sexta-feira, 31 de julho de 2009

O PROGRAMA

É frequentemente referido e assumido que a esmagadora maioria dos cidadãos que votam em processos eleitorais políticos não o fazem após a leitura atenta e aprofundada dos programas políticos em discussão. Também se sabe que muitos dos que não votam assumem essa atitude por falta de confiança na classe política. Dito isto fica estranho alarido que por aí com a apresentação do programa do PS e a falta de programa do PSD. Se os programas não servem para decidir as eleições para que raio perder tempo com tal matéria? Pois é, faz parte da liturgia, o Programa. E de facto, estranhar-se-ia um acto eleitoral sem programas.
Nesta perspectiva e porque a minha idade já só me permite a simplicidade, deixo aqui uma telegráfica proposta de Princípios Essenciais para um Programa Político.

1 – Seriedade e Transparência
2 – Escuta e Atenção
3 – Realismo e Economia
4 – Competência e Comunicação
5 – Confiança e Optimismo
6 – Justiça e Equidade
7 – Solidariedade
8 – Respeito e Bem-estar

Está bem, pronto, eu sei, é um devaneio de férias

quinta-feira, 30 de julho de 2009

FÉRIAS

E pronto, férias. É verdade que o meu trabalho, por natureza, necessidade e gozo, solicita alguma actividade neste Agosto, o tempo dedicado às férias. Aliás, costumo dizer aos mais novos que têm a generosidade de me desejar boas férias, que na minha idade já não temos férias, trata-se, felizmente, acrescento, de repouso activo. Riem-se, poupam-me à explicação mas acho que um dia vão entender.
Ainda sobre as férias e com uma ponta de provocação para ter pretexto para conversas de verão, vou mais longe, afirmo que, muitas vezes, estar de férias é uma questão de atitude. Passo a explicar. Todos nós conhecemos imensa gente que chegando as férias desata numa agitação sem fim procurando, dizem, o que não têm em tempo de trabalho. Ganham stress em deslocações, filas de espera para tudo, calor, fechadas em grupos e em locais cheios de gente igualmente stressada. No fim deste tempo que voa estão tão cansados que só aguentam tal situação acreditando que tiverem umas férias “fantásticas”. Ainda bem. Provavelmente precisariam de umas férias para descansar das férias.
Por outro lado, também conhecemos pessoas que, sorte a sua, têm uma relação tranquila com a sua vida e com o seu trabalho, atitude que mantêm quando o trabalho se interrompe e quando algumas rotinas mudam.
Daí a ideia de que estar de férias é uma questão de atitude.
Boas férias.

DESPERDÍCIO

A partir da constatação dos efeitos devastadores da crise que se instalou, começaram a emergir alguns discursos no sentido de que estes efeitos poderiam ter um efeito positivo no sentido de alterações nos modelos de desenvolvimento económico e mesmo nos comportamentos individuais, designadamente, na relação com a poupança.
Neste quadro pode acontecer que também se verifiquem mudanças numa área para a qual há muito que reclamo atenção, o desperdício. É verdade, o desperdício é um dos mais gigantescos sugadouros de recursos, praticamente um poço sem fundo. O desperdício de que estou a falar está para além dos recursos financeiros e do melhor aproveitamento de recursos materiais. Estou a falar por exemplo de tempo, um bem de primeira necessidade, que se desperdiça em inutilidades, por má gestão ou organização, que se dedica a discussões estéreis e ruidosas seja em reuniões improdutivas ou em debates inconclusivos por incompetência, demagogia ou intenção.
Estou a falar do desperdício de competências e de pessoas que, por falta de oportunidade ou de políticas ajustadas, públicas ou privadas, são completamente subaproveitadas.
Lembro-me também de algo a que costumo chamar de “agitação improdutiva” que envolve muitíssimas situações de pessoas que aos mais diversos níveis e em diferentes circunstâncias se empenham, se esforçam, mas com baixos níveis de qualidade e rentabilidade por má gestão ou organização penalizadora das pessoas e das instituições.
Enfim, são múltiplos os exemplos de desperdício e são ainda mais e mais graves as consequências desta espécie de cultura instalada.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

POBRES E MAL AGRADECIDOS

Uma banda larga que não é tão larga como gostaríamos, refiro-me à “largueza” da cobertura, só agora me permite aqui deixar o meu repúdio pela frieza e até a maledicência que mereceu a proposta divulgada hoje pelo PS, a incluir no seu programa eleitoral, de atribuir 200 € a cada criança nascida em Portugal para a constituição de uma conta-poupança a movimentar quando o petiz chegar aos 18 anos e que, segundo estimativa da DECO, renderá então pouco mais de 500 €, repito, a receber daqui a 18 anos.
Esta gente, pobre e mal agradecida, que só está bem a dizer mal, sabe que atravessamos uma crise severa de demografia com os nascimentos em baixa, com problemas de sustentabilidade a prazo da segurança social por abaixamento da mão-de-obra activa pagante de impostos e recebe de forma tão deselegante, no mínimo, uma medida com tanto potencial.
Nunca alguém, alguma vez, foi tão longe em matéria de incentivo à natalidade, com tamanha generosidade e impacto na vida das famílias. Mal se aguenta a espera, fazer um filho agora, vê-lo crescer e, como prenda das 18 primaveras, aí está, a conta poupança oferta do Eng. Sócrates.
Temo que, caso o PS ganhe e cumpra a promessa, outra dúvida, tenhamos que reabrir as maternidades entretanto fechadas. O empenhamento das famílias portuguesas e o nível de produtividade que nos caracteriza irão certamente entupir as salas de parto.
Chegou a “silly season”.
E que tal mexer na carga fiscal, por exemplo nas deduções?

O RAPAZ QUE NÃO GOSTAVA DE PRESENTES

Era uma vez um Rapaz que fazia anos naquele dia. Como muitas vezes acontece as famílias, algumas famílias, aproveitam o pretexto dos aniversários, montam uma festa, juntam-se e parecem uma família. Acaba a festa, volta cada um a seu canto até à próxima festa. Estes eventos, têm a vantagem, sobretudo para os mais pequenos, de fazer parte do ritual das festas as prendas, os presentes. Naquela também assim acontecia. No entanto, contrariamente, ao que toda agente esperava, é para isso que se dão presentes, o Rapaz reagia a cada presente de forma pouco entusiasta, com um ar algo decepcionado. Por embaraço as pessoas não comentavam o comportamento do Rapaz mas remetiam-na para aquela ideia habitual de que hoje em dia os miúdos já têm tudo e não ligam nada, nunca ficam satisfeitos, etc. Os pais também notaram tal comportamento, aliás, também evidente quando deram os seus presentes. Assim, quando a festa acabou e as pessoas partiram interpelaram o Rapaz.
Durante a festa reparámos que quando te davam os presentes não ficavas contente e mostravas uma cara pouco satisfeita. Porquê?
Por isso mesmo, só me deram presentes. É que já tenho muitos presentes, ainda não tenho é nenhum futuro.
Acho a ideia do Rapaz engraçada. Em vez de estarmos tão preocupados em encher os miúdos de presentes, talvez nos devêssemos preocupar mais em oferecer-lhes futuros.

terça-feira, 28 de julho de 2009

NÃO É JUSTO



Não é justo, em tão pouco tempo ver partir Pina Bausch e Merce Cunningham.

PAÍS RICO

Segundo um estudo da DECO sobre a utilização de medicamentos genéricos e tomando por base os 60 mediamentos mais vendidos dos quais existem genéricos, a poupança seria de cerca de 101 milhões de euros, mais de 74 milhões para os utentes e cerca de 26 para o estado. Embora esteja a aumentar, o recurso aos genéricos em Portugal continua abaixo do que se verifica noutros países certamente mais pobres que nós e, portanto, mais cuidadosos na gestão dos seus recursos. Acontece que por cá, os médicos continuam a receitar medicamentos mais caros em 56% dos casos, dados da Autoridade Nacional do Medicamento. Parece evidente a necessidade de reformular a política de prescrição sempre salvaguardando, naturalmente, a qualidade do serviço prestado ao utente.
A questão é que parece existir mais preocupação em salvaguardar os interesses de alguma indústria farmacêutica e das suas relações com os médicos.

OS MIÚDOS E O NÃO

Nos últimos tempos têm aparecido diversas obras, sob diferentes perspectivas, destinadas a pais que versam o problema, dizem, da autoridade e centradas sobretudo na questão do não e de como os pais devem dizer não aos filhos. Percebe-se obviamente o porquê desta onda, é comum a afirmação de que os miúdos não têm regras, não reconhecem limites e que, em consequência, são indisciplinados e birrentos. Eu próprio, afirmo frequentemente que não estamos a ajudar os mais novos a lidar com o não. Só que, do meu ponto de vista, a questão da construção de regras e de limites é mais do que um conjunto de procedimentos parentais realizados com maior ou menor eficácia.
Em primeiro lugar é essencial reafirmar que bem mais do que um discurso da pediatria ou da psicologia, o Não é uma Necessidade Fundamental dos miúdos. Perceber os limites e as regras é, insisto, uma necessidade imperativa para o seu desenvolvimento equilibrado, não é novo, não é uma moda. Assim sendo, então porque se perdeu a capacidade observável de levar os mais novos a essa percepção clara de limites e regras de que, por vezes, não gostam mas de que precisam? E porque se diz que cada vez a situação é mais complicada?
Esta reflexão, menos presente nas obras sobre a matéria, mais direccionadas para procedimentos por parte dos adultos, sobretudo pais, é que me parece essencial. Tenho para mim que, de mansinho, este quadro se instalou porque nós os adultos, fruto de modelos sociais, económicos e culturais assumido nas últimas décadas, começámos a perder o sentido das regras e dos limites, a confundir o ser com o ter e a querer ter já, a não suportar a espera, numa espécie de “carpe diem” existencial e a hipotecar princípios éticos e valores que regulam a vida em comum. Poderia citar variadíssimos exemplos envolvendo o cidadão comum, que se endivida até não poder por mais um bem, muitas vezes supérfluo, que vive no meio do esquema e do “xico-espertismo” ou das lideranças políticas que se insultam em vez de debater ideias ou das lideranças económicas que ultra-liberalizando o mercado geram a pobreza e a exclusão como “danos colaterais”, todos enredados numa feia trama de pequeninos e grandes interesses.
Neste caldo seria para mim um mistério que ao educarmos os miúdos fôssemos capazes de os fazer entender e respeitar regras e limites que, muitos de nós, em bom rigor, desconhecemos.
É bom que exista material que procure ajudar os pais a serem melhores pais mas, no fundo, só somos bons pais quando somos melhores pessoas, não é, basicamente, um problema de técnicas. É por aqui o futuro, acho.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

OS ADOLESCENTES QUE NÃO GOSTAM DE SI

Segundo um trabalho hoje divulgado pelo DN, estão a aumentar em Portugal os comportamentos suicidários em adolescentes. Felizmente, na sua esmagadora maioria os cerca de dois mil casos por ano são de natureza para-suicidária, portanto, sem a intenção objectiva de provocar a morte.
De qualquer forma este quadro não pode deixar de merecer alguma atenção. Na base destes comportamentos estará certamente o desconforto e mal-estar com as circunstâncias de vida. É um fenómeno que atravessa diferentes classes sociais e aparece frequentemente associado à sensação de abandono e isolamento mesmo em famílias funcionais embora se acentue em quadros de instabilidade familiar, É também frequente nos adolescentes com este tipo de comportamentos um sentimento de baixa auto-estima traduzido envolvido na percepção da incapacidade de responder a expectativas ou de construir projectos de vida. Em muitos adolescentes o confronto com uma realidade super competitiva, exigente e pouco amigável para o insucesso torna-os particularmente vulneráveis e com grande dificuldade para lidar positivamente com a sua vida.
Neste tipo de situações e considerando que os casos de suicídio são baixos aparece um perigoso discurso desvalorizador expresso em enunciados do tipo “é só para chamar a atenção”. Como sempre digo, é fundamental estar atento e interrogarmo-nos sobre qual os motivos que levarão um adolescente a chamar desta forma a atenção para si. Não será porque sente que não a tem? Não será um SOS que deve ser levado bem a sério?

FABRICAR A TERRA

Miguel Esteves Cardoso assinou ontem uma das mais bonitas crónicas desta série que tem vindo diariamente no Público. MEC, a partir da tentativa de compreensão de uma dedicatória inscrita no The Waste Land de T.S. Eliot, acaba por convidar para a crónica os agricultores de Almoçageme e Fontanelas que atestam a qualidade dos produtos que vendem por terem sido fabricados por si. É esta ideia do fabricar produtos hortícolas que impressiona MEC.
Refiro esta crónica porque quando comecei a pousar no meu Alentejo, ouvia os velhos Joaquim e Zé Marrafa, o Mestre Zé ainda se mantém, a dizer-me que era preciso fabricar a terra. De início, tal como MEC também estranhei, fabricar a terra?! O termo é utilizado para qualquer trabalho realizado na terra, lavrar, gradar, passar com o escarificador ou, simplesmente cavar para que, estando a terra fabricada, possa ser semeada ou plantada.
Continuo a apreciar a expressão fabricar a terra como desde a primeira explicação. Não vos sei explicar porquê mas, tal como o MEC, creio que fabricar tem algo de humanizar, de construir, de cuidar, de produzir, de fazer.
Também por isto tudo acho que o maior desafio que temos pela frente é continuar a fabricar a terra, o futuro.

domingo, 26 de julho de 2009

O DIREITO AOS AVÓS, DE NOVO

Como tem acontecido aqui no Atenta Inquietude em cada 26 de Julho, Dia dos Avós, retomo a minha proposta no sentido de ser legislado o direito aos avós. Isto quer simplesmente dizer que todos os miúdos deveriam ter avós e que todos os velhos deveriam ter netos. Em pleno ano eleitoral qualquer partido verdadeiramente interessado nas pessoas, sentir-se ia obrigado a inscrever tal medida no seu programa eleitoral. Com tantas crianças abandonadas dentro de casa, institucionalizadas, mergulhadas na escola tempos infindos ou escondidas em ecrãs ao mesmo tempo que os velhos estão emprateleirados em lares ou também abandonados em casa, trata-se apenas de os juntar. Creio que os benefícios para miúdos e velhos seriam extraordinários. Um avô ou uma avó, de preferência os dois, são bens de primeira necessidade para qualquer miúdo
Talvez seja bom lembrar que se os putos não votam, os velhos são cada vez mais.

A FALSA IDEIA DE UM PAÍS DE DOUTORES

A imprensa de hoje continua marcada pelo episódio Joana Amaral Dias e, não podia deixar de ser, pelo arraial do Chão da Lagoa. Sobre o primeiro, ainda procurei, mas não consegui encontrar a versão da senhora que permitisse esclarecer a situação. Provavelmente não é por acaso que não a encontrei, a política do Portugal dos Pequeninos alimenta-se destes tristes incidentes, ou é verdade e é um escândalo, mais um, ou é uma invenção e é um escândalo, mais um. Quanto ao Chão da Lagoa e à boçalidade pateta e patética de Jardim apenas reforçar a eficácia do staff de Manuela Ferreira Leite, talvez do Zeca Mendonça ou até mesmo do guru Génio Pacheco Pereira. Encontrar nesta altura um sindroma gripal oportuno para poupar a senhora àquele insulto é, sem dúvida, um excelente trabalho.
No entanto, o CM refere-se a um assunto que de vez em quando é aflorado e, a meu ver, sempre de forma a gerar equívocos, a situação dos desempregados licenciados. Diz o jornal que aumentou no último ano o número de licenciados inscritos no IEFP. É negativo mas é óbvio, com a destruição do emprego e a não criação de postos de trabalho como não haveria de aumentar o desemprego entre os licenciados? Mais uma vez, insisto, não é razoável noticiar sem tratar e enquadrar devidamente as situações. Não se pode construir uma mensagem que desmotive e retire valor à formação por várias razões que os estudos apontam. Apenas três, primeiro somos o país da OCDE com menos licenciados na sua população mais jovem, e ainda existem uns ignorantes que falam de um país de doutores. Os desempregados licenciados encontram emprego num tempo mais curto que os não licenciados e, terceira, os licenciados empregados têm salários médios acima dos não licenciados.
Sabemos também que, por demissão da tutela, a ausência de regulação da oferta no ensino superior é produtora de enviesamentos na relação entre a oferta e a necessidade de qualificação. No entanto, não é aceitável que se produzam discursos que transmitam mensagens erradas, a inutilidade da formação ou o excesso de gente qualificada, que além de erradas acentuam as dificuldades.

sábado, 25 de julho de 2009

AS CRIANÇAS QUE NINGUÉM QUER

Ao passar os olhos pela imprensa diária o meu habitual desconforto acentuava-se. Buscas na casa de José Roquette no âmbito dos negócios do BPN, a bizarra cambalhota nas duríssimas afirmações do dono da Associação Nacional de Farmácias João Cordeiro, dizendo e desdizendo-se em poucas horas, a qualidade política patente na entrevista do menino guerreiro, Santana Lopes que ameaça governar Lisboa, agora bem, porque está diferente, mais um caso de pedofilia grave num local onde é suposto as crianças estarem protegidas, desta vez no Colégio Militar, os efeitos da crise, retratados no pessimismo português, recordista na UE, face ao encontrar um novo emprego num prazo de seis meses, o contar e alinhar das espingardas nas listas dos partidos, o trágico ensaio da cegueira no Santa Maria, etc. Enfim, nada que efectivamente seja inesperado.
De repente, uma notícia redentora, um excelente trabalho do I chama a atenção para um grupo de famílias que adoptaram as “crianças que ninguém quer”. Apresentam-se algumas situações de crianças com problemas sérios de saúde e ou de desenvolvimento que foram adoptadas. As famílias referem a sua experiência e a felicidade daqueles miúdos. Sabendo o elevado número de crianças institucionalizadas e em situação de adopção, verificar que algumas pessoas escolhem as mais fragilizadas para lhes oferecer uma família é um acto de solidariedade e humanidade redentor da confiança na gente.
Não os conheço, mas agradeço profundamente tal exemplo.

HISTÓRIA COM NÚMEROS


- Não, entendo que se o 5 e o 23 se integrarem na B o desempenho é mais eficiente.
- Nesse caso, torna-se necessário substituí-los em A e creio que podemos recorrer ao 21 e ao 35.
- Não sei se o 35 será o mais indicado, é experiente mas é resistente à mudança.
- Sendo assim, porque não redimensionar a D onde ficaria o 35, mas completando-a com o 8 e o 19?
- Parece-me bem. Proponho também que se possa considerar a hipótese de afectar o 26, o 2, o 34 e o 16 ao programa de formação e reciclagem para readaptação aos equipamentos que serão substituídos. Podemos criar uma unidade F.
- Estou de acordo. Bom quanto ao ponto 2, concordo com a proposta que está elaborada, dispensa-se o 2, o 7, o 12, o 18 e o 28.
- É uma decisão difícil.
- Entrega-se aos serviços competentes e eles que resolvam.
- Mas o 18, vai ser um problema.
- É para resolver problemas que aqui estamos.
- Ok. Fica assim.

(Excerto de uma reunião na Direcção de Recursos Humanos)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

QUE NÃO SE BLINDEM AS FRONTEIRAS

Os modelos de desenvolvimento social e económico que desde as primeiras décadas do Séc. XX se têm seguido produzem assimetrias e pólos de desenvolvimento que desencadeiam movimentos migratórios em diferentes sentidos, de diferentes contornos e também com diferentes intensidades. Veja-se como Portugal oscila entre períodos de significativa saída com outros em que predomina a entrada. É também conhecido que os movimentos migratórios, em termos gerais, mobilizam mão-de-obra menos qualificada e “disponível” para funções menos atractivas para os residentes. Ao fim e ao cabo trata-se de uma eterna busca por melhores condições de sobrevivência.
Ao que parece, estamos de novo a atravessar um período em que muitos portugueses procuram encontrar no estrangeiro níveis de vida mais interessantes, tal como temos sido procurados por fluxos vindos de fora com o mesmo objectivo.
É neste quadro que me preocupam recorrentes discursos de teor mais conservador, nacionalista e até xenófobo, que pretendem blindar a União Europeia, ou países dentro da UE, impedindo essa tentativa de procura de bem-estar. É óbvio que são necessários dispositivos de regulação desses fluxos, mas criar estados fortaleza ou uma União Europeia fortaleza é algo menos aceitável, fomentador da manutenção das assimetrias de desenvolvimento e do ciclo da pobreza. É ainda de considerar que os portugueses também poderão desejar entrar em países que lhes fechem as portas.

A CRECHE NOCTURNA

Já por várias vezes tinha antecipado este cenário embora não esperasse que fosse para tão breve. A Junta de Freguesia de Matosinhos vai colocar em funcionamento nas suas instalações uma creche destinada a crianças entre os seis meses e os 10 anos a funcionar às sextas e sábados à noite, gratuitamente, e, na fase inicial, das 20 às 24. Segundo o Senhor Presidente da Junta, tal iniciativa contribuirá para “reforçar e consolidar os laços conjugais”, “ajudar os casais a ter mais tempo para si” e “seguramente atrair muita gente que poderá assim, com qualidade, desfrutar da excelência dos nosso estabelecimentos de restauração e lazer”. Ponham os olhos nesta visão e capacidade de empreendimento.
Depois de se permitir que os miúdos possam ficar nas escolas 11 horas por dia, só faltava mesmo o funcionamento em horário nocturno. É óbvio que colocar os miúdos em instituições este tempo todo torna-se um excelente contributo para a vida familiar pelo que deve ser apoiada.
No sentido de a melhorar algumas pequenas sugestões ao Senhor Presidente e eventuais seguidores. Primeiro, porquê esperar pelos seis meses e receber as crianças só até aos dez anos. Existem perfeitos substitutos do leite materno pelo que as crianças podem passar da maternidade para a creche e como as crianças não devem ficar sós, a creche deveria recebê-las pelo menos até aos 16 anos. Depois também já vão para a “night” sem problemas.
Por outro lado, mesmo em fase inicial, receber as crianças até às 24h é perfeitamente insuficiente, ajuda a restauração, os papás jantam e os meninos “crecham”, mas falta o lazer, os papás precisam de ir abanar o capacete. No mínimo até às 4 h da manhã, os horários “after hours” virão depois. Já agora, muitos estabelecimentos nocturnos têm programas fixes às quartas e quintas, além disso, para os pais, uma prainha ou um passeio ao domingo sem os putos a chatear seria um espectáculo. Vejam lá se podem dar um jeito de abrir a creche.

CADA RUGA É UMA BÍBLIA

Já aqui vos tenho falado de algumas histórias das minhas andanças pelas terras de África. Esta também é de Inhambane e traz de novo o velho Carlos Bata, meu anjo da guarda no tempo que passei na terra da boa gente. O Velho Bata, homem com perto de 80 anos, usava na linguagem comum uma imensidade de imagens que lhe faziam produzir um discurso de uma riqueza e surpresa constantes. Há algum tempo passou por aqui no Atenta Inquietude como o homem, expressões suas, que sabia ler até à última letra e escrever nem que fosse com uma Parker.
Hoje, a propósito de um material que li sobre a forma como os velhos são arrumados, emprateleirados, em lares onde, em melhores ou piores condições, esperam a partida e de tantos putos sós que beneficiariam da companhia, da mestria e das histórias dos velhos e sós continuam, todos, lembrei-me de mais uma das expressões frequentemente usadas pelo Velho Bata. Sempre que queria sublinhar a sua experiência e conhecimento sobre as coisas da vida apontava para a enrugada testa e exclamava, “É das rugas, cada ruga sabe tanto como uma bíblia”.
Talvez eu próprio esteja a ficar velho, mas acho uma imagem lindíssima. Nem sequer consigo perceber muito bem o que levará as pessoas a esconder as rugas. No fundo, negam ou recusam as bíblias que a vida lhes oferece, ou seja, não entenderam a vida.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O MISTÉRIO DE SER PESSOA

Da nossa tentativa de lidar com a tragédia da morte fazem parte os discursos sobre a sua “naturalidade”, é não natural nascer como morrer e sobre a sua inevitabilidade, “todos temos um dia”. Por outro lado, os tempos que correm e o seu quadro de valores, a acessibilidade à informação e a forma como esta é tratada em boa parte da comunicação social a morte quase se banalizaram o espectáculo da morte. No entanto, a morte continua a ser algo que para cada um de nós é uma interpelação contendo múltiplas e insuspeitas dúvidas e inquietações.
Vem esta introdução a propósito de uma notícia de rodapé que me impressionou, numa zona da região Oeste do país, mãe e filha, combinam uma última viagem juntas e suicidam-se à passagem de um comboio. A notícia que li não adiantava explicações. Fiquei a pensar nas decisões que tomamos, nos seus fundamentos e no seu alcance. De que tragédia mãe e filha terão fugido para entrarem noutra tragédia? Que laços tão fortes ligavam aquelas pessoas que sustentaram uma decisão de morrer juntas de forma tão devastadora? Que alucinação ou mistério poderá perceber a morte como eventual forma de chegada a um paraíso? Em que valores e princípios se inscreve um decisão desta natureza?
O mistério de ser pessoa na sua expressão trágica.

HISTÓRIA VIRTUAL

Era uma vez um rapaz de 15 anos. O Rapaz gostava de conversar e todos os dias falava com imensa gente, passando muitas horas nessas conversas. É curioso que apesar de conversar com muita gente ele não conhecia muito bem essas pessoas, nem ele era muito conhecido pelos outros. Cada uma das pessoas que falava com ele fazia uma ideia diferente do Rapaz. Para uns tinha umas características, para outros teria outras e o Rapaz procurava convencer os seus interlocutores de que era aquilo que lhes dizia que era. Eram assim os seus dias, criava uma personagem, diferentes personagens e vivia-as no contacto com as pessoas com quem conversava.
O Rapaz vivia dentro do ecrã de um computador, atrás de um Nickname, Coolkid. Na verdade, chamava-se Só.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A CRISE DA CONFIANÇA

Nem o aproximar das férias parece amenizar a crise e os seus efeitos. Não estou a referir-me à crise económica, veio para ficar por mais algum tempo com efeitos pesadíssimos. Estou a pensar, sobretudo na crise de confiança.
A confiança em quem lidera ou quer liderar os destinos do país há muito que bateu no fundo, prova-o os resultados de estudos de opinião, os níveis de abstenção e o afastamento dos cidadãos da participação cívica.
A confiança na justiça algo de essencial ao cidadão também atravessa uma profunda recessão e estrutural recessão.
A saúde sob a ameaça da gripe A agita-se agora com as infecções contraídas em meio hospitalar, local onde gostamos de acreditar que cura e não que nos faz adoecer.
A banca, pilar da organização económica dos países, não escapa a esta crise de confiança, todos os dias temos novidades nos processos em curso, designadamente no BPN e SLN.
Na educação vive-se no reino da desconfiança entre os diversos actores envolvidos sem que se perceba o efeito devastador que tal clima tem nos alunos.
Que comecem rapidamente as férias.

O HOMEM QUE QUERIA SER BOM

Era uma vez um Homem que queria ser bom, não que não fosse um bom homem, mas queria ser capaz de fazer qualquer coisa muito bem. Começou este empreendimento desde pequeno. Tentou ser um bom aluno, esforçava-se mas não passou de um aluno mediano, era amigo dos outros e de os ajudar. Em adolescente continuou com resultados escolares positivos mas baixos e continuava incapaz de ter algum desempenho que o distinguisse dos demais, ainda que tivesse amigos e sempre com disponibilidade para eles e para alguma necessidade. Não tinha particular jeito para o desporto, embora gostasse de praticar e também não revelava especiais dotes para, por exemplo, a música. Gostava e até tentou aprender a tocar um instrumento mas desistiu por manifesta dificuldade em progredir. Encontrou uma profissão onde, para não variar, tinha um desempenho que ele não achava mais do que razoável, assim como razoável era a sua satisfação com a família que juntou. As pessoas que o conheciam gostavam do seu jeito de estar disponível e atento a eventuais necessidades. O Homem envelheceu e continua na busca de algo que ele entenda fazer muito bem, toma conta dos netos embora esteja convencido que não tem para eles a paciência e a competência que acha que deve ter.
O Homem não sabe, mas os netos já me disseram que ele conta as histórias mais bonitas do mundo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O "CHUMBO" NÃO É O PAI DO SUCESSO

E eis que o burgo clama “Crime, passou com 9 negativas”, não pode ser, é a falência, é o caos, é o bater no fundo, é o vale tudo.
Por partes, assim tratada a informação é provável que a opinião pública reaja em conformidade. No entanto, na minha modesta opinião, a esmagadora maioria dos comentários é, como se costuma dizer, ao lado. Vejamos. Em primeiro lugar, talvez a opinião pública se esqueça ou não saiba que temos uma das maiores, senão a maior taxa de “chumbo” dos países da OCDE na escolaridade obrigatória e que, está provado, que não é por chumbar, pura e simplesmente os alunos, que o sistema melhora, ou seja, nada garante que chumbando mais, o pessoal aprenda melhor, antes pelo contrário. A segunda questão é que, nas mais das vezes, chumbar um aluno é apenas uma medida administrativa, fica no ano em que está, e espera-se que por passar mais um ano o sucesso vai aparecer. Também está provado que assim não acontece, de uma forma geral os alunos que começam a chumbar tendem a continuar a chumbar.
Nesta conformidade, a questão central não é o chumba, não chumba e quais os critérios (quantas disciplinas, por exemplo) é que tipo de apoio, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário e isso, está a acontecer, deve ser dito, diversificar percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional. É necessário que se avalie a eficácia do trabalho desenvolvido nas escolas e dos apoios prestados. Estas são, do meu ponto de vista, algumas das questões centrais. O ruído com notícias deste tipo é apenas isso, ruído, parte dele demagógico, parte dele ignorante, parte dele ultraliberal e parte dele genuinamente preocupado com a qualidade do que passa nas nossas escolas.
No entanto, o ruído não é o essencial.

AFINAL, O QUE É QUE SE PRETENDE?

É frequente afirmar-se que as reformas substantivas em política, independentemente das áreas sectoriais, não podem, não devem, ser realizadas contra os profissionais dessas áreas mas com os profissionais dessas áreas, mas envolvendo-os. A experiência em Portugal tem mostrado isso mesmo. Desde cedo se percebeu que a estratégia política do ME, bem como a incompetência do Modelo de Avaliação e de alguns aspectos do Estatuto da Carreira Docente, teria como consequência óbvia o desencadear de uma fortíssima reacção por parte dos professores que ultrapassou claramente o movimento sindical, lembremo-nos das megas manifestações. O ME escudado no enunciado “perdi os professores mas ganhei a opinião pública” encontrou a base social para prosseguir, simplexificando, a linha política definida. A situação agrava-se com todos os actores políticos, designadamente, a partidocracia, a envolver-se e a utilizar esta situação para a sua agenda política.
Com o cenário assim estabelecido, ME inamovível e intransigente, os representantes dos professores com igual atitude e uma opinião pública favorável ao ME, parecia-me, já aqui o disse repetidamente, que era importante que os representantes dos professores se dirigissem às famílias, aos cidadãos em geral, mostrando a bondade das suas posições, demonstrando os erros claros da política do ME e, sobretudo, mostrando e divulgando as suas propostas alternativas de forma a que o cidadão não tivesse a menor das dúvidas de que os professores querem ser avaliados, justa e correctamente avaliados e de que forma entendem que isso deve ser feito.
No entanto, lamentavelmente, do meu ponto de vista, a Fenprof apenas clama pela suspensão do famoso Modelo, que seja nulo o resultado do que foi feito e, fico perplexo, não entende com necessário apresentar a sua proposta de avaliação o que, de facto, não consigo entender.
Creio que assim, os professores, e por tabela a comunidade, ficarão em piores circunstâncias e sem o apoio social que a sua intervenção profissional exige, confiança e credibilidade.

A TRANSFORMAÇÃO

Era uma vez um Homem conhecido por ser o mais turbulento dos homens daquela terra. Sempre assim tinha sido, dizia quem o conheceu desde pequeno, sem se ter percebido muito bem porquê. Muito travesso, como dantes se falava, as suas brincadeiras de gaiato raramente corriam e acabavam bem, sempre na luta com os outros, sempre com partidas e comportamentos que o tornavam insuportável. Na adolescência a situação já era um pouco mais complicada, o Homem, sem amigos, tornou-se ainda mais rezingão e amigo de arranjar problemas por tudo e com todos. Os seus dias eram feitos de brigas e discussões que levavam, naturalmente, a que pior ficasse a relação com a gente que com ele se cruzava, em casa, na rua ou na escola. Em adulto continuou com o mesmo estilo, vivia só, pouca gente se aproximava dele porque a discussão e zanga era certa e o Homem também não se revelava muito interessado em aproximar-se das pessoas.
Um dia, de repente, ficou um homem completamente diferente, quieto e calado. Como as pessoas mudam, comentou uma das poucas pessoas que assistiam ao funeral do Homem.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O FAROL

Peço desculpa, mas vou referir-me a algo que só fará sentido, provavelmente, para as pessoas aqui da minha zona, Almada e Lisboa, mas não posso deixar de o fazer. Em Cacilhas, na zona onde acostam os barcos que fazem a travessia do Tejo existiu um farol que tinha sido ali colocado em 1885. Este farol ajudava na sinalização da travessia e no aproximar do cais. Emitia um sinal sonoro que se ouvia a uns quilómetros, e que avisava aos da Margem Sul, eu era pequeno e estudava em Lisboa, que estava nevoeiro no Tejo, o que implicava menos barcos ou mesmo a suspensão do tráfego marítimo. Lembro-me disto ainda antes da Ponte 25 de Abril estar construída. Pois este farol, já tecnicamente dispensável, tinha sido retirado há trinta anos e colocado nos Açores.
Porque a memória faz falta, a Marinha e o Município entenderam por bem recuperar o farol e reinstalá-lo em Cacilhas, no local em que sempre esteve e onde está desde ontem, de guarda ao Tejo.
Devo dizer que fiquei contente por passar em Cacilhas e ver o farol, por saber que o vou ouvir nos dias de nevoeiro e que a sua luz volta a brilhar.
Nos tempos que correm acho que ainda damos mais valor a um farol.

O PROFESSOR QUE NÃO SABIA ALEMÃO

Aos olhos dos miúdos mais pequenos os professores ainda são figuras importantes, aliás, acredito que para a maioria dos alunos assim acontece apesar da turbulência e das mudanças dos tempos que atravessamos.
Como ia dizendo, os mais pequenos têm uma relação engraçada com os que imaginam como fontes do que irão aprender. Reparem nesta história que me foi contada por um professor do 1º ciclo numa escola do interior centro.
Estava a acontecer na aula uma conversa sobre os saberes que as pessoas possuem e como diferentes pessoas têm diferentes saberes. O professor achou por bem ilustrar o discurso com a situação de um aluno presente que, tendo vindo da Alemanha com os pais, sabia falar alemão coisa que mais ninguém no grupo sabia, nem ele. Um dos gaiatos, não se conteve e pergunta, “O Professor não sabe mesmo falar alemão?”. Depois da resposta confirmativa, o miúdo, completamente decepcionado, não resiste, ”Chiii!! É professor e não sabe alemão”. De facto, como pode um professor não saber, o que quer que seja.
O que o miúdo ainda não sabia é que professores não são só os que sabem, são os que nos ensinam. Até a ser capazes de aprender o que eles não sabem. Como sempre digo e cada vez mais acredito, a gente ensina mais o que é do que aquilo que sabe.

domingo, 19 de julho de 2009

A NANOPOLÍTICA

Um dos registos da semana que passou foi a mediática inauguração do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia em Braga. É certo que só começa a funcionar em pleno em 2010, mas pronto, já está inaugurado tendo, aliás, causado perplexidade a Cavaco Silva as coisas tão pequeninas que aquela gente se propõe estudar. Acho uma louvável iniciativa e sugiro até a criação de outros laboratórios dedicados a diversos nanomundos da vida em Portugal.
Proponho algumas áreas de investigação que me parecem pertinentes. A competência de parte substantiva da nossa classe política tem transformado a nossa vida política naquilo a que chamo o Portugal dos Pequeninos, veja-se os discursos de Alberto João, a transformação do decide sem pensar ao pensa sem decidir do Governo ao longo da legislatura, o negócio da constituição das listas, os níveis de corrupção, as oscilações dos discursos da oposição em função da contabilidade eleitoral, etc. Porque não um laboratório dedicado à investigação da nanocompetência em política desenvolvendo áreas de especialidade como a nanocoerência, a nanoseriedade intelectual, a nanodefesa do verdadeiro interesse público.
Uma outra área de investigação bem interessante e útil seria a investigação sobre a nossa nanoeficácia em múltiplas áreas que se constituiriam também como especialidades. Poderia estudar-se, por exemplo, a nanoeficácia da justiça ou a nanoeficácia do combate às desigualdades.
Assim, o Ministro Gago o entenda.

sábado, 18 de julho de 2009

MANIFESTAMENTE POSITIVO

Primeiro tivemos os manifestos dos economistas sobre as grandes orientações em matéria de política económica expressando visões diferentes sobre o tema. Agora surge mais um manifesto, de intelectuais independentes. A situação de independente significará não filiado partidariamente, a de intelectual não consigo descortinar. Parece-me um movimento interessante este surgimento de pensamento político fora do círculo da partidocracia instalada, por mais que possam ser discutíveis os conteúdos dos manifestos.
Aliás, parece-me de sublinhar que uma das questões centrais do texto agora divulgado é justamente a chamada de atenção para o afastamento dos cidadãos da vida política que permanece quase que exclusivamente confinada aos aparelhos partidários. Por outro lado, os autores referem-se à sobrevalorização das figuras, das pessoas, em detrimento das ideias, dos projectos e consequente ausência de debate, o que se relaciona, do meu ponto de vista, com a questão anterior, a vida política tem vindo a transformar-se cada vez mais em contabilidade eleitoral e projectos de poder partidário, discutindo-se a liderança nesse registo, ou seja, a questão central é de quem melhor parece garantir o acesso ao poder.
Neste contexto, pode citar-se também a entrevista ao I de Alexandre Relvas, o homem forte do Instituto Sá Carneiro do PSD, em que, numa espécie de “tiro no pé”, afirma, “as pessoas da política não são as melhores do país”, são, digo eu, as que melhor se movem nos aparelhos partidários.
É por isso que pode ser positivo o surgimento dos manifestos que, emergindo fora das órbitas partidárias, contribuam para processos de mudança da cultura política. Aguardemos o próximo, talvez o de um grupo de desempregados.

UMA HISTÓRIA DA TERRA DO SUCESSO

Era uma vez um Rapaz que vivia numa terra onde toda a gente tinha que fazer tudo bem feito, tudo perfeito, chamava-se a Terra do Sucesso. Na Terra do Sucesso as pessoas que não fossem exemplares a realizar as suas tarefas não tinham a vida fácil, não tinham desculpa e, logo que possível, eram substituídas por pessoas mais perfeitas.
O Rapaz não era muito perfeito a fazer e a aprender as coisas da escola. Como é de prever na escola da Terra do Sucesso os alunos têm que ser perfeitos, até aboliram o quadro de honra, substituíram-no pelo quadro do fracasso pois a excelência era a regra e o fracasso a excepção a que ninguém queria pertencer.
O Rapaz ainda começou por tentar e esforçava-se por fazer e aprender melhor e até conseguiu em alguns aspectos. Não era suficiente, continuava a ouvir, “não está bem”, “não chega”, “tens que fazer melhor”, “ainda é pouco”, “olha para os outros colegas”, etc. A vida do Rapaz ia ficando mais difícil na escola da Terra do Sucesso e um dia decidiu. A tudo o que lhe pediam para fazer ou para aprender começou a responder, “não sou capaz” e nem sequer tentava. Se insistiam, ele voltava a afirmar convictamente, “não sou capaz” e ficava tranquilamente a olhar para longe. O Rapaz aprendeu a não ser capaz, a sua vida tornou-se bastante mais calma embora sempre com o nome no quadro do fracasso.
No entanto, o Rapaz era o que mais perfeitamente nada fazia.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

CORRUPÇÕES

De há muitos anos que se instalou em Portugal um discurso sobre a corrupção e a impunidade associada que a define como uma das características estruturais mais graves da nossa comunidade. É também frequente a retórica sobre o combate ao mal, mas, simultaneamente, uma aceitação resignada de que não há nada a fazer, é cultura. As tímidas tentativas de mudança, veja-se o chamado “pacote” Cravinho, esbatem numa inamovível teia de interesses de que todos parecem alimentar-se, muito ou pouco. Quando se fala em corrupção relaciona-se mais habitualmente o fenómeno ao mundo dos negócios, públicos ou privados. Sendo óbvia a explicação para tal, parece-me que se esquecem algumas outras áreas ou dimensões em que também a corrupção se verifica e assume efeitos igualmente gravosos, mas menos visíveis.
Seria importante, por exemplo, considerarmos os níveis de corrupção verificados nos valores, na ética política e social. A ofensa e o insulto, a manipulação e propaganda com recurso a dados habilidosamente tratados, a facilidade com que hoje se afirma e defende o que amanhã se nega e combate. As promessas anunciadas que se sabem impossíveis de cumprir. A manutenção de dispositivos e processos que desprotegem os mais vulneráveis. A permeabilidade à influência e ao aparelho, em detrimento do mérito e da competência.
Todo este universo constitui, creio, um dos mais sérios obstáculos a que verdadeiramente se combata a mais visível corrupção no mundo dos negócios, públicos e privados.

TENS DIFICULDADES? TENS QUE TER PACIÊNCIA, NÃO ÉS ELEGÍVEL

A poeira assentou mas as previsíveis consequências negativas da nova legislação que reintroduziu a determinação de elegibilidade para apoio educativo a alunos com dificuldades continuam a ser conhecidas. Um inquérito realizado junto de escolas da Região Centro mostra, tal como acontece no resto do país, a quantidade de crianças em dificuldade que deixaram de ter o apoio de que necessitam e de como desajustada se verifica a definição da rede de escolas de referência. O incompetente Secretário de Estado, o delinquente ético, Valter Lemos, bem continua a torcer os números, as taxas e a realidade até que estas lhe digam o que ele quer ouvir. No entanto, como sempre, a realidade não se transforma na projecção dos seus desejos.
E assim, a situação de milhares de alunos com dificuldades é bastante grave, sem apoio ou sem apoio o adequado, algo que, como Valter Lemos já afirmou, não o preocupa.
Pode ser que pedir um estudo à OCDE, mas mesmo à OCDE, fosse uma oportunidade para esta gente, politica e eticamente pouco séria, perceber como é inaceitavelmente grave o que está a fazer.

ENCONTREI O MAGALHÃES

Já por aqui tenho afirmado que simpatizo com o princípio de proporcionar o contacto cedo dos miúdos com as novas tecnologias sem que, obviamente, esse contacto substitua o que quer seja em termos de processos educativos, antes pelo contrário, deve integrar-se o mais naturalmente na vida dos miúdos, tal como lápis ou a escrita à mão. É óbvio que esta introdução tem a ver com o Magalhães e com um encontro de hoje. Não com a propaganda e manhosice política que tem acompanhado o Programa mas com a sua chegada a mãos pequenas que de outra forma, muitas delas, não lhe acederiam tão cedo. Pode ainda discutir-se se devem estar nas mãos dos miúdos, se na escola à disposição de todos, professores e alunos, a questão da formação dos professores para a sua adequada utilização, entre outros aspectos. Certo, acho que muito pode e deve ser discutido.
Como ia dizendo, a vida profissional levou-me a Odemira e um tempo de espera na Biblioteca Municipal permitiu-me observar uma cena curiosa. No chão da cafetaria estavam três gaiatos, um, o dono do Magalhães, com uns sete, oito anos, os outros mais novinhos entretidíssimos às voltas com a máquina, discutindo entusiasmados as incidências do jogo que desenvolviam.
Gostava de acreditar que as férias destes putos não sejam só isto, não esqueço tudo o que de muito triste, lamentável e errado tem acompanhado o Programa Magalhães, mas também me parece razoável aceitar que pode ser bom para os miúdos, para todos os miúdos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

Tentar produzir algum discurso sério de análise ao conteúdo facial das “propostas” de revisão constitucional do inimputável Alberto João parece-me um exercício que insulta os princípios elementares da democracia e da ética política. Compreendo, no entanto, que os actores políticos, sobretudo os partidocratas do chamado “arco do poder” usem aquelas afirmações no combate político que, do meu ponto de vista, nem isso merecem. Aliás, tenho para mim que Alberto João acha isso mesmo, uma irrelevância política. Mas, se bem repararmos esta é a sua estratégia no sentido de garantir imprensa e tempo de antena que alimente, mascarando com o escandaloso aval das cúpulas do seu partido, um poder totalitário que sobrevive, não destes disparates, mas de algo mais refinado e eficaz, tráfico de influências, poder absoluto, emprego social, gestão criteriosa das verbas e dos apoios e outras “democráticas” ferramentas de gestão do poder.
Este cenário, por demais conhecido, é que me parece a questão central em torno da figura de Alberto João. Não adianta o estafado discurso das sucessivas eleições ganhas com maioria, o que mais conhecemos é “pequenos” e “grandes" ditadores eleitos com maiorias esmagadoras.
O resto é a chegada da silly season a preparar o folclore do Chão da Lagoa.

UM SIMPLEX EM SUSPENSÃO

Depois de divulgados os estudos da Delloitte e agora o da OCDE sobre o Modelo de avaliação dos professores e da constatação dos efeitos perversos que o Modelo apesar de sucessivas Simplexificações causou nas escolas, a prudência, a humildade e o bom senso próprio dos competentes sugeririam que se repensasse todo o processo. Esta atitude, do meu ponto de vista, deveria envolver ME e a Plataforma Sindical. No entanto, a minha convicção será, no mínimo, ingénua. O ME, seguindo a orientação agora em vigor no Governo, sugere a manutenção do Simplex e, ao que parece, com mais umas Simplexificações desconhecidas e posteriormente ver-se-á, ou seja, entra em suspensão nos termos em que está definido. A Fenprof recusa a participação nas reuniões por entender que de negociação as reuniões não têm muito e, portanto, não se justifica a presença.
Como resultado destas decisões que, mais do que servirem os verdadeiros objectivos da qualidade da educação, se inscrevem na agenda política dos actores envolvidos, continuamos a perder a oportunidade de introduzir as urgentes mudanças, neste caso, a imprescindível avaliação de desempenho dos docentes, ferramenta essencial da promoção da qualidade.

HISTÓRIA ESQUISITA E SEM GRAÇA

É verdade, esta é uma história esquisita e sem graça, senão oiçam. Era uma vez um Homem que vivia numa terra e era muito conhecido. Era a pessoa mais bem disposta que havia naquela terra, sempre com graças e graças com graça. A propósito de tudo e mais alguma coisa e com qualquer pessoa, mais pequena ou maior, o Homem encontrava sempre algo de divertido para dizer.
A parte esquisita da história é que as pessoas ficavam surpreendidas com as graças do Homem e muitas vezes nem se riam logo, só depois dele se afastar. E depois de se rirem ficavam a comentar a surpresa que sentiam com as graças do Homem.
A parte sem graça é que o Homem se chamava Triste, daí a surpresa das pessoas. Como sabem, quando nos põem um nome nunca mais nos livramos dele, passamos a ser o nome e não nós.
Digam lá se não é mesmo uma história esquisita e sem graça.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O PROVEDOR DE JUSTIÇA E A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Na tomada de posse do novo Provedor de Justiça que pôs fim a um escandaloso processo que envergonha, deveria envergonhar, as lideranças políticas, o novo Provedor prometeu “usar adequadamente a comunicação social para garantir eficácia” na sua acção “garante da defesa dos direitos dos cidadãos”. Não tenho nenhuma razão para duvidar do empenho e convicção do Dr. Alfredo José de Sousa mas tenho a maior das dúvidas de que boa parte da comunicação social assuma os seus desejos. A comunicação social com isenção e capacidade escrutínio e informação poderia e deveria ser justamente uma excelente ferramenta ao serviço dos direitos dos cidadãos, a começar pelo direito à informação. A questão é que boa parte da comunicação social envolve-se na agenda política oculta, procede a julgamentos com o maior despudor consoante o leque de interesses de ocasião, atenta contra a privacidade dos cidadãos com o maior das tranquilidades. Transforma informação em espectáculo e manipulação numa lógica de venda de um produto embrulhado com características que lhes permitam atrair o consumidor mesmo que no limiar ou para além dele, dos padrões éticos.
Há que ser optimista, mas duvido que algo que é parte do problema, possa ser parte da solução.

ANIMADOR

Uma vista de olhos pela imprensa é absolutamente animadora. Deixando de lado a gripe A que está, parece, em fase de instalação, e os “sobressaltos” da política que se dividem entre o “rasgo, não rasgo” de Manuela Ferreira Leite, o “há acordo, não há acordo” entre o PS e outros para a candidatura a Lisboa ou os discursos alucinados do ME, vejamos algumas referências.
A eventual inconstitucionalidade de algumas competências da ASAE que a confirmar-se abre um poço sem fundo. A investigação ao negócio entre Mário Lino e Jorge Coelho, perdão, entre o estado e a Liscont do Grupo Mota-Engil no Porto de Lisboa. Os lucros do Citigroup, 290 milhões de euros com a cedência dos créditos fiscais e da segurança social, negócio realizado por Ferreira Leite em 2003, quando era Ministra das Finanças do governo PSD/CDS. O BPP trocava títulos rentáveis associados aos clientes com aplicações de retorno absoluto por outros menos valiosos. Taxistas em serviço no aeroporto de Lisboa continuam a burlar turistas em larga escala.
Claro que com este quadro não estrano que médicos e farmácias abusem da receita de anti-depressivos, segundo afirmações da Alta Comissária da Saúde. Como não?
No entanto uma notícia muito bonita e reconfortante. Diz uma rapariga, Luciana Abreu, que não faço ideia de quem seja mas merece imprensa, que está feliz, “Fui pedida em namoro à minha mãe como sonhei”. Lindo, o autor de tal dádiva é um rapaz chamado Yannick Djaló, chutador de bolas. Obrigado Yannick e Luciana.

JOGAR ÀS ESCONDIDAS

A vida das pessoas tem, com muita frequência, dimensões irónicas, cómicas, trágicas, paradoxais, enfim, fora do que poderíamos considerar de alguma tranquilidade, seja lá isso o que for.
Hoje, participei numa conversa informal sobre jogos que nos entretinham quando éramos gaiatos e ainda se brincava na rua e concluímos que esses jogos praticamente desapareceram da vida dos miúdos. Um desses jogos era o das escondidas. Fiquei algum tempo com a lembrança do jogo das escondidas e, de repente, dei-me conta de como nos enganámos, de como o jogo das escondidas continua bem presente na vida de muitos miúdos.
Reparem quantos adolescentes e jovens se escondem num ecrã ou no meio de uns “fones” com um som bem alto que os esconde do mundo. Reparem quantos miúdos, mais ou menos crescidos se escondem em comportamentos de que muitos verdadeiramente não gostam mas que os mascaram de figuras que eles não são. Reparem quantos miúdos estão escondidos em instituições, tão escondidos que não existe família que os encontre. Reparem quantos miúdos e adolescentes estão escondidos no meio de um grupo, o seu grupo, que lhes garante protecção. Reparem quantos miúdos escondem e se escondem em vidas de sofrimento e negligência.
De facto, estávamos mesmo enganados. Os miúdos continuam a jogar às escondidas. Por isso, a referência inicial ao paradoxo, à ironia, à tragédia.

terça-feira, 14 de julho de 2009

POBREZA CLANDESTINA

Depois de ler que Portugal tem a sexta taxa de desemprego mais elevada da OCDE, reparei na peça sobre a regularização da situação de 53 000 estrangeiros que saíram da clandestinidade por aplicação da nova lei dos estrangeiros o que me parece positivo para as pessoas e para o país.
Esta situação da clandestinidade é trágica. Com a crise económica actual e as suas devastadoras consequências, designadamente ao nível do desemprego, elevam-se exponencialmente os riscos de pobreza que já estavam em 18% em 2007, portanto, antes da situação mais grave que atravessamos actualmente. Parte dessa pobreza é uma pobreza clandestina, anónima, envergonhada. As instituições que operam nesta área confrontam-se diariamente com pedidos de ajuda por parte de pessoas que pedem anonimato e reserva sobre a sua circunstância. São pessoas feridas na sua dignidade, muitas delas perplexas com a inesperada situação em que caíram e sem perceber muito bem como dela sair. São pessoas que escondem da família alargada, dos amigos e dos vizinhos as privações e dificuldades. Em tempos em que a solidariedade é matéria mais das instituições e menos das pessoas, a vida desta gente torna-se socialmente transparente, invisível, apenas lhes resta bater clandestinamente à porta de uma qualquer instituição.
Esperemos que o tempo de clandestinidade lhes seja breve.

O RAPAZ QUE NÃO GOSTAVA DE ESPELHOS

Era uma vez um Rapaz que não gostava de espelhos. Sempre que um estava bem em frente a si e o Rapaz olhava, rapidamente tinha vontade de pegar numa pedra e partir o espelho. Para evitar alguns problemas, lá resistia ao impulso de o quebrar mas fugia dele ou, por desafio, insultava-o. Algumas vezes, menos controlado, atirou mesmo algumas pedras e partiu alguns bocados nos espelhos.
Na vida daquele Rapaz eram vários os espelhos em que ele poderia mirar-se. Por exemplo, a escola, a escola era um espelho que só lhe mostrava que não sabia, não era capaz, não aprendia, era um cabeça no ar, um distraído um malcomportado, etc. Mas o Rapaz tinha também um espelho chamado família, o espelho família mostrava-lhe que ele era pior que os irmãos, mais atrasado, não fazia nada de jeito, etc. Muitos dos seus colegas eram outro espelho, quando olhava, esse espelho mostrava-o “má companhia”, “sem futuro”, etc.
Aos poucos o rapaz foi-se cansando de lutar contra as imagens dos espelhos. Um dia, depois de se sentar calmamente no seu quarto, com a porta fechada como sempre, em frente a um espelho pequeno colocado à altura da sua cara, adormeceu da forma que, durante muitas noites, tinha aprendido a fazer dentro do ecrã do seu computador.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

OS RESULTADOS DOS EXAMES NA AGENDA POLÍTICA

Já várias vezes aqui me tenho referido à escandalosa luta política em que os resultados dos exames se transformou seguindo, aliás, o caminho de tudo o que diz respeito à educação, evidenciado, por exemplo, pelas apreciações de normalidade e estabilidade quando o insucesso continua altíssimo.
Agora com a divulgação dos resultados do 9º ano, de novo os discursos do ME e de outros actores surgem inscritos na agenda política que cada um segue. Para além de me parecer, um sério desrespeito do trabalho de professores e alunos, a experiência mostra que as análises a quente servem para muito pouco.
Na minha perspectiva, os serviços do ME, bem como, as associações científicas e profissionais andariam melhor se com alguma tranquilidade procedessem a uma análise mais aprofundada, identificando, por exemplo e se for caso disso, perfis de insucesso dos alunos, que só depois de identificados podem ser combatidos. Seria mais interessante e útil uma comparação, no que puder ser comparado, com resultados em exames anteriores, ou a análise com algum rigor da relação entre os sucessos e insucessos dos alunos nos exames e os seus resultados nos testes escolares ao longo do ano.
Este tipo de análises, que se não esgotam nos exemplos que referi, contribuiriam, creio, para uma séria análise da qualidade e eficácia do nosso sistema educativo. A minha questão é que ninguém parece verdadeiramente interessado em retirar a educação da agenda política da partidocracia, para mais em tempos pré-eleitorais.

MAIS CRIANÇAS - UMA BOA NOTÍCIA, FINALMENTE

Finalmente uma boa notícia, nasceram mais crianças em Portugal, de acordo com o INE, nasceram mais 2183 crianças em 2008 que em 2007. É certo que ainda morreram mais pessoas do que nasceram mas a diferença é curta, 174. Os especialistas alertam para que ainda é cedo para se afirmar a inversão da tendência verificada nos últimos anos, mas não deixa de ser um sinal positivo. É assim como a retoma, é apenas um sinal. Continua baixo o ISF, Índice Sintético de Fecundidade, (nome sofisticado), 1,36, insuficiente para a necessária e desejada retoma da vinda de mais putos ao mundo e consequente renovação sustentada de gerações, condição imprescindível ao futuro.
A questão central, creio, justificativa do quadro demográfico não é a actual crise, a tendência de abaixamento já se verificava antes dela se instalar.
Provavelmente, se nos convencêssemos todos da necessidade de construir um mundo mais amigável, como se diz na informática, se as lideranças e a cultura política fossem promotoras de confiança e de optimismo realista, talvez os miúdos fossem mais desejados e fabricados.
Só falta mesmo recebê-los bem.

O TEMPO, ESSE GRANDE ESCULTOR

(Foto de Maria Negreiros)

O Tempo é um bem de primeira necessidade, imprescindível. Todas as pessoas deveriam ter um Tempo Mínimo Garantido só para si, em cada dia, todos os dias.
Então, talvez o Tempo fosse esse grande escultor. De cada um de nós.

domingo, 12 de julho de 2009

O ESTADO DAS ARTES

Ontem o Eng. José Sócrates reuniu-se com alguns artistas com o objectivo de analisarem as políticas para o sector. Esta iniciativa prende-se, provavelmente, com o facto de o Primeiro-ministro entender que a sua única falha na legislatura terá sido justamente a pouca atenção ao estado das artes, a famosa cultura. A ver vamos os resultados de tal iniciativa em termos de programa político.
Hoje, através do JN, relembrei que os artistas que cuidam dos nossos destinos, apesar de algumas falhas sabem mesmo cuidar do estado das artes. A peça jornalística recordava-nos que, nos termos das leis em vigor, todos os processos judiciais em curso contra o mítico Valentim Loureiro e o seu vice, José Luís Oliveira, ficavam suspensos por via da sua candidatura às eleições autárquicas, apenas podendo ser retomados após a proclamação dos resultados. No mesmo período fica também interdita a prisão, a não ser em flagrante delito para crimes com moldura penal superior a três anos. Claro que nestas condições, neste estado das artes, o Major, cujo discurso e presença nos media é um insulto à honestidade e aos valores éticos em geral, será um eterno candidato seja ao que for neste país de brandos costumes.
Considerando este tipo de situações, poderemos ainda, a título de exemplo, acrescentar o caso Freeport, o caso SLN / BPN, o caso Casa Pia, o Portucale e todos que estão agora a começar e não se sabe quando vão acabar, embora imaginemos como vão acabar, prescritos ou inconclusivos. É esta cultura de impunidade, assente num bizarro mas “bem montado” edifício legislativo e processual, que nos esmaga e nos envergonha.
Este estado da arte é que se torna um impiedoso e corrosivo ataque ao que de mais sério uma pessoa e um país podem ter, a dignidade. Se tivermos a dignidade preservada os artistas, agora estou a falar de cultura, saberão cuidar do estado das artes.

sábado, 11 de julho de 2009

E ASSIM SE CUMPRE PORTUGAL

Lamento, mas hoje não estou para sobressaltos, nem após a leitura do texto do dono das esquerdas, Manuel Alegre. Não me sobressalta a reafirmada dupla candidatura de Elisa Ferreira, justificada por José Sócrates de uma forma que, como não estou sobressaltado, não percebi. O que me deixou em paz e a agradecer a fortuna de nesta terra ser gente foi mais um feito para o Guinness World Records. Nem mais nem menos que o maior tacho de caracóis do mundo. Sim, três metros de tacho e uma tonelada de bichos ao dispor do povo de Loures que, claro, não se fez rogado. Aliás, as entrevistas a alguns elementos deste povo estimulam e reconfortam quem, por vezes, acha que a coisa está má. Não, em Loures, pelos vistos, a coisa estava até bastante boa, faltavam as bejecas, disse um dos convivas.
Fiquei sossegado, um país com tal capacidade de empreendimento e realização só pode ter um brilhante futuro. Este tipo de iniciativas mobilizadoras e promotoras da auto-estima nacional só parará quando formos o país com o recorde do maior número de recordes no Guinness World Records. E assim se cumpre Portugal.

MAS SE CRISTO NÃO SABIA NADA DE FINANÇAS

Nos tempos actuais, por força do hábito, as notícias de impacto já não nos surpreendem. No entanto, existem, por vezes, pequenas referências que nos chamam a atenção e deixam um rasto de perplexidade e preocupação. Reparem nesta peça quase despercebida e que me deixou perplexo. No Portugal Diário informam-nos de que a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (uff!) aplicou mais de um milhão de euros em obrigações da SLN e agora está a ver o caso mal parado. Quando li a segunda vez, à primeira duvidei se teria lido bem o nome dos investidores, saiu-me a expressão que está na moda “A sério?! Não posso!”.
De facto, os tempos andam estranhos. As Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição a investirem em obrigações? Será que não terão lido Pessoa, que bem avisou que Jesus Cristo não sabia nada de finanças? Bom, se por um lado, os economistas não terão previsto a extensão da crise nem o adormecido Dr. Vítor Constâncio tenha percebido o que se ia passando no BPN / SLN, por outro lado, as Irmãs Franciscanas continuavam a acreditar no milagre da multiplicação dos pães, perdão, dos euros. Convicções.
Definitivamente, esta notícia perturbou-me.

O SEGREDO DO HOMEM SIMPÁTICO

Era uma vez um homem que vivia numa terra onde as pessoas o achavam extremamente simpático. Não que fosse muito falador, mas cumprimentava toda a gente com um sorriso e quando as pessoas lhe dirigiam a palavra prestava a maior das atenções, sempre com um sorriso simpático, ia acenando e produzindo curtas frases de concordância, elogio e assentimento face ao que as pessoas conversavam.
Logo que se afastava, não era de manter contactos longos, os outros reforçavam a sua ideia de que o homem era mesmo simpático. Já não trabalhava, passeava na terra, fazia as suas compras e lia o jornal no jardim sempre com a sua atitude de bem-disposto e simpatia. Um cumprimento ali, um sorriso acolá e mais um elogio. Eram assim os dias de um dos homens mais simpáticos daquela terra.
Ninguém sabia mas o homem simpático tinha um segredo. Desde relativamente novo que foi perdendo a audição e há alguns anos que era completamente surdo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

UM SUCESSO, CLARO

Portugal tem, de há muito, apresentado umas das mais baixas taxas de escolarização da Europa, designadamente ao nível do Ensino Secundário bem como níveis de insucesso e abandono neste patamar do Sistema. Por outro lado, o nível de desenvolvimento das sociedades actuais e, no que respeita em particular à União Europeia, a livre circulação de pessoas exige processos mais longos, diversificados e diferenciados de formação e qualificação dos indivíduos. Sabemos ainda que, devido a esta maior exigência ao nível da qualificação, o abandono e insucesso escolar podem constituir a primeira etapa de processos de exclusão.
Neste quadro, o lançamento de um Programa com o objectivo de estruturar e incrementar os processos de qualificação de sujeitos que abandonaram o sistema é, obviamente de saudar. Parece-me também de sublinhar o interesse e significado que o Reconhecimento e Validação de Competências pode assumir para pessoas com largo trajecto profissional, sem certificação escolar, mas que tiveram acesso a um processo de reconhecimento de competências profissionais entretanto adquiridas e a aquisição de equivalências aos processos de escolarização formal.
Por outro lado, o discurso dos responsáveis sobre o programa, referi-o aqui, creio levantarem um equívoco entre certificar e qualificar. Tenho sérias reservas em muitas situações que me são referidas, que se possa considerar que as pessoas ficaram qualificadas e não apenas certificadas, até pelo número de pessoas envolvidas e as metas estabelecidas. Acresce ainda que o Programa abrange agora muitos jovens que abandonaram o sistema educativo e ainda não possuem experiência, competências profissionais, para reconhecimento e validação.
Os primeiros resultados da avaliação externa vêm dizer o óbvio, as pessoas sentem-se melhor, sobe a sua auto-estima por verem reconhecidas competências adquiridas ao longo da vida profissional, adquirem competências em domínios importantes, etc. mas não nos diz nada sobre a questão central, quais os verdadeiros níveis de qualificação proporcionados à generalidade das pessoas. Talvez a inexistência de repercussão na carreira profissional das pessoas certificadas se deva, não só à falta de visão dos empregadores, mas também à reserva face ao conteúdo da qualificação.
Também é verdade que não esperava outra avaliação.

A MATURIDADE DOS MIÚDOS

Um dia, no âmbito de um encontro informal com amigos e colegas de trabalho, acabaram por se juntar dois miúdos de sete ou oito anos, um deles filho dos donos da casa. Como era previsível, o miúdo da casa foi buscar uma série de brinquedos e no chão a um canto entretiveram-se a brincar durante a algum tempo, a princípio sem grande envolvimento mas, de mansinho, a brincadeira começou a ser conjunta. Curiosamente, foi dando para perceber que não trocavam palavra, apenas olhavam um para o outro e a brincadeira ia-se desenrolando. No fim do serão quando a família visitante se retirou o miúdo perguntou aos pais.
Ele não fala?
Fala, fala inglês, também sabes algumas palavras. Mas vocês não falaram.
É meu amigo.

Finalizou o miúdo com um encolher de ombros de indiferença.
A maturidade dos putos não pára de me surpreender, sobretudo quando comparada com a imaturidade dos adultos que nem falando a mesma língua se conseguem entender.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

ESCOLHA DE ATITUDES OU MUDANÇA DE ATITUDES

O Primeiro-ministro no jantar de ontem com os deputados do PS afirmou que o próximo combate eleitoral vai ser uma “escolha de atitude”.
É certo que a política em Portugal é, basicamente, um combate eleitoral, não um combate político. Se se tratasse de um combate político, eu subscreveria de imediato um discurso dirigido à atitude, à mudança de atitude. Lamentavelmente, o Eng. Sócrates não se refere à mudança de atitude, refere-se à escolha de atitudes, ou seja, escolher entre as atitudes que conduziram a nossa democracia ao estado em que está, como tem vindo a ser comprovado em muitos estudos e inquéritos. Lembro-me do velho enunciado “entre os dois, que venha o diabo e escolha”.
De facto, o grande combate político, insisto, não o combate eleitoral, pela mudança de atitudes deveria ser o grande desafio. O país não pode dispensar por muito mais tempo que se crie uma atitude de seriedade na vida política. É necessária uma atitude de rigor e transparência na gestão da coisa pública. É imprescindível uma atitude de preocupação com o cidadão e não com o partido. É fundamental uma atitude de séria preocupação com os mais desprotegidos e vulneráveis. É necessária uma atitude que coloque o bem-estar comum acima dos interesses corporativos de alguns. É preciso uma atitude de defesa de modelos de desenvolvimento que não promovam exclusão. É urgente uma atitude de humildade e desprendimento face a cargos e mordomias. É fundamental uma atitude séria de combate a fraudes e corrupção. A necessidade de mudança nas atitudes não se esgota nestes aspectos, o que se esgota, está no fundo, é a resistência do cidadão às atitudes que predominam.
O problema é que minha atitude face à capacidade de regeneração do sistema com estes personagens é de profundo pessimismo.

O QUE SERÁ QUE AINDA NOS ESPERA?

A situação geral pela nossa terra parece coerente com a evolução da crise. Quando nos começamos, ou queremos começar, a convencer de que o pior já passou, que já batemos no fundo, aparece sempre mais um dado, mais um indicador, vindo de um qualquer organismo nacional ou internacional a negar essa visão, desejo. De facto quando nos queremos convencer que as coisas por cá pior já não ficam, pois aparece algo ou alguém que tem a gentileza de nos decepcionar mostrando que afinal o nosso mal-estar ainda tem por onde crescer. Vejamos alguns episódios recentes. Habituados à boçalidade do Dr. Alberto João, escandalosamente tolerada, e à “elegância” nos debates da AR e, de forma geral, entre a nossa classe política, apanhamos com a “investida” do ex-Ministro Pinho e agora com a inaceitável manifestação dos estivadores. Já não estranhamos a manha política da equipa do ME mas vir culpar a comunicação social por ter induzido menos trabalho nos alunos e, consequentemente, piores resultados nos exames, é extraordinário. Quando pensávamos que as trapalhadas do BPP, da SLN e BPN ficavam por assim mesmo, temos agora as negociatas dos CTT. Quando o filme “O Pequeno Martim e a sua Pequena Mãe” parece a caminho de um happy end, aparece outra família em greve de fome por causa de um outro processo de adopção. Chama-se a polícia para lhe dar uns tiros e pretende-se multar os pais que não “tomem conta”, seja lá isto o que for, dos filhos.
O que será que ainda nos espera?

A HISTÓRIA DO HOMEM COM VOZ

Era uma vez um Homem que chegou a uma terra onde ninguém o conhecia. O Homem começou aos poucos a relacionar-se com a outra gente daquela terra, não que ele fosse muito de andar sempre a falar com as pessoas, mas mostrava-se atento quando elas se dirigiam a si. Parecia interessado nas questões que as pessoas abordavam e, muitas vezes, era capaz de as ajudar a pensar e a resolver essas questões. Até começou a acontecer que quando várias pessoas estavam a discutir de forma acalorada alguma dificuldade sem vislumbrarem saída, o Homem que ouvia discretamente, discretamente pedia para falar e dava alguma ideia ou sugestão que as pessoas, sem grande resistência achavam uma boa forma de tentar resolver a dificuldade. O que era mais interessante para as pessoas, era o facto de o Homem, sem ter feito muitas perguntas, não era o seu jeito, parecer conhecê-las bem, falava para cada um da forma que cada um achava mais interessante e preocupava-se com o que parecia preocupar cada um. Havia alturas em que alguma dificuldade maior parecia crescer e o Homem, sempre com aquele ar calmo e ao mesmo tempo seguro de si, olhava para mais longe e, tranquilamente, apontava um caminho que as pessoas confiadamente aceitavam. O Homem tinha uma outra coisa de que as pessoas gostavam, por vezes, em algumas conversas ou decisões, afirmava serenamente que aquela pessoa tinha uma boa ideia e que seria interessante considerá-la. As pessoas foram-se, assim, habituando a sentirem-se bem com a companhia do Homem.
Um dia, alguém estranhou que, apesar de já o conhecerem, não se sabia o nome do Homem.
Chamava-se Líder.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

PAIS, FILHOS E ESCOLA

A propósito da petição sobre a responsabilidade dos pais, hoje em discussão na AR, lamento o pessimismo mas não acredito que a “responsabilização” dos pais possa ser decretada. A educação nas sociedades actuais, escolar e familiar, é uma tarefa razoavelmente complexa e com contornos bem diferentes dos de gerações anteriores, pelo que os discursos frequentes que começam “mas dantes … antigamente não, etc.” são de pouca utilidade. Dizer que os pais que não aparecem regularmente na escola são demitidos ou irresponsáveis é o mesmo que afirmar, um exemplo fresco, que a falta de aproveitamento dos alunos se deve exclusivamente ao trabalho dos professores o que, obviamente, não colhe.
Numa nota telegráfica e sem hierarquizar vejamos algumas dimensões que entendo envolvidas na afirmada “desresponsabilização” dos pais, os estilos de vida actuais sobretudo em zonas urbanas e suburbanas, a organização do trabalho, a precariedade do vínculo e a legislação nesta matéria, o baixo nível de escolarização de muitos pais contributivo para uma menor valorização da escolarização dos filhos, a relação assimétrica entre pais e escolas, a cultura que ainda está muito presente na relação entre educadores e pais, assente sobretudo no feedback avaliativo e menos na ajuda e orientação educativa, o facto de os pais, muitos deles, estarem tão perdidos quanto os professores (e sem a formação destes) para lidarem com crianças e adolescentes bem diferentes do que foi a sua própria experiência. Não esqueço que existem pais irresponsáveis e demitidos, mas não são a maioria dos pais que a escola não alcança e que não alcançam a escola e os casos graves, agressões a professores, por exemplo, são um caso de polícia e de justiça, não são resolúveis no contexto da escola e radicam nos valores actualmente “em vigor” no mundo que construímos.
Do meu ponto de vista, introduzir multas ou “decretar” a responsabilização, pode ter um efeito contrário ao pretendido, pais mais “afastados” e em piores condições de serem eficazes. Entendo que ajustamentos na organização do trabalho, definição de recursos nas escolas que permitam alcançar e apoiar os pais, maior fiscalização do cumprimento da legislação sobre a parentalidade e o seu melhoramento, atenção e intervenção precoce face a sinais de negligência paternal, entre outros aspectos seriam melhores contributos do que um procedimento basicamente de repressão ou “responsabilização decretada”.
Insisto, a esmagadora maioria dos pais são pais responsáveis, querem ser bons pais, não retiram prazer dos problemas criados pelos filhos, só que estão aflitos e muitas vezes sós com esses problemas. Talvez já tenham ouvido muitas vezes expressões do tipo ”veja lá se faz alguma coisa do seu filho, que nós, escola, já não sabemos o que fazer”. E o pai sabe?

UMA CERVEJA FAZ BEM

Peço-vos a maior das desculpas por não abordar nenhum daqueles assuntos que marcam a agenda do nosso quotidiano, a crise, a gripe A H1N1, a Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN e a eventual libertação de Oliveira e Costa, a colocação dos professores e os milhares de “descolocados” o êxtase mediático do triunfo de C. Ronaldo em Madrid, o novo capítulo da peça “O Pequeno Martim e a sua Pequena Mãe”, a candidatura a duplo emprego no PS, etc., mas não é grave, amanhã ainda estarão na agenda. É que na leitura do JN fiquei agarrado a um estudo realizado pela Universidade de Barcelona sobre os efeitos positivos do consumo moderado da cerveja após a realização de exercício. Eu ando a defender isto há anos embora sem a base científica agora providenciada por este e outros estudos citados na peça. Os olhares de reprovação que suportei por umas cervejas após as futeboladas ou uma partida de ténis, pois fiquem sabendo, eu sabia, que estava a cuidar de mim, estava a tratar da minha recuperação e hidratação.
É assim que deve funcionar a investigação científica, buscar contributos e saberes para o nosso bem-estar. Um grande bem-haja. Agora vou buscar uma “mini”.

AS PERGUNTAS E AS RESPOSTAS

Uma vez, há muito tempo, alguém me dizia que saber, é perguntar não é responder. A vida tem-me ajudado a entender, perguntando e perguntando-me, algo que de início não parecia tão claro. E quando hoje se discute o nível de conhecimento das pessoas, desde os alunos mais novinhos aos alunos do ensino superior, e se evidencia essa suposta ausência de conhecimento sobretudo pelas respostas que dão em exames ou testes, não deixando de estar atento, fico também inquieto pelas perguntas que não fazem e que, não querendo ser injusto com muitos excelentes mestres, foram “aprendendo” a não fazer. O ensino tem vindo a assentar mais na resposta e menos na pergunta. A pergunta é impertinente, a resposta é inteligente. A pergunta desestabiliza, a resposta valoriza. A pergunta é o desassossego e a inquietação, a resposta é a tranquilidade. A pergunta é a dúvida e a incerteza, a resposta é a segurança e a certeza. A pergunta é a discussão, a resposta é a conformidade. A pergunta é o receio, a resposta é a confiança. A pergunta é a subversão, a resposta é a submissão. Aos poucos vão-nos convencendo que é melhor ter as respostas do que ter as perguntas.
É, cada vez mais me convenço que tão importante como saber dar respostas, é saber fazer perguntas. Que vos parece?

terça-feira, 7 de julho de 2009

A SERIEDADE DAS ANÁLISES

É evidente para qualquer pessoa, já aqui o referi várias vezes, que a agenda política tomou decididamente conta da educação, é certo que não só da educação. Na questão dos exames essa situação é evidente, não vejo outra forma de entender que a Sociedade Portuguesa de Matemática ache os exames fáceis e a Associação dos Professores de Matemática ache os mesmos exames adequados. Agora é a leitura dos resultados dos exames feita por Valter Lemos, um exercício delirante. Diz o Secretário de Estado que a duplicação da taxa de reprovação a Matemática A no 12º e o abaixamento da média se deve ao discurso produzido de que os exames são fáceis. Notável, os alunos, ou as suas famílias, ouvem e lêem estas coisas e, vai daí, estudam menos. É certo, diz ele, que não parece fácil quantificar os “efeitos prejudiciais” do discurso sobre os exames e que levou ao “desincentivo ao estudo e ao trabalho” por parte dos alunos.
Na minha modesta opinião esta é a pior e menos útil das formas de olhar para os resultados dos alunos. Transformá-los em luta política de má qualidade, seja por parte do ME, seja por parte da oposição, seja por parte de outros actores com agenda própria mascarada de opinião publicada em editoriais ou de discurso de sociedades científicas, é garantir que a mudança fica mais longe.
A educação e a qualificação as pessoas, como outros aspectos, são demasiado importantes para serem objecto de política pequenina.

A INGRATIDÃO DOS PROFESSORES

O Público de hoje retoma uma matéria que nos últimos tempos tem vindo a ganhar visibilidade, a fuga de muitos professores para a reforma antes do tempo e com custos económicos de monta por penalização. O trabalho é ilustrado com as histórias de duas docentes cuja capacidade de resistência se terá esgotado.
Sempre que esta questão é tratada é também habitual afirmar-se os professores “retirantes” pertencem ao grupo dos melhores. É igualmente de registar que, dos motivos que levam estes professores a abandonar o sistema com custos pessoais nunca, mas nunca, são referidos problemas ou cansaço face à essência do trabalho de um professor, o ensino e a relação com os alunos.
De facto, as razões apontadas prendem-se sempre com as consequências da PEC – Política Educativa em Curso. Referem-se à injustiça de um impensável Estatuto que divide os professores em dois grupos com base num critério delirante, referem-se à avaliação que desejam mas em moldes correctos, justos e eficazes, referem-se à burocracia que submerge muito do seu tempo, referem-se ao clima instalado nas escolas, enfim, a um mal-estar que empurra para fora milhares de excelentes profissionais.
Por outro lado, quando ouvimos os responsáveis políticos pela PEC o discurso é significativamente diferente, falam de estabilidade, tranquilidade, normalidade, sucesso, qualidade, etc., numa espécie de remake da teoria do oásis, agora em versão educativa. Provavelmente, não estarão a falar da mesma realidade.
Mas se estiverem é grave.

OS MIÚDOS NO LOCAL DE TRABALHO DOS PAIS

Creio que no Domingo à noite no Telejornal da RTP1 foi apresentada uma peça abordando a questão de durante as férias algumas pessoas precisarem de levar os seus filhos para os seus locais de trabalhos. Na introdução ficou desde logo a promessa de ouvir os especialistas. Mostraram-nos então três entusiasmados gaiatos filhos de funcionários(as) da estação que exploravam alegremente estúdios, redacção e um razoável espaço relvado onde todas as brincadeiras eram permitidas. Achei eu e os miúdos disseram que era fixe. O especialista que veio depois, um psicólogo, sustentou que seria melhor procurar outras alternativas, da muita oferta agora disponível, e que, no caso de ser necessário, se pudessem juntar mais crianças nos locais de trabalho dos pais. Imaginei, de novo, um ATL, com alguém a programar excelentes actividades que tornam excelentes os miúdos.
Fiquei a lembrar-me de quando era pequeno ter sempre uma enorme vontade de ir para o trabalho do meu pai, serralheiro na indústria naval, e de, curiosamente, também levar muitas vezes o meu filho nas suas férias para o meu local de trabalho por vontade expressa dele. Devo dizer-vos que se pudesse ia todos os dias com o meu pai, brincava com os meus amigos quando voltasse à tarde, no verão os dias são grandes e ainda se brincava na rua. Entusiasmava-me o ambiente das oficinas e o trabalho nos barcos, a jóia da coroa era o dia em que algum barco já reparado era lançado à água. Experimentem perguntar aos miúdos que conhecem se gostam de ir muitas vezes ao trabalho dos pais. Aposto que vão dizer que sim. Era bom que nós também gostássemos e pudéssemos ir muitas vezes ao trabalho deles, a escola.
É verdade que ainda não tinha sido inventada a oferta enorme que agora existe para que os miúdos não tenham tempos livres, nem a opinião dos especialistas sobre tudo e mais alguma coisa, nem os pais tinham ainda aprendido a exigir a excelência em todos os desempenhos dos seus rebentos esperando ansiosos que desde pequenos sejam cientistas, artistas e desportistas de alto nível o que os leva a transformá-los em agendas de actividades e programas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

INGENUIDADES

Sempre mostrei alguma reserva face ao alarido em torno do adormecido e ingénuo, foi ele que disse, Vítor Constâncio e da supervisão do BdP na caso do BPN, considerando estranha a aparente atitude de maior preocupação com a perseguição e condenação do polícia, do que com a condenação dos eventuais delinquentes. Por outro lado, como é sabido, estas coisas da justiça e do grande crime de “colarinhos brancos” não são “apenas” um problema de polícia e de justiça, são, sobretudo, um problema de política.
Mais uma vez isto pode ser comprovado com o que se pensa vir a ser o conteúdo do Relatório elaborado pela Senhora Deputada, Sónia Sanfona, dos trabalhos da Comissão de Inquérito da AR sobre o caso BPN. O Relatório espelhará, certamente, o entendimento que o PS tem do caso, no limite do tolerável pela opinião pública, ou seja, tentando não levantar muitas ondas que o mar já tem agitação que chegue. O Relatório não espelhará o que foi apurado em sucessivas audições dos vários actores.
Naturalmente que tais procedimentos, que não são exclusivos do PS mas de quem na circunstância está no poder, minam a confiança e a credibilidade dos cidadãos quer na classe política, quer no sistema de justiça como, aliás, vários estudos o vão demonstrando.
É um problema de estrutura, não é de conjuntura.

MENORES, ENTRE OS TRIBUNAIS E A RUA

Da imprensa de hoje gostava de sublinhar duas referências direccionadas para o universo dos miúdos e jovens e dos seus problemas.
O DN cita António Martins, presidente da Associação de Juízes Portugueses, que reclama a constituição urgente de 42 Tribunais de Família e Menores. Existem 16 mas o sistema judiciário envolve 58 círculos pelo que é urgente dotar todo o sistema de tribunais especializados de forma a minimizar o risco de processos que regularmente se verificam, sendo alguns bem conhecidos pelo impacto mediático. Entende também António Martins que os Tribunais de Família e Menores deveriam, todos, possuir recursos humanos adequados às suas competências, designadamente técnicos de serviço social e psicólogos. É também importante sublinhar a necessidade de revisão do enquadramento legal no que respeita à melhor protecção do superior interesse da criança. De facto, se atentarmos no que se passa nesta matéria, esta posição de António Martins parece de verdadeiro interesse público e ir no sentido de optimizar os dispositivos de apoio a crianças e jovens. Considerando o que regularmente sabemos do funcionamento dos Tribunais de Família e Menores já instalados, acrescentaria a necessidade de uma particular atenção na formação dos magistrados a desempenhar funções nestes Tribunais.
A segunda referência, retirada do CM, prende-se com a actividade do Instituto de Apoio à Criança que passa o 25º aniversário. Através do Projecto “Trabalho de Rua” iniciado em 1989, foram retidas da vida na rua cerca de 600 crianças. É de saudar o empenho e o trabalho desenvolvido pelo IAC. De acordo com os seus responsáveis o problema das crianças a viver na rua parece minimizado, emergindo actualmente como preocupação fortíssima a exploração sexual e abuso de crianças e jovens e o fenómeno das crianças desaparecidas que correm o sério risco de entrar em circuitos de prostituição, sendo que a net parece estar a desempenhar um papel de relevo nestes processos.
Parece-me extremamente importante que a comunidade seja alertada para estas questões de modo a que possamos ir desenvolvendo e instalando uma verdadeira cultura de protecção das crianças e jovens.
Enquanto não, as televisões portuguesas, entre as quais a pública RTP, preparam-se para transmitir em directo a apresentação em Madrid, (não é um jogo, é apenas a apresentação), de um miúdo a quem obrigaram a crescer à pressa, portanto mal, o Cristiano Ronaldo. Prioridades.

A DIGNIDADE

(Foto de António Maia)

A dignidade é o amparo de um Homem. A dignidade está em amar e ser amado. A dignidade está em fazer e ser reconhecido. A dignidade está em ser e poder ser. A dignidade está em viver, não em sobreviver. A dignidade está em ajudar e ser ajudado. A dignidade está no direito, não no privilégio.
Quando nos retiram a dignidade ficamos desamparados. É grande, é enorme, a quantidade de gente desamparada.

domingo, 5 de julho de 2009

ESPÍRITO DE MISSÃO E DE SACRIFÍCIO

Apesar da perplexidade do próximo Provedor de Justiça, não há como ficar admirado com os resultados recentemente divulgados pela SEDES sobre a percepção pouco generosa dos cidadãos sobre a Qualidade da Democracia. Veja-se a reacção negativa de algumas vozes sobre o óbvio entendimento por parte da direcção do PS de que não se pode simultaneamente ser candidato nas legislativas e nas autárquicas. Este entendimento só peca por tardio, já se tinha poupado o caso de Elisa Ferreira e de Ana Gomes candidatas nas Europeias e indicadas como candidatas às autárquicas. Nem nos casos de sobredotação política, raros entre nós se exceptuarmos as personagens conhecidas respectivamente por Professor e por Génio Pacheco Pereira, é possível acreditar que se possa desempenhar com qualidade dois cargos. Por outro lado, mesmo que não se pense acumular, ou que não seja possível a acumulação, a ética e a transparência deveriam determinar que uma pessoa se candidata a um só lugar. Como é evidente, as reacções negativas à impossibilidade de acumular candidaturas só vem dar razão aos que, caluniosamente é claro, afirmam que “eles querem é garantir um tacho”, ou poder. Por mim, posso garantir-vos que isto nem sequer me passa pela cabeça. Acredito fundamentalmente que o espírito de missão e de sacrifício de algumas pessoas dos diferentes partidos do chamado “arco do poder” que assumem desinteressadamente carreiras políticas, as leva a desejarem servir a comunidade em todos os lugares disponíveis e acessíveis. É o tipo de pessoas que dá sentido ao mítico enunciado de J.F. Kennedy, “Não perguntem o que o país pode fazer por vós, mas perguntem o que podem fazer pelo país”.
O problema é que são uns incompreendidos pelo povo que não reconhece o desprendimento e o sacrifício que as pessoas assumem. Ainda por cima, o povo quando responde a inquéritos acha que a democracia está doente. Ingrato é o que é.

OS NOMES QUE CHAMAMOS

O trabalho hoje apresentado pelo Público sobre os nomes que os portugueses estão a atribuir aos seus rebentos, parece-me uma feliz opção para intercalar com as notícias da crise, da gripe A H1N1, do nauseabundo cenário político do burgo, da apresentação do Cristiano Rónaldo em Madrid, etc.
Devo dizer que fiquei um pouco inquieto, um mundo sem “Sónias Andreias”, sem “Kátias Vanessas”, sem “Sandras Cristinas”, sem “Tatianas”, sem “Fábios”, sem “Mauros” vai ser, certamente, um mundo diferente. Por outro lado, parece haver uma tentativa de sofisticar um pouco as escolhas, provavelmente em resultado do Programa Novas Oportunidades. Mantém-se o popular João, mas temos o Rodrigo, o Martim, o Tomás, a Mariana, a Matilde entre outras que nos garantem, enfim, outra apresentação.
Mas o que me deixou mais apreensivo face a esta questão, é que parece que o povo está mesmo a voltar as costas aos nossos mais gloriosos nomes, sobretudo nos rapazes, não se encontra Manuel, António, José, Paulo, Carlos, etc. Será que vamos deixar de ter um Carlos Jorge, um António Manuel, um Manuel Carlos, um José Manuel, um António João, um Paulo Jorge, tudo nomes na nossa melhor tradição?
Até nos nomes! Estão a mexer com a nossa identidade.

sábado, 4 de julho de 2009

JUNTA-TE AOS BONS, SERÁS COMO ELES, ...

O DN noticia hoje que na Escola Dr. Azevedo Neves, na Damaia, a Direcção deu instruções, confirmadas por alguns professores, para que se constituíssem turmas de nível, bons alunos, médios e maus. Nada de novo, continua a proceder-se em muitas escolas à constituição de turmas “boas” e “más” com diferentes critérios, rendimento escolar, comportamento, filiação (por exemplo, colocação dos filhos de docentes e funcionários em determinadas turmas), etc. Tal procedimento, não sustentado em termos normativos, decorre da cultura e tradição instaladas em algumas escolas e, embora “criticada” nos discursos, é tolerada na prática.
Em primeiro lugar, assenta num enorme equívoco a busca da homogeneidade, não existem grupos humanos homogéneos em termos globais, ou seja, um grupo só de rapazes será homogéneo no critério género mas continua, obviamente, a ser um grupo extremamente heterogéneo. Na actual sociedade, a característica mais presente em qualquer sala de aula é a diversidade entre os alunos, diversidade que é impossível esbater ou combater, antes pelo contrário, tem que ser potenciada. Em segundo lugar, não existe nenhuma evidência de que os maus alunos juntos ficarão melhores. Se se perguntar às escolas quais os resultados escolares das turmas de repetentes, verifica-se que os resultados continuam maus. A justificação de que tendo os maus juntos se torna mais fácil apoiá-los é um argumento de natureza logística, não assenta na defesa dos alunos porque a eficácia não aumenta. São também reconhecidos os potenciais efeitos negativos de manter juntos os piores alunos em termos de desenvolvimento pessoal e de projecto de vida.
A verdadeira questão é a organização e qualidade dos dispositivos de apoio às dificuldades dos alunos, a existência de recursos humanos qualificados para tal tarefa, o número de alunos por turma (em algumas escolas) e mudanças na cultura de muitas escolas (para além da constituição de turmas de nível, por vezes, os professores menos experientes “levam” com as turmas dos “índios”).
O povo costuma dizer, “junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que eles”.

O BANCO DOS SONHOS

“… e então pensei que uma forma de poder proporcionar alguns momentos de bem-estar às pessoas poderia ser a criação de um Banco de Sonhos. A coisa funcionaria mais ou menos nestes termos. O Banco de Sonhos teria um fundo de Sonhos a que as pessoas poderiam recorrer quando julgassem necessário. Para facilitar a tarefa, os sonhos seriam organizados por grandes áreas temáticas. Por exemplo, haveria a secção dos Sonhos de Realização Individual onde se poderiam encontrar um sonho com profissão que sempre se desejou, um sonho de pessoa rica, um sonho de pessoa bonita, de pessoa sempre nova, etc. Poderíamos encontrar a secção dos Sonhos de Afecto, em que existissem sonhos com a pessoa que sempre desejámos ou sonhos com relações bonitas e eternas com as pessoas de quem gostamos. Uma secção imprescindível seria a dos Sonhos para a Comunidade, em que se disponibilizavam sonhos de uma comunidade sem gente a sofrer, sonhos de uma comunidade com putos felizes, sonhos de solidariedade e tolerância, sonhos sobre lideranças políticas verdadeiramente preocupadas com o bem-estar comum, etc. No fundo, haveria secções que pudessem acolher os mais variados sonhos.
Neste Banco, cada um de nós entrava, dirigia-se à secção de sonhos que mais lhe interessasse, escolhia um para levar, usava-o durante algum tempo e depois devolvia-o para que pudesse ser utilizado por outra pessoa. O abastecimento de sonhos para o Banco seria …”
De repente, acordei do meu sonho e não cheguei a perceber como se construiria o Banco dos Sonhos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O ESTADO DA DEMOCRACIA

Agora que a poeira levantada no debate da AR sobre o Estado da Nação assentou, talvez possamos voltar ao Estado da Nação. E uma boa forma de olhar para esse estado é analisar os resultados hoje divulgados de um estudo promovido pela SEDES sobre A Qualidade da Democracia, que pode ser lido no link em baixo. Do conjunto enorme de dados relevam duas ideias fundamentais e prevalentes na maioria dos inquiridos, a percepção de uma justiça ineficaz, injusta e não merecedora de confiança e, também uma maioritária falta de confiança na democracia. Este cenário, para além dos aspectos económicos, é que deveria constituir-se como o centro de um debate sobre o estado da nação. Lamentavelmente, episódios como o do debate de ontem contribuem para o mal-estar espelhado nos resultados. Não é fácil neste espaço abordar as múltiplas razões para este quadro, mas a cultura e praxis política promovidas pela partidocracia instalada terão, certamente, uma fortíssima responsabilidade no afastamento, os cidadãos estão inibidos da participação cívica fora do enquadramento partidário, e na desconfiança. Nesta altura, toda a gente fala de rejuvenescimento geracional nas lideranças políticas e em mudanças de estilo mas na substância nada de novo se regista, caras menos conhecidas, mas comportamentos e discursos demasiado conhecidos.
Por vezes, em conversas sobre este tipo de questões com jovens e jovens adultos sinto um enorme embaraço e dificuldade em construir um discurso optimista e confiante na capacidade de regeneração do sistema. Alguns dos meus interlocutores afirmam, “está assim porque eles querem assim e continua assim porque eles não permitem que mude”.
E nós? Nós limitamo-nos a responder aos inquéritos dos estudos e às sondagens. Até quando?
http://static.publico.clix.pt/docs/politica/estudodasedes.pdf

A HISTÓRIA DO INSULTO

Como sempre tenho defendido sou adepto de uma educação para os valores, o que não significa uma educação para a santidade. Esta declaração tem por objectivo proteger-me dos vossos juízos face à história que vos conto de seguida.
Era uma vez um Rapaz de seis anos que andava a viajar com os pais. Um dia, estavam alojados num parque de campismo nos arredores de Estocolmo e o Rapaz afastou-se um pouco em direcção a uns equipamentos daqueles que estão nos parques infantis para a miudagem se exercitar, ganhar competências e auto-estima como agora se diz. Nos aparelhos já brincavam alguns miúdos de idade próxima à do Rapaz. Algum tempo depois, os pais do Rapaz repararam que os miúdos se afastavam e que o seu Rapaz se aproximou com cara de problema resolvido.
Que aconteceu Rapaz?
Estavam ali uns miúdos que começaram a meter-se comigo.
E então?
Chamei-lhes suecos, foram-se logo embora.
Já repararam na elegância deste insulto? Só mesmo os gaiatos pequenos.
Esta noite, não sei bem porquê, lembrei-me desta história.