e simpatia dessas escolas inflacionam a classificação dos alunos. Salientava-se a forma como é “revista em alta” a classificação dos alunos, recorrendo à sobrevalorização de dimensões menos sujeitas a “medida” e, por outro lado, mostrou como são imprescindíveis os dispositivos de regulação.
Também o Relatório Anual do Conselho Nacional da Educação, “Estado da Educação 2016”, voltava a referir a “simpatia” e “generosidade” de algumas escolas que inflacionam as notas dos seus alunos. Dentro do padrão habitual, a maioria das situações ocorre em estabelecimentos privados o que o relatório da Inspecção veio a confirmar.
É público que em muitas zonas as escolhas de escola por parte das famílias, sobretudo privadas mas também públicas, se decidem também em função deste conhecimento.
Os responsáveis pelas escolas em que o “fenómeno” é mais evidente tentam explicá-lo de formas diferentes e em alguns aspectos até bastante curiosas, projecto pedagógico ou educativo da instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação interna, etc.
É também por razões desta natureza que, afirmo-o de há muito, a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados. Esta questão associa-se aos rankings escolares e aos dividendos que daí podem advir. Devo dizer que me incomoda verificar que na generalidade dos suplementos dedicados pela imprensa aos rankings escolares, os resultados são mostrados misturados com publicidade a alguns estabelecimentos privados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas "especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente alimenta este nicho de mercado sem que, os estudos mostram-no as notas de acesso dos alunos do ensino secundário privado não sustenta carreiras escolares no ensino superior no mesmo patamar.
Não está em causa a existência de exames finais no ensino secundário. O que me parece ajustado é que as classificações, internas e externas no ensino secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas em diversas circunstâncias.
Enquanto não se verificar a separação da conclusão do secundário da entrada no superior corremos o risco de lidar com situações desta natureza embora a transparência as possa minimizar.

PS - Tenho alguma curiosidade sobre o que pensarão sobre estes expedientes os alunos, os pais e os professores destas escolas. Dos responsáveis institucionais adivinho o que dirão, se disserem alguma coisa, "nada lhes pesa na consciência". Como sempre.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

A PROPÓSITO DE "NEM CHUMBAR, NEM APRENDER. NESTA ESCOLA A ÚNICA ALTERNATIVA É APRENDER"

A propósito de trabalho em desenvolvimento na Escola Básica de Fonte Santa, no agrupamento da Marinha Grande Poente, o Observador apresenta uma peça, Nem chumbar, nem aprender. nesta escola a única alternativa é aprender”, sobre a sempre presente questão da retenção escolar e dos seus potenciais efeitos, positivos ou negativos.
Na peça encontram-se algumas opiniões incluindo as de alguns anteriores responsáveis no ME com um argumentário conhecido.
Muitas vezes aqui também tenho abordado esta matéria e julgo sempre pertinente discuti-la. Nesta perspectiva republico um texto recente.
Segundo os dados mais recentes do ME continuam em queda as taxas de retenção no 1º e 2º ciclo, dados de 2016/2017. No entanto, o 2º ano continua com valores críticos, 7%. Existem 23 escolas com 100% dos alunos retidos neste ano de escolaridade, boa parte delas, 13, com menos de 20 alunos.
Algumas notas retomadas de escritos anteriores sobre esta questão permanentemente em discussão e sujeita a uma imensidade de opiniões, visões e equívocos, o chumbo escolar.
No final do ano passado o CNE divulgou o Relatório “Estado da Educação, 2017” onde já constavam estes indicadores e analisados em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos no âmbito do Projecto aQeduto incluindo numa vertente económica. Em termos económicos e recorrendo aos estudos já desenvolvidos o impacto económico da retenção é estimado em cerca de 6000€ por aluno em cada ano.
Adaptando o modelo desenvolvido pela Education Endowment Foundation, o Projecto aQeduto identificou o grau de eficácia e custo económico de um elenco de medidas de combate ao insucesso. Das medidas analisadas, a retenção tem o custo mais elevado e a eficiência é negativa, promove um atraso de 4 meses. Ensinar a estudar é a medida mais económica, 87€, e mais eficiente, promove um ganho de 8 meses de aprendizagem.

Estes dados são importantes mas a sua substância não é nova.
Recordo que no Relatório “Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed” divulgado pela OCDE em 2017 se evidencia que o “chumbo”, a retenção, é para os alunos portugueses o principal factor de risco para os resultados na avaliação posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não melhoram.
De facto, definitivamente, não adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos mostram.
Confesso sempre alguma surpresa e dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da retenção algumas vozes, mesmo dentro do universo da educação, clamam que se está a promover o "facilitismo" ou a defender que "então passam sem saber". A leitura das caixas de comentários às notícias sobre estas questões é elucidativa.
Nesta conformidade e do meu ponto de vista, a questão central não é o chumba, não chumba, e quais os critérios ou o número de exames, mas sim que tipo de apoios, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.
Este discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem sempre se resiste. Pelo contrário, “facilitismo” é acreditar que a retenção, só por si, resolve o problema do insucesso.
É essencial promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social. A associação entre o insucesso e a pobreza em Portugal é, aliás, a mais forte entre os países europeus. Em Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPC e explicações, dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade dos pais e ao estatuto económico. É necessário também diversificar percursos de formação com diferentes modelos curriculares e carga lectiva finalizando sempre com algum tipo formação profissional. Esta diferenciação não deve acontecer em idades precoces criando percursos irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a escola" e "preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que tarda em acontecer de forma consistente e sustentada em Portugal.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

A ESCOLA DE ANTIGAMENTE


Não pode deixar de ser, é dia 25 de Abril.
Quase sem nos darmos conta os anos passam, já lá vão 45 anos. Actualmente, boa parte da população portuguesas não viveu o 25 de Abril de 1974, nem o 24 de Abril com tudo o que continha. Talvez por isso, o muito tempo que já passou, nestes dias surgem na imprensa peças sobre o que foi o 25 de Abril de 1974” nas quais se revela o desconhecimento de muita gente inquirida, não só sobre a data mas, sobretudo, o que era o 24 de Abril.
Estamos num tempo em que à história se dá pouca atenção e o futuro é percebido como muito longe, vive-se a urgência do hoje.
No entanto, perceber e conhecer o que foi a estrada que percorremos é fundamental para viver e conhecer o presente e querer construir um futuro com uma visão escolhida por nós.
É verdade que temos vivido tempos difíceis mas também é verdade que não é sequer possível comparar o país de hoje com o país de 1973. Já passaram 45 anos, para refrescar algumas memórias ou contar alguma história aos mais novos, deixem que vos fale um pouco da escola do meu tempo, o tempo dos anos cinquenta e sessenta. Escolho falar da escola porque é um universo que conheço um pouco melhor, mas poderia fazer o mesmo exercício em muitas outras áreas de funcionamento da nossa sociedade. Não me esqueço, antes pelo contrário, que a nossa educação, a escola, como tudo o resto, também tem atravessado, atravessa e provavelmente sempre viverá dificuldades e problemas sérios mas só a falta de memória, uma qualquer agenda ou o desconhecimento sustentam o “antigamente era melhor” e inquietam-me discursos que emergem defendendo “aquela” escola, “aquela” educação, a de “antigamente”. Vejamos, pois, um pouco da escola do meu tempo, conversa de velho, já se vê.
A escola que havia lá para trás no tempo não era grande, nem pequena, era triste. A maioria das pessoas que por lá andavam era, naturalmente, triste. É claro que nós miúdos também nos divertíamos e ríamos, os miúdos são resilientes.
As pessoas que mandavam na escola estabeleciam o que toda a gente tinha de aprender, fazer, dizer e pensar. Quem pensasse, dissesse ou fizesse diferente podia até sofrer algum castigo, mesmo os professores, não eram só os alunos. Não se podia inventar histórias, as pessoas contavam só histórias já inventadas. Às vezes, os miúdos e os professores, às escondidas, inventavam histórias novas.
Eu andei nesta escola lá para trás no tempo.
E na escola do meu tempo nem todos lá entravam e muitos dos que o conseguiam saíam ao fim de pouco tempo, ficando com a segunda ou terceira classe, como então se chamava. Chegava.
Alguns outros, nem se entendia que deveriam estar na escola, eram pessoas com deficiência, ainda não sabíamos falar de necessidades educativas especiais nem de inclusão, que iriam fazer para a escola.
E na escola do meu tempo os rapazes estavam separados das raparigas.
E na escola do meu tempo havia um só livro e toda a gente aprendia apenas o que aquele livro trazia.
E na escola do meu tempo levavam-se muitas reguadas, basicamente por dois motivos, por tudo e por nada.
E na escola do meu tempo ensinavam-nos a ser pequeninos, acríticos e a não discutir, o que quer que fosse.
E na escola do meu tempo eu era “obrigado” a ter catequese, religiosa e política.
E na escola do meu tempo aprendia-se que os homens trabalham fora de casa e as mulheres cuidam do lar e dos filhos.
E na escola do meu tempo não aprender não era um problema, quem não “tinha jeito para a escola, ia para o campo”. Quanto menos estudassem, menos perguntas e dúvidas teriam.
E na escola do meu tempo não se falava do lado de fora de Portugal. Do lado de dentro só se falava do Portugal cinzento e pequenino.
Na escola do meu tempo eu era avisado em casa para não falar de certas coisas na escola, era perigoso.
Quem mandava no país achava que muita escola não fazia bem às pessoas, só a algumas. Ao meu pai perguntaram porque me tinha posto a estudar depois da quarta classe, não era frequente naquele meio, para ser serralheiro como ele não precisava de estudar mais.
Sim, eu sei, não precisam de me dizer que a escola deste tempo tem muitas coisas, embora com outras vestes e discursos, que nos recordam a escola do meu tempo. Mas o caminho é melhorar a escola deste tempo não é, não pode ser, querer a escola do meu tempo.
Eu andei naquela escola lá para trás no tempo.
Por isso, quando falam da escola hoje, penso, nunca mais voltarei a andar naquela escola. E não quero que os meus netos e os outros miúdos andem numa escola como aquela, a minha escola, lá para trás no tempo.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A ALGAZARRA


Leio no DN.
Não percebi se a algazarra que obrigou à ameaça de interrupção dos trabalhos da  Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República aconteceu a discutir Educação ou a discutir Ciência.
Desconfio, até, que não terá sido a discutir uma coisa ou a outra, mais provavelmente discute-se, vocifera-se, cria-se “voziaria” em torno de um conjunto de manhosices mascaradas de políticas públicas.
De qualquer forma, são sempre episódios de recomendável e elevado teor pedagógico.

DAS CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO


A rede de Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens em Risco criada nos centros de saúde e nos hospitais do SNS sinalizou e acompanhou em 10 anos perto de 65 mil crianças e jovens em risco ou vítimas de maus tratos. A negligência e os maus tratos psicológicos são os comportamentos mais comuns. Esta rede funciona de forma articulada com as escolas e as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens.
Não sendo ainda conhecidos os dados relativos a 2018 recordemos o Relatório de Avaliação da Actividade das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens relativo a 2017.
As CPCJ acompanharam 69 967 crianças e jovens, menos 1049 que em 2016. Deste universo 837 crianças ou jovens têm algum tipo de deficiência ou incapacidade.
Duas notas para registar a elevada percentagem de famílias monoparentais, 35%, e de famílias reconstituídas, 12% e para a continuação do aumento da percentagem de agregados familiares com escolaridade ao nível de bacharelato ou ensino superior, 8% dos casos acompanhados em 2017.
Este conjunto de dados mostra como circunstâncias e estilos de vida de risco para as crianças e adolescentes nem sempre são atenuados pela formação escolar. Aliás, os dados de múltiplos estudos sobre a forma como estudantes universitários percebem a violência nas relações amorosas indicia o que poderemos encontrar e em futuros agregados familiares.
A tipologia das situações acompanhadas tem a distribuição que se tem verificado nos últimos anos cuja categorização foi alterada face ao relatório de 2016 envolveu Negligência, 40,8%, Comportamentos de perigo na infância e juventude, 18,3%, Situações de perigo que colocam em causa o direito à educação, 17,3%, Exposição à violência doméstica,12,5%.
Deve ainda considerar-se que nem todos os casos chegam às Comissões de Protecção ou aos Núcleos de Apoio a Crianças e Jovens em Risco o que torna o cenário ainda mais preocupante sendo que na sua esmagadora maioria são sinalizados por autoridades policiais e escolas.
Embora não possa ser estabelecida de forma ligeira nenhuma relação de causa efeito, as dificuldades severas que muitas famílias têm atravessado e a insuficiência de apoios sociais não serão alheias a muitas das situações de risco em que crianças e jovens estão envolvidos pois os estudos mostram que crianças e velhos constituem justamente os grupos mais vulneráveis.
De há muito, a propósito de várias questões, afirmo que em Portugal, apesar de existirem vários dispositivos de apoio e protecção às crianças e jovens e de existir legislação no mesmo sentido, sempre assente no incontornável “superior interesse da criança", não possuímos ainda o que me parece mais importante, uma cultura sólida de protecção das crianças e jovens como alguns exemplos que regularmente se conhecem evidenciam.
Por outro lado, as condições de funcionamento as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens que procuram fazer um trabalho eficaz estão ainda longe de ser as mais eficazes e operam em circunstâncias difíceis. Na sua grande maioria as Comissões têm responsabilidades sobre um número de situações de risco ou comprovadas que transcendem a sua capacidade de resposta. A parte mais operacional das Comissões, a designada Comissão restrita, é composta por muitos técnicos em tempo parcial. Tal dificuldade repercute-se, como é óbvio, na eficácia e qualidade do trabalho desenvolvido, independentemente do esforço e empenho dos profissionais que as integram.
Este cenário permite que ocorram situações, frequentemente com contornos dramáticos, envolvendo crianças e jovens que, sendo conhecida a sua condição de vulnerabilidade não tinham, ou não tiveram, o apoio e os procedimentos necessários. Ainda acontece que depois de alguns episódios mais graves se oiça uma expressão que me deixa particularmente incomodado, a criança estava “sinalizada” ou “referenciada” o que foi insuficiente para a adequada intervenção. Em Portugal sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver ou minimizar os problemas das crianças referenciadas ou sinalizadas.
Por isso, sendo importante registar uma aparente menor tolerância da comunidade aos maus tratos aos miúdos, também será fundamental que desenvolva a sua intolerância face à ausência de respostas.

terça-feira, 23 de abril de 2019

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Hoje, dia 23 de Abril, de acordo com o comemorativo calendário que organiza as nossas preocupações, cumpre-se o Dia Mundial do Livro.
Nunca é demais sublinhar a importância dos livros e dos hábitos de leitura na vida de crianças e adultos pelo que repesco umas notas recentes.
Marguerite Yourcenar em “As Memórias de Adriano” escrevia “A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana.
São múltiplos os estudos que sublinham o impacto dos livros e da leitura no trajecto escolar e no trajecto pessoal, como também são muitos trabalhos que mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em geral.
Os livros têm uma concorrência fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções, designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também sabemos todos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e atractiva dos "tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferente, papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Apesar dos esforços de muitos docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o apressado “copy, paste” ou resumos de leituras necessárias.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível. No entanto, felizmente, realizam-se com regularidade experiências muito interessantes em contextos escolares, em iniciativas autárquicas ou conjuntas.
Temos que criar leitores, eles irão à procura dos livros.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

AÍ ESTÁ O TERCEIRO PERÍODO


Cumprindo os tempos que ainda são os da esmagadora maioria das escolas, depois da Páscoa vai iniciar-se o terceiro período escolar. Para muitos alunos será o período da decisão, das decisões.
Uma boa parte dos alunos estará já "arrumada", ou porque convivem com um "chumbo"  anunciado ou porque terão boas perspectivas de sucesso, com excelência ou com suficiência. Para quase todos os outros o terceiro período é o da recuperação, dito de outra maneira, é o das explicações, a última tentativa para "salvar" o ano.
De facto, existe um grupo significativo de alunos dos quais se espera que recuperem o rendimento escolar de forma a salvar o ano, pelo que crescerá exponencialmente o recurso à velha "explicação", um importante nicho de mercado para professores, ex-professores, candidatos a professores ou simples curiosos que se dedicam à lucrativa arte. Aliás, ainda durante as férias de Páscoa que hoje terminam muitas crianças e adolescentes passaram já algum tempo nos centros de explicações. É preciso ir adiantando para garantir a "recuperação", a nota que permita “passar” ou dê acesso ao curso escolhido, pelo aluno ou pela família.
É também um período de promessas, "se passares, nós oferecemos-te ...", "se tiveres notas para entrar, terás ...". Chamam-se incentivos e providenciam, esperam os pais, uma ajuda extra à motivação para este terceiro período.
Para alguns alunos este terceiro período vai anteceder, espera-se que facilitando, uma mudança, de ciclo, de escola ou a por muitos desejada passagem para o ensino superior, esperemos que não desistam de estudar.
No fim do período uma parte dos alunos ainda vai realizar exames. Há que trabalhar e mostrar conhecimento e, dizem, os exames servem para evidenciar uma coisa e outra. Daqui decorre uma outra pressão para o recurso às explicações, vêm lá os exames e os pais e professores esperam, naturalmente, que os filhos ou os alunos façam "boa figura". Alguns pais, mais do que esperar ou desejar, exigem, o que torna vida mais difícil para alguns miúdos e que, em algumas situações, pode mesmo ser um contributo para mais dificuldades.
No entanto, para outros alunos, o terceiro período vai deixá-los mais perto do insucesso, da desmotivação, do abandono revoltado ou resignado. Eles terão falhado, mas não terão sido só eles, nós também.
Existe ainda um grupo de alunos que apesar de à luz de um novo paradigma e de uma onda de inovação vive dentro de espaços curriculares ou físicos que os podem “guetizar” e de quem também não se espera muito, são “adicionais”, são “selectivos”, são “redutores”, são outra qualquer designação muitas vezes começada em “dis”, que procuram sobreviver a ambientes que nem sempre são muito amigáveis e inclusivos apesar de algumas boas práticas que se saúdam e registam.
Na verdade, os próximos meses vão ser pesados, exigentes, apesar de haver quem entenda como fáceis os trabalhos dos alunos … ou dos professores.
Boa sorte e bom trabalho, para alunos, professores e pais.

domingo, 21 de abril de 2019

QUE QUERES SER QUANDO FORES VELHO?


Não, não é engano, é mesmo isso que queria escrever, não era que queres ser quando fores grande. Esta formulação talvez seja a pergunta que mais vezes é feita a miúdos e adolescentes. Acontece que os miúdos e adolescentes chegam a grandes, na sua grande maioria não são o que responderam à inevitável pergunta, mas a partir daí, estranhamente, ninguém mais pergunta ou se inquieta com o que um grande quer ser quando for velho. Acresce que hoje, felizmente, cada vez mais os grandes chegam a velhos.
Já sendo grande há uns bons anos e estando mesmo à beira da velhice, interrogava-me há pouco sobre que quero eu ser quando for velho.
Bom, gostava de ser velho, ou seja, existir enquanto velho e com a qualidade de vida física funcional.
Costumo dizer que um dos privilégios da velhice é ter histórias para contar por isso gostava de poder contar histórias. Gostava de contar histórias aos netos e a outra gente mais nova, já não para ensinar, ensinar é tarefa para grandes, pais e professores, não é para velhos, mesmo professores velhos. As histórias dos velhos são para ouvir e conversar, não são para aprender.
Outro privilégio que a velhice traz é assim uma espécie de inimputabilidade, podemos dizer e fazer coisas estranhas que as pessoas aceitam e dizem de forma condescendente, é velho, às vezes até acham graça. Deve ser bom poder dizer e fazer, quase, o que nos vem à cabeça. Quando for velho quero ser assim.
Quando for velho quero ter o tempo, não o tempo do dever, mas o tempo do querer, embora acredite que quando se é velho o tempo parece mais pequeno. Também gostava que os que foram pequenos ao pé de mim fossem permanecendo por perto mesmo que, eventualmente longe.
Não parece assim grande coisa, mas eu acho que os velhos só ligam ao essencial.

sábado, 20 de abril de 2019

MAIS FAMÍLIAS


Durante a manhã, andando na lida aqui no monte, limpeza de caminhos com a roçadora montada no tractor, pensava que para as notas de hoje iria tentar algo de positivo.
Uma vista de olhos pela imprensa e no meio do novo normal encontrei uma boa notícia. De acordo com o INE, em Portugal o número de casamentos cresce há quatro anos consecutivos.  
Estamos na Páscoa, uma época também ligada à família e é bom saber que as famílias estão a aumentar.
Espero que estas famílias sejam felizes. Não estou de acordo com Tolstoi quando afirma no “Anna Karenina” que “as famílias felizes parecem-se todas. As famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira”. Acho que nenhuma família, feliz ou infeliz se parece, são todas diferentes. Portanto ... caras famílias, casadas ou juntas, de todas as tipologias, sejam felizes à vossa maneira.
Por aqui, o tractor já me chama, ainda temos mais umas horas de trabalho para deixar os caminhos limpos de erva. Fica a do pasto e, por enquanto, a dos pomares para que as abelhas se aproveitem das flores e o meu amigo Manel ali da Vila Nova continue a ter um mel que dá vida nova a um chá.
Uma Páscoa Feliz.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

EL PAÍS E O SR. MINISTRO


Quando acontece referir a experiência que carrego digo que entrei com seis anos para a escola e nunca mais saí deste universo.
Estes 58 anos em diferentes funções e contextos têm-me permitido acompanhar o que tem sido a educação em Portugal nas últimas décadas, o muito que mudou, o muito que está por fazer, que de bom se faz e o que de mau não se consegue, não se quer ou não se pode corrigir.
São inúmeras as dificuldades e constrangimentos que escolas, professores, directores, técnicos e auxiliares sentem para tentar assegurar o direito à educação de qualidade para todas as crianças desta terra.
Entretanto, li a entrevista do Ministro da Educação ao EL PAÍS e senti que talvez tenha andado distraído. Mantém-se a narrativa de … somos os melhores, somos um estudo de caso de sucesso, devem aprender connosco, etc. Sim, é verdade e devemos reconhecer, temos resultados importantes e significativos em algumas áreas mas temos imensos problemas.
Uma referência à área que melhor conheço, a resposta educativa a alunos com necessidades educativas especiais, sim, é intencional a manutenção da designação. Já cansa a referência aos 97.5% de alunos assim considerados que estão nas escolas regulares o que mostra quanto as nossas escolas e a nossa educação é inclusiva.
Sim, é verdade, em muitas escolas se desenvolve trabalho que verdadeiramente promove inclusão em que os alunos são gente com direitos, estão com os seus colegas, participam nas actividades comuns da forma que conseguem e de acordo com as suas competências, capacidades e necessidades, sentem que pertencem à comunidade que os acolhe e aprendem, sim, aprendem.
No entanto, muitos outros, a percentagem que nunca se conhece, está colocados nas escolas mas não estão incluídos nem integrados, estão entregados.
Como já tenho dito, é incontornável, os políticos insistem em entender que a realidade é a projecção dos seus desejos. Não, não é.
Uma Páscoa Feliz.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

GORDINHOS E PARADINHOS OU A GORDURA QUE JÁ NÃO É FORMOSURA

Desculpem lá a insistência. Eu sei que o tempo de férias e a Páscoa não constituem a melhor das circunstâncias para falar dos excessos na alimentação. É verdade que não é só nesta altura, aliás, os tempos são todos de excessos, e o problema sendo sério em todas as idades mas é particularmente preocupante com os mais novos.
Dados agora divulgados do projecto em curso desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto envolvendo milhares de crianças mostram como a obesidade infantil continua a aumentar.
Com base na avaliação a mais de oito mil crianças da Área Metropolitana do Porto aos 4, 7 e 10 anos, verifica-se que aos 4 anos, 22% das crianças evidenciam excesso de peso e aos 10 anos é de 26%. Aos 4 anos 10% têm obesidade, aos 7 anos já serão 15% e aos 10 atingem 17%. Dada a natureza do problema, estas crianças serão muito provavelmente adolescentes e adultos com obesidade.
Estes dados estão em linha com estudos anteriores.
Em 2017, dados do Childwood Obesity Surveillance Initiative, que avalia a situação relativa à nutrição infantil, realizado em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, mostravam que 42,4% das crianças entre os 6 e os 8 anos ultrapassam o peso recomendado, 30,7% têm excesso de peso e 11,7% são obesas.
No mesmo sentido, temos os dados de um trabalho da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil realizado durante o ano lectivo de 2016/2017 envolvendo 17698 crianças, entre os 2 e os 10 anos, de escolas do continente, Madeira e Açores e realizado no âmbito de um projecto “Heróis da Fruta – Lanche Escolar Saudável, mostrou que 28.5% (mais de uma em cada quatro) têm excesso de peso, 12.7% são obesas. O estudo também mostrou que em algumas semanas de envolvimento no Projecto as alterações positivas foram positivas.
De facto e desde há algum tempo a o excesso de peso e obesidade infantil é já um problema de saúde pública.
Recordo o Relatório “Health at a Glance: Europe 2016” da OCDE, segundo o qual em Portugal mais de uma em cada quatro crianças tem excesso de peso. Nas raparigas ultrapassa os 30% e nos rapazes temos 25%.
Acresce que no que respeita à actividade física e considerando a recomendação da OMS de uma hora diária de actividade física aos 11 anos só 16% das raparigas e 26% dos rapazes cumprem e aos 15 anos temos 5% das raparigas e 18% dos rapazes.
Estes dados estão em linha com os de relatórios anteriores e com estudos nacionais sobre os hábitos alimentares e estilo de vida dos mais novos.
Recordo um trabalho, creio ser 2014, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto sugerindo que aos 4 anos mais 87% das crianças ultrapassa já “os valores toleráveis de sal” para a sua idade. Crianças com dois e “têm consumos alimentares nada saudáveis”, aos dois anos, por exemplo
O “EPACI Portugal 2012 – Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento na Infância”, mostrou que 31.4% das crianças portuguesas entre os 12 e os 36 meses apresentam excesso de peso e 6.5% situações de obesidade.
A Direcção-Geral de Saúde e o ME têm vindo a determinar que nas escolas alimentos hipercalóricos, como doces ou bolos, não sejam expostos, devendo ficar visíveis aos olhos dos alunos os alimentos considerados mais saudáveis em como estão em curso medidas no sentido de baixar a publicidade a alimentos e bebidas com maior carga calórica.
Um estudo divulgado de 2015 da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, encontrou 17% de rapazes e 26% de raparigas de quatro anos, sublinho, quatro anos, com excesso de peso e obesidade e níveis de colesterol elevados, um cenário verdadeiramente preocupante e de graves consequências futuras como já se verifica com o disparar de casos de diabete tipo II em crianças. 
Apesar de parecer uma birra ou teimosia acho sempre importante sublinhar a importância que deve merecer a questão dos hábitos alimentares e o combate ao sedentarismo, sobretudo nos mais novos.
No que respeita à actividade física, um trabalho da Universidade de Coimbra divulgado em 2013 sublinhava, mais uma vez, o impacto que o sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos fortemente sedentários, ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde e bem-estar dos miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da Faculdade de Motricidade Humana envolvendo cerca de 3000 alunos que evidenciava o efeito positivo da actividade física no rendimento escolar para além dos benefícios óbvios na saúde.
Também em 2012, um trabalho divulgado na Lancet referia que em Portugal, entre os adolescentes, dos 13 aos 15, quatro em cada cinco não são fisicamente activos.
As consequências potenciais deste quadro em termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de programas de prevenção, educação e remediação que o combatam. Provavelmente, teremos algumas reacções contra o chamado “fundamentalismo nos hábitos individuais” mas creio que são também de ponderar as implicações colectivas e sociais do problema.
No entanto, como sabemos, o excesso de peso e os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das miúdos e graúdos nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de diferentes formas, com isso.
Eu sei que à escola não compete tudo. Não pode, nem deve ser responsável por todos os problemas que afectem a população em idade escolar. Sei, sabemos, no entanto, que pela educação é que vamos lá.
Uma Páscoa Feliz com muita brincadeira, pouco açúcar e sem demasiadas calorias.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

DA HISTÓRIA E DA RESISTÊNCIA


Como diria António Variações, olhar para trás, pensamento em frente.
A data de 17 de Abril de 1969 dirá coisa nenhuma à esmagadora maioria dos actuais alunos do ensino superior.
Brevemente, naquele dia o então Presidente da República Américo Thomaz e o Ministro da Educação José Hermano Saraiva estavam em Coimbra para inaugurar o novo edifício do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra.
A sua chegada à cidade já tinha sido já objecto de protestos significativos e no final do discurso de inauguração o Presidente da Direcção-geral da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins que viria a ser um elemento de peso no PS em cima de uma cadeira afirma pede a palavra em nome dos estudantes de Coimbra. Como era hábito naquele tempo, foi-lhe recusada e os protestos e a consequente repressão atingiram enormes proporções.
Estávamos no começo da Crise Académica de 1969, uma sucessão de acontecimentos que marcaram aquele tempo cinzento, de chumbo.
Os tempos que correm dão sentido ao relembrar da história e à necessidade de resistir à recuperação e divulgação de ideias e valores que não queremos.
Num tempo em que o peso da História na formação dos mais novos parece estar a ser revisto em baixa, fascismo nunca mais, cá ou em terra alguma.

terça-feira, 16 de abril de 2019

AINDA OS 9A4M2D


Volta hoje ao Parlamento a discussão sobre os mais famosos 9A4M2D da nossa história. Será discutida de novo a questão do tempo de serviço “congelado” na carreira dos professores devido aos pedidos de apreciação de diferentes partidos e ao agendamento da discussão de uma proposta vinda da chamada sociedade civil.
A ver vamos mas parece certo que a proposta apresentada no âmbito de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos fora da esfera de influência dos aparelhos sindicais ou partidários será “chumbada. Como se sabe a partidocracia não se dá bem com as iniciativas da designada sociedade civil que escapam ao seu controlo embora sempre a convoquem para a sua retórica.
Julgo também que muito provavelmente a decisão será empurrada para frente com as diferentes bancadas a fazer contas não ao custo da medida, nunca esclarecido de forma cabal pelo ME, mas aos eventuais custos eleitorais da sua posição e, apenos por isso, alguma curiosidade.
Nesta equação há ainda que considerar o peso que poderá ter as decisões já tomadas nos Açores e Madeira sobre a mesma matéria.
Nada de novo, portanto.
Veremos.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

QUALIFICAR E CERTIFICAR


Será hoje apresentado um balanço dos dois primeiros anos da iniciativa Qualifica integrado integrada no Programa Integrado de Educação e Formação de Adultos destinado aos que “não tiveram oportunidade de estudar no tempo mais natural, mas também àqueles que, ainda sendo jovens, não conseguiram completar a escolaridade obrigatória”.
A meta estabelecida foi a qualificação de 600 000 adultos até 2020. Segundo a imprensa nestes dois anos 315 mil pessoas inscreveram-se nos 300 Centros em funcionamento 315 000 pessoas o que supera o objectivo definido.
A qualificação e formação de adultos é ainda uma das grandes prioridades portuguesas pelo que estes dados são uma boa notícia. Cerca de 55% da população não tem o ensino secundário completo com consequências muito significativas em sociedades marcadas pelo conhecimento e avanço tecnológico.
A qualificação é um bem de primeira necessidade e a melhor forma de combater exclusão e pobreza.
Representam ainda uma recuperação pois nos últimos anos tinha-se verificado um forte abaixamento nos dispositivos e recursos alocados à educação permanente ou aprendizagem ao longo da vida.
Não tenho informação que me permita pensar o contrário, mas espero que o processo em curso seja de facto de qualificação e de reconhecimento processos de reconhecimento, validação e certificação de competências e não uma “certificação” que compõe estatísticas.
Ainda recordo o Programa Novas Oportunidades que partindo de uma fortíssima necessidade e de um conjunto de princípios correctos, se transformou num enorme equívoco devido a uma enorme pressão “certificadora” que confundiu “certificação” com qualificação” apesar do esforço e dedicação de muitos profissionais envolvidos que eram pressionados para objectivos de “certificação”.
Como disse, espero que os números agora anunciados se traduzam em reais processos de qualificação ou de reconhecimento, validação, certificação de competências efectivamente demonstradas e que se resista à tentação de trabalhar para a “estatística”, instalando um fingimento de formação e certificação de competências que promovendo certificação não promove qualificação.

domingo, 14 de abril de 2019

A TERRA DOS MALABARISTAS


Era uma vez uma terra, aquela terra de que às vezes falo e onde acontecem coisas, em que havia muitos Malabaristas, bons Malabaristas.
Os Malabaristas daquela terra tinham-se especializado em várias artes dentro do malabarismo e existiam em todas as áreas de actividade.
Havia um grupo muito bom nos malabarismos com as palavras. É verdade, deixavam a gente espantada, os Malabaristas das Palavras pegavam nelas e davam-lhes tantas voltas que elas diziam uma coisa e passado pouco tempo já diziam outra, e logo depois significavam ainda outra coisa. Eram uns verdadeiros artistas com as palavras, faziam delas o que queriam para elas dizerem o que lhes apetecesse.
Havia também um grupo que fazia autênticos milagres com a verdade, com as verdades. As coisas nunca eram o que pareciam, os Malabaristas da Verdade, conseguiam que qualquer coisa que toda gente via de uma maneira fosse referida como sendo de outra. Algo que de manhã era verdade, nas mãos dos Malabaristas deixava de o ser e eles com as suas habilidades mostravam a verdade que entendiam e que depressa deixava de o ser substituída por outra verdade diferente.
Na terra dos Malabaristas também existia um conjunto de Malabaristas dos Números, verdadeiros artistas a manipular números. Quando toda a gente estava convencida que os números contavam uma história simples, os Malabaristas dos Números davam-lhes umas piruetas e os mesmos números contavam outra história ou então organizavam os número de forma a contar a história que os Malabaristas queriam contar. Eram mesmo bons a mexer nos números.
Os Malabaristas estavam tão convencidos da sua arte que se achavam reis daquela terra. Mas as gentes estavam mesmo fartas dos Malabaristas, de todos os Malabaristas daquela terra. Um dia os Malabaristas irão perceber.


PS - Qualquer eventual semelhança com cenários reais ... não é pura coincidência. Estou cansado de malabaristas.

sábado, 13 de abril de 2019

DO HORROR


A fotografia de Yanela Sanchez a chorar na fronteira dos EUA, a fotografia de Omran, 5 anos, em Alepo dentro de uma ambulância em 2016 a fotografia de Aylan, três anos e também sírio, morto numa praia turca, a fotografia de … deveriam ser motivo para que a gente que manda no mundo não dormisse.
O pânico e a perplexidade percebidos nesta miúda são um murro violento num mundo que não a soube proteger nem alimentar um sonho.
Como já tenho escrito faltam palavras para falar do horror e da barbaridade que vão acontecendo e cada vez mais perto de nós.
A merda de lideranças actuais da generalidade dos países que põem e dispõem no xadrez do poder mundial e de tantos outros subservientes e submissos que, em muitos casos, de pessoas não sabe nem quer saber, permite, sem um sobressalto e com palavras que de inócuas são um insulto, que se assista à barbaridade que as imagens, os relatos mostram e o muito que se imagina mas não se vê.
Apesar da complexidade é evidente para toda a gente com um pouco de senso que tudo isto decorre de uma obscura teia de interesses que flutuam com as circunstâncias em que se combate alguns para depois apoiar esses alguns ao sabor dos movimentos da luta pelo poder, pelos diferentes poderes.
Crescem muros, morre gente inocente, milhões de vidas destruídas, a barbaridade estende-se, o horror é imenso e, por vezes, nem a retórica da condenação é convincente e muitos menos, evidentemente, eficaz.
A questão é séria, os ventos sempre semeiam tempestades e as tempestades num mundo global não ficam confinadas nos epicentros.
Não existe terror mau e terror bom. Não existe horror mau e horror bom. Não existe terrorismo bom e terrorismo mau, não existe democracia sem direitos humanos.
Como é possível que tal horror aconteça e tanta gente com responsabilidades assobie para o ar e se fique pelas palavras de circunstância?

sexta-feira, 12 de abril de 2019

DOS PROFESSORES


Conforme é habitual sempre que abre um concurso para admitir no quadro do ME professores que já desempenham funções como contratados, ou seja, “descartáveis”, o número de candidatos é muitíssimo superior ao número de vagas a concurso. Este ano, para 542 contabilizam-se mais de 50 000 candidaturas a que não corresponde exactamente ao número de candidatos pois alguns docentes podem leccionar diferentes disciplinas.
Importa sublinhar que a generalidade destes docentes possui uma enorme experiência de trabalho sempre em regime descartável, sujeito a avaliação e com horários completos.
A média de idades dos que agora procuram encontrar finalmente alguma estabilidade é elevadíssima contando-se 353 docentes com mais de 60 anos.
Esta situação é mais uma preocupante evidência da deriva que tem sido a gestão do número de professores necessários ao sistema educativo. Como já tenho referido, parece claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento adequado do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, tudo o que tem faltado. 
Nos últimos anos muitos milhares de professores foram empurrados para fora do sistema frequentemente com base na baixa da demografia escolar que sendo real não explica o êxodo que se verificou. Boa parte dos docentes saiu por desânimo, cansaço, desvalorização profissional, etc.
Por outro lado temos uma classe docente ainda no activo que está envelhecida e profundamente desgastada.
Recordo um trabalho recente da OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” que sublinha algo que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE, o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como já escrevi, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Alguns indicadores do relatório “Perfil do Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência relativo ao ano 2016/2017 e base da informação da OCDE.
No universo da educação pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%, enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398 docentes dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais, 53%.
No 3º ciclo e secundário, em 63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou mais, 48%.
Um outro indicador, a idade média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no 2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
No ensino privado o perfil de docentes no que respeita à idade é menos envelhecido.
Importa ainda reconhecer que diferentes trabalhos têm evidenciado uma classe níveis críticos de exaustão emocional e um número elevado de docentes em situação de baixa médica.
Este é um cenário verdadeiramente preocupante.
Por outro lado e por várias razões, como seria previsível começa a notar-se a falta de docentes em alguns grupos disciplinares, muitas escolas têm experimentado dificuldades em colmatar vagas ou substituições
Apesar da justiça de que se reveste a entrada nos quadros de professores e esperamos que ela seja mesmo justa, creio que continua a acentuar-se a imprescindível e urgente necessidade de renovar a classe docente.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida, cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te falta?"

quinta-feira, 11 de abril de 2019

GOSTAR E PRECISAR

De uma forma geral, as crianças, independentemente das suas capacidades de comunicação, dizem-nos e mostram mais facilmente o que gostam do que daquilo que precisam. Parece claro. No entanto, algumas vezes gostam do que precisam mas ... nem sempre é assim.
Muitos adultos sabem do que elas precisamos mas dão-lhes o que elas gostam acreditando que elas são capazes de construir por si o que precisam. Às vezes, muitas vezes, não é assim e é arriscado acreditar.
Muitos adultos, sabendo o que elas precisam tentam e frequentemente conseguem que elas também gostem.
Quando assim acontece fica tudo bem mais fácil, em casa e na escola, no comportar ou no aprender.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

OS TEMPOS DA ESCOLA


A imprensa de hoje refere a experiência em desenvolvimento nas escolas do concelho de Odivelas da organização do ano escolar em semestres e não como habitualmente em três períodos. Outros agrupamentos e escolas do país também seguem esta organização e no caso de Odivelas a avaliação parece ser positiva pelo que assim deverá continuar a acontecer. O ME admite que com base na avaliação das experiências em desenvolvimento possa acontecer que ao abrigo da autonomia das escolas se alargue a utilização deste modelo.
Como é sabido um dos argumentos que sustenta a semestralização no ensino básico e secundário prende-se com a dependência da definição dos períodos escolares de uma festa móvel, a Páscoa, o que condiciona fortemente o calendário criando regularmente uma assimetria que é pouco amigável para o trabalho de professores e alunos.
Também neste ano lectivo a duração dos períodos está desequilibrada levando em que em anos de exame o terceiro período tenha cerca de um mês útil de aulas.
Já em 2016 a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas sustentava que a organização do ano lectivo deveria ser em dois semestres e não em três períodos como actualmente. A proposta, afirma, minimizaria os efeitos das assimetrias de duração entre os períodos, seria positiva para a organização das escolas e a existência de dois intervalos de avaliação dos alunos é mais positiva em termos escolares que o modelo actual embora, do meu ponto de vista, a questão da avaliação não se reduza ao “número de momentos” mas a todo o processo tal como estará a ser considerado no projecto de Odivelas.
Julgo e também já o tenho afirmado que esta questão deveria ser repensada. Aliás, os tempos da escola justificariam ser globalmente repensados.
Se bem se recordam, também em 2016 o blogue ComRegras promoveu em 2016 um inquérito dirigido a directores de escolas e agrupamentos no qual 54.1% dos 181 directores que responderam concordava que o ano escolar seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas.
Como já tenho referido, não tenho uma posição fechada e fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa organização em três períodos a situação que suscita mais dúvidas é o desequilíbrio que frequentemente se verifica na duração dos períodos e que se repete de forma muito evidente no próximo ano lectivo.
Parece claro que esta situação não é a mais adequada e julgo ser de considerar um modelo semestral embora mesmo no modelo actual e sabendo que não é fácil mudar a tradição, mudar nunca é fácil, talvez fosse de tentar que o calendário escolar não esteja colado a festividades móveis.
No entanto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores, avaliando as experiências em desenvolvimento e as suas implicações, designadamente nos processos de avaliação, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro período (ou de cada semestre) modelo existente em vários países e que em Odivelas também acontece.
Creio mesmo que seria desejável que pudéssemos reflectir de forma global os tempos da escola considerando outros aspectos como a organização de anos e ciclos, o número de disciplinas ou áreas disciplinares, o tempo de estadia dos alunos no contexto escolar, etc.
Considerando este último aspecto recordo que a Confap já tem defendido onze meses de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério e que reconheço, também entendo que não pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
Neste contexto, parece-me interessante que se reflicta sobre os tempos da escola e os tempos na escola.

terça-feira, 9 de abril de 2019

UMA HISTÓRIA FELIZ

É a história de um rapaz chamado Tiago que vive numa família com o pai João, a mãe Maria e a irmã Filipa. Não muito longe vivem os avós António e Luísa que o Tiago e família visitam semanalmente.
O Tiago é um excelente aluno na escola pública da zona onde moram tendo passado de ano com notas muito boas tal como a irmã Filipa, também ela boa aluna da mesma escola. O Tiago e a Filipa praticam desporto fora da escola e colaboram nas acções sociais da paróquia destinadas a ajudar as pessoas mais necessitadas. Gostam particularmente de participar nas campanhas de recolha de géneros alimentares, tendo, aliás, um jeito imenso para persuadir as pessoas a ajudar.
O pai João e a mãe Maria são pais atentos que sabem estabelecer as regras e os limites que de forma tranquila são aceites pelos filhos. Conversam regularmente entre si, trocando pontos de vista e opiniões sobre que se vai passando na família e no mundo.
Aos fins-de-semana, quase sempre fazem um passeio, que tanto pode ser ao ar livre, uma caminhada ou uma volta de bicicleta no parque, como uma ida a um espectáculo, exposição ou museu.
O Tiago e a Filipa são miúdos tranquilos com muitos amigos que lhes enchem a casa em cada festa de anos.
A família consegue sempre ter um tempo para umas férias em conjunto, mesmo sem serem luxuosas, onde ainda mais conversam e brincam e em que arranjam sempre novos amigos.
Já estão a planear entusiasmados as próximas férias e pensam que este ano vão levar o avô António e a avó Luísa que nunca passaram uns dias na praia.
Finalmente, há quanto tempo não escrevia uma história feliz.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A INDÚSTRIA DO SUCESSO ESCOLAR


Os alunos do ensino básico e do secundário iniciam hoje as férias da Páscoa. No entanto, muitos alunos terão as suas férias escolares bem preenchidas por … actividades escolares, vamos entrar na época alta das “explicações”.
De facto, um passeio pelas proximidades das escolas mostra a abundância da oferta de ajudas fora da escola, antes conhecidas por “explicações” e agora com designações mais sofisticadas como “Centro de Estudos”, “Ginásios”, etc., que, provavelmente, terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”. Ainda temos a oferta mais personalizada, as “explicações” em casa dos explicadores. O mercado está sempre atento
Desde o início do ano lectivo mas sobretudo a partir das férias da Páscoa é frequente o aumento significativo à ajuda externa visando a “recuperação” para o terceiro período e, sobretudo, a preparação para os exames.
Face à reversão, como agora se diz, na realização de exames do 1º e 2º ciclo e a reintrodução das provas de aferição, designação incorrecta pois não são de aferição quando realizadas a meio do ciclo, tem-se verificado no ensino básico um abaixamento da procura deste tipo de apoios mas que ainda assim e apesar das dificuldades das famílias se mantém em alta, sobretudo no secundário.
Apesar de nada ter contra a iniciativa privada desde que regulada e com enquadramento legal, várias vezes tenho insistido no sentido de entender como desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem dentro do sistema.
Esta minha posição radica no entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e da falta de equidade como tem sido regularmente sublinhado, por exemplo, em relatórios da OCDE.
Recordo estudos realizados pelo CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos que evidenciam algo de muito significativo apesar de bem conhecido e reconhecido, nove em cada dez alunos com insucesso escolar são de famílias pobres.
A ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias pelo que é fundamental que as escolas possam dispor dos dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos.
A substituição dos exames pelas provas de aferição não altera esta necessidade imperiosa, antes pelo contrário, torna-a ainda mais pertinente para que se possam corrigir e apoiar ao longo dos vários ciclos as dificuldades de alunos e professores.
O abaixamento verificado na procura que alguma imprensa divulga talvez traduza a menor importância atribuída pelas famílias às provas de aferição e às suas próprias dificuldades económicas.
As necessidades dos alunos poderiam ser atenuadas com o recurso a professores que já estão no quadro ou com contratos sucessivos. Também por estas razões a narrativa dos professores a mais é ... isso mesmo, uma narrativa que, aliás, começa a ficar evidente com a dificuldade contratação de docentes em diferentes escolas durante os primeiros meses do ano lectivo.
De uma vez por todas, é necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa há investimento.

domingo, 7 de abril de 2019

IMPERMEÁVEL E RESPIRÁVEL


Dado que este fim-de-semana não foi lá para os lados do Alentejo e como procuro fazer todos os dias que posso, saí cedinho para minha caminhada, o tempo da corrida acabou há três anos, a coluna já não é o que era mesmo depois da cirurgia.
Estava ainda uma chuvinha leve abençoada nestes tempos feios de seca. Não resolve se não passar disto mas ainda assim alegra.
Apesar de ser daquela chuva que dizem que só molha tolos a minha auto-estima treme porque acho que molha mesmo.
Acontece que certamente, com custos ambientais, inventaram umas fibras que sendo praticamente impermeáveis se mantêm respiráveis e que nos permitiram dispensar aqueles casacos mais clássicos em nylon que quando não metiam água da chuva por fora, nos deixavam encharcados por dentro devido ao efeito de sauna.
Satisfeito com esta cómoda solução têxtil e embalado pelo passo lento, lembrei-me de repente como seria interessante que se inventasse uma forma de proteger a vida dos miúdos das intempéries que alguns deles têm à volta e tornar a vida um pouco mais confortável. Poderia ser criado um dispositivo de protecção que fosse quase impermeável às agruras dos tempos maus, protegendo-os das mais pesadas pois também é preciso passar por algumas e que, ao mesmo tempo, fosse respirável, ou seja, não fosse um dispositivo que os mantivesse numa redoma estanque e os asfixiasse, mas sim algo que lhes permitisse continuar a respirar, a viver. Um dispositivo desta natureza seria um bem precioso.
Mas esta é uma ideia completamente disparatada que seguramente foi motivada pela água que entretanto fui apanhando na cabeça. Quem me mandou andar à chuva.

sábado, 6 de abril de 2019

CRIANÇAS ONLINE


Durante a semana a imprensa divulgou um trabalho merece atenção. Um grupo de pediatras Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas com a colaboração de uma médica de família e de 152 alunos de 6º ano de duas escolas de Cascais, estudou a relação estabelecida com consolas, smartphones e videojogos.
O trabalho decorreu da frequência com que nas consultas de pediatria os pais revelam dificuldades e receios face à ligação dos filhos com consolas e smartphones o ambiente dos videojogos.
Apesar de algumas limitações do estudo os dados divulgados em artigo na Acta Médica Portuguesa sugerem algo que também tem sido constatado noutros trabalhos, os riscos são óbvios e os problemas estão presentes.
A maioria das crianças refere gastar menos de duas horas por dia a jogar. No entanto, 19,2% referiram uma utilização diária entre duas a três horas e 9,9% jogavam mais de quatro horas por dia durante a semana. Durante o fim-de-semana, 17,1% das crianças referiu jogar duas a três horas diárias e 24,3% mais de quatro horas por dia. A maioria, 70,9%, refere jogar sozinho enquanto 58,8% o faz com amigos. Fora deste estudo está o conteúdo dos videojogos, um factor importante desta complexa equação.
Considerando os critérios definidos no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), a referência mundial no âmbito da saúde mental 3,9% das crianças inquiridas revelaram comportamentos típicos de dependência e um terço (33,3%) foram consideradas em risco.
Apesar de, tal como os autores referem, ser necessária alguma prudência na extrapolação, os indicadores são preocupantes e, como já referi em linha com outros trabalhos envolvendo as mesmas questões.
Para além da discussão em aberto sobre os conteúdos dos videojogos e o seu impacto em crianças e adolescentes a questão central colocada é a quantidade de tempo usado pelas crianças nesta “actividade”.
De facto, muitos de nós, especialistas ou não, inquietamo-nos com o tempo excessivo que muitas crianças e adolescentes passam sós, ou com outros "sós" do outro lado, agarradas a um ecrã, numa espécie de teledependência e correndo, afirmam alguns especialistas um risco de um comportamento aditivo com consequências importantes no seu bem-estar e na vida familiar.
Também na minha experiência com pais são cada vez mais frequentes as referências a dificuldades e busca de apoio e orientação. Também não adianta pensar que só acontece aos outros. Pode, sem nos darmos conta, estar a instalar-se de mansinho numa criança ou adolescente perto de nós.
Recorrendo a dados do projecto europeu EuKids Online, 2018, o uso continuado da Internet repercute-se em 45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer, falhar nos trabalhos de casa ou deixar de socializar.
Neste quadro, julgo merecer particular atenção o impacto que esta utilização demorada tem no desenvolvimento de crianças e adolescentes, designadamente nos hábitos e saúde do sono.
Comer faz bem às crianças, mas comer excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de saúde. Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar o produto.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais, alguns deles com níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as implicações sérias na vida diária e que só estratégias proibicionistas não são muito eficazes, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

AGRESSÕES A PROFESSORES. Enésimo episódio


Andam negros os tempos para os professores.
As notícias sobre agressões a professores, cometidas por alunos ou encarregados de educação, vão chegando com alguma frequência à comunicação social.
Desta vez aconteceu numa escola básica do concelho do Porto. Um aluno de 12 anos depois de ter sido admoestado pelo professor por ter partido uma lâmpada da sala com uma bola reagiu mal e agrediu severamente o docente não antes e, curiosamente, ter telefonado ao pai apesar da proibição de recurso ao telemóvel na sala de aula.
Algumas notas que apesar de repetidas, ainda no início de Março aqui referi um outro episódio, a agressão a uma professora realizada por uma encarregada de educação, me parecem ainda justificadas dada a frequência e gravidade destes episódios. Esta questão, embora sempre objecto de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e de análise pouco compatível com um espaço desta natureza.
Começo por uma breve reflexão em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade, que me parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente, responsabilidades acrescidas e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da percepção social de autoridade dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais.
Esta fragilização tem, do meu ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais.
Finalmente, importa considerar, creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.
É ainda fundamental que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de punição e responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.