quarta-feira, 10 de abril de 2019

OS TEMPOS DA ESCOLA


A imprensa de hoje refere a experiência em desenvolvimento nas escolas do concelho de Odivelas da organização do ano escolar em semestres e não como habitualmente em três períodos. Outros agrupamentos e escolas do país também seguem esta organização e no caso de Odivelas a avaliação parece ser positiva pelo que assim deverá continuar a acontecer. O ME admite que com base na avaliação das experiências em desenvolvimento possa acontecer que ao abrigo da autonomia das escolas se alargue a utilização deste modelo.
Como é sabido um dos argumentos que sustenta a semestralização no ensino básico e secundário prende-se com a dependência da definição dos períodos escolares de uma festa móvel, a Páscoa, o que condiciona fortemente o calendário criando regularmente uma assimetria que é pouco amigável para o trabalho de professores e alunos.
Também neste ano lectivo a duração dos períodos está desequilibrada levando em que em anos de exame o terceiro período tenha cerca de um mês útil de aulas.
Já em 2016 a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas sustentava que a organização do ano lectivo deveria ser em dois semestres e não em três períodos como actualmente. A proposta, afirma, minimizaria os efeitos das assimetrias de duração entre os períodos, seria positiva para a organização das escolas e a existência de dois intervalos de avaliação dos alunos é mais positiva em termos escolares que o modelo actual embora, do meu ponto de vista, a questão da avaliação não se reduza ao “número de momentos” mas a todo o processo tal como estará a ser considerado no projecto de Odivelas.
Julgo e também já o tenho afirmado que esta questão deveria ser repensada. Aliás, os tempos da escola justificariam ser globalmente repensados.
Se bem se recordam, também em 2016 o blogue ComRegras promoveu em 2016 um inquérito dirigido a directores de escolas e agrupamentos no qual 54.1% dos 181 directores que responderam concordava que o ano escolar seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas.
Como já tenho referido, não tenho uma posição fechada e fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa organização em três períodos a situação que suscita mais dúvidas é o desequilíbrio que frequentemente se verifica na duração dos períodos e que se repete de forma muito evidente no próximo ano lectivo.
Parece claro que esta situação não é a mais adequada e julgo ser de considerar um modelo semestral embora mesmo no modelo actual e sabendo que não é fácil mudar a tradição, mudar nunca é fácil, talvez fosse de tentar que o calendário escolar não esteja colado a festividades móveis.
No entanto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores, avaliando as experiências em desenvolvimento e as suas implicações, designadamente nos processos de avaliação, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro período (ou de cada semestre) modelo existente em vários países e que em Odivelas também acontece.
Creio mesmo que seria desejável que pudéssemos reflectir de forma global os tempos da escola considerando outros aspectos como a organização de anos e ciclos, o número de disciplinas ou áreas disciplinares, o tempo de estadia dos alunos no contexto escolar, etc.
Considerando este último aspecto recordo que a Confap já tem defendido onze meses de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério e que reconheço, também entendo que não pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
Neste contexto, parece-me interessante que se reflicta sobre os tempos da escola e os tempos na escola.

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