quinta-feira, 23 de julho de 2009

O MISTÉRIO DE SER PESSOA

Da nossa tentativa de lidar com a tragédia da morte fazem parte os discursos sobre a sua “naturalidade”, é não natural nascer como morrer e sobre a sua inevitabilidade, “todos temos um dia”. Por outro lado, os tempos que correm e o seu quadro de valores, a acessibilidade à informação e a forma como esta é tratada em boa parte da comunicação social a morte quase se banalizaram o espectáculo da morte. No entanto, a morte continua a ser algo que para cada um de nós é uma interpelação contendo múltiplas e insuspeitas dúvidas e inquietações.
Vem esta introdução a propósito de uma notícia de rodapé que me impressionou, numa zona da região Oeste do país, mãe e filha, combinam uma última viagem juntas e suicidam-se à passagem de um comboio. A notícia que li não adiantava explicações. Fiquei a pensar nas decisões que tomamos, nos seus fundamentos e no seu alcance. De que tragédia mãe e filha terão fugido para entrarem noutra tragédia? Que laços tão fortes ligavam aquelas pessoas que sustentaram uma decisão de morrer juntas de forma tão devastadora? Que alucinação ou mistério poderá perceber a morte como eventual forma de chegada a um paraíso? Em que valores e princípios se inscreve um decisão desta natureza?
O mistério de ser pessoa na sua expressão trágica.

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