quinta-feira, 30 de abril de 2020

TRAGO A FISGA NO BOLSO DE TRÁS


Ontem durante uma conversa com uma jornalista abordou-se a questão que aqui muitas vezes já tenho referido, o risco significativo de alguns alunos, por várias razões, poderem ficar para trás no que respeita à escola.
Apesar do esforço gigantesco de professores e escolas trazer a escola para dentro de casa dos alunos é uma tarefa impossível.
Como já tenho dito, a escola tem de chegar, mas não pode chegar … igual ou quase ainda que variando suportes.
É verdade que muitas situações estarão a correr bem ou, pelo menos, de forma positiva.
No entanto, conhecem-se também muitos relatos e referências, quer de pais, quer de professores, à dificuldade manter os alunos ligados e envolvidos nas tarefas escolares propostas, referindo situações de abandono crescente.
Lembro-me da música dos Rio Grande, “A fisga”.
“Trago a fisga no bolso de trás
E na pasta o caderno dos deveres
Mestre escola, eu sei lá se sou capaz
De escolher o melhor dos dois saberes
(…)
Não, em número que temo crescente até ao fim das aulas muitos alunos, por diferentes razões, não vão ser capazes de “escolher o melhor dos dois saberes”.
O que podemos fazer para ajudar na escolha? Como estamos a planear o próximo ano para ir buscar os que ficaram com a fisga?
O caderno de encargos é pesado e difícil.


quarta-feira, 29 de abril de 2020

O TROFÉU

Embora não esqueça outras realidades, não é possível, por cá estamos num tempo em que boa parte das histórias que envolvam miúdos se passam em casa.
Permitam-me a partilha de uma história que tornou os meus dias de confinamento bastante mais leves, se assim posso dizer.
O contacto com os meus netos, como com toda a gente, é assente no WathsApp ou no Facetime entre outras ferramentas, não sei se já ouviram falar nestas coisas.
O meu neto Grande, o Simão, é um miúdo muito dado ao que ele chama de “projectos” que vai inventando, realizando e reformulando com o Lego ou com “trabalhos manuais”, também na sua linguagem.
Todos os dias, conforme a lida dele, a escola em casa, ou a minha, dar escola na casa dos meus alunos e alunas, passamos algum tempo com projectos e em trabalhos manuais, sendo a minha intervenção em modo virtual, como agora se usa.
Um destes dias o Simão com uns cartões velhos, plástico, tesoura, colas e mais uns artefactos envolve-se empenhadamente em mais um projecto e eu, com às vezes acontece, vou assistindo em silêncio à sua tarefa, também nos entendemos sem falar.
Alguns minutos depois.
Simão, isso que estás a fazer é o quê?
É um troféu.
Um troféu?! E por que razão estás a fazer um troféu?
É para te dar.
A mim! Porquê?
Porque tu és um bom Avô, ensinas-me muitas coisas.
A sério? Fico contente, tu e o Tomás também são uns bons netos e gosto de vos ensinar coisas. Também aprendo coisas contigo, no Lego não sou muito bom e aprendo com os teus projectos.
Pois é.
E o que tem o troféu, o que são essas coisas?
Tem este lápis porque me ensinas fazer desenhos, tem esta roda porque me ensinaste a andar de bicicleta e tem esta coisa redonda porque me ensinaste a jogar à bola.
Muito obrigado, Simão. Agora guardas o troféu e quando o bicho se for embora podes dar-mo.
Não é preciso Avô, quando o meu pai for à tua casa levar coisas leva o troféu.
Já chegou e eu sou um homem de sorte, recebi um lindo troféu
E são também assim os dias do confinamento.



terça-feira, 28 de abril de 2020

DOS MEDOS


Uma das referências mais presentes nestes tempos tem sido o medo, o desconhecimento, a rapidez, os discursos falados e escritos, o impacto brutal na nossa vida, geraram uma enorme inquietação, medo. Agora que se começa a falar na reversão de algumas restrições … refere-se o medo, outra vez o medo.
No entanto, o medo, os medos, estão sempre presentes e no mundo em que me movo, a educação, os medos são objecto de questões frequentes, sobretudo em conversas com pais.
De uma forma geral e apesar das preocupações que sempre emergem, as falas dos pais dos gaiatos mais pequenos parecem um pouco mais serenas que as que oiço a pais de gente um pouco mais velha, adolescentes, por exemplo. Na verdade, por várias razões, os pais dos adolescentes, parecem, quase sempre, um pouco mais assustados, por assim dizer.
Por outro lado, muitos pais expressam forte inquietação com os medos que acham que os seus filhos revelam e, logo de seguida, dos muitos medos que eles próprios parecem sentir, seja pelos medos dos filhos seja pelos seus próprios medos.
Costumo dizer que os que de nós, e somos muitos, lidamos com miúdos e o seu universo, quer como "amadores", quer como "profissionais, temos a responsabilidade de manter o optimismo necessário e suficiente para acreditar que somos capazes de com eles construir um mundo onde caibam os seus, nossos, projectos, apesar de saber, aprendi há muito, que muitos percorrerão uma estrada difícil, cheia de curvas e de riscos a que alguns, esperemos que poucos, terão grande dificuldade em sobreviver sem dificuldades sérias.
Apesar de nos dias de chumbo que vivemos também perceber muitos medos no que se ouve e lê vindo dos pais, continuo convicto de que chegaremos a um depois deste sonho mau e outros dias mais radiosos virão.
Vão, vamos lá, tenho a certeza.
Por nós, pelos nossos filhos, pelos filhos dos nossos filhos …

segunda-feira, 27 de abril de 2020

DA "EDUCAÇÃO FAMILIAR EM TEMPOS ESTRANHOS"


No âmbito do ciclo de comunicações promovido pela minha escola, ISPA – Instituto Universitário, partilhei um conjunto de ideias sobre a “Educação familiar em tempos estranhos” que pode ser acompanhada.
Não há manual de instruções, não existem superpais, superfilhos ou superprofessores. Estamos todos a tentar lidar com uma situação muito complexa, influenciada por múltiplas variáveis, interiores e exteriores aos contextos familiares.
A sala de aula não cabe num “cantinho” em casa de cada aluno, quando o aluno tem “cantinho”, os pais não podem ser professores e os professores terão os alunos à vista, mas mais dificilmente terão os alunos, todos os alunos, próximo. Não é fácil a tarefa de ninguém.
A orientação geral para tudo o que se procura realizar deveria ser “simplicação” que não significa “facilitação”.
Neste sentido deixei algumas reflexões, se quiserem passar por lá e devolver ideias seria interessante.

domingo, 26 de abril de 2020

DEFICIÊNCIA, OS RISCOS DA EXCLUSÃO


Como é reconhecido, em situações de dificuldades ou constrangimentos os grupos sociais minoritários com condições mais vulneráveis sofrem um impacto significativamente maior dessas circunstâncias adversas.
O representante português no Fórum Europeu das Pessoas com Deficiência alerta para que no contexto que atravessamos os riscos de pobreza e exclusão são bem mais elevados e exigem atenção e políticas públicas adequadas.
Têm sido divulgadas situações de enorme dificuldade por parte de famílias com crianças, jovens ou adultos com deficiência, quer no acesso à educação que ficou mais distante, quer no acesso a apoios de natureza diferenciada.
A verdade é que a voz das minorias é sempre muito baixa, ouve-se mal, existem variadíssimas áreas em que são significativas as dificuldades colocadas às pessoas com deficiência, designadamente saúde, acessibilidades, educação, apoio social, qualificação profissional e emprego, em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes.
Importa também sublinhar que os direitos fundamentais não podem ser de geometria variável em função de contextos ou hipotecados às oscilações de conjuntura ainda que tenhamos consciência da excepcionalidade destes tempos.
Parece necessário reafirmar mais uma vez que os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como lidam com os grupos mais vulneráveis e com as suas problemáticas. Este entendimento é tanto mais importante quanto mais difíceis são os contextos que se vivem.

sábado, 25 de abril de 2020

DO 25 DE ABRIL


A 25 de Abril, para as pessoas da minha geração, é impossível não falar do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril. Este ano o passar desta data foi envolto em uma polémica que, lamento, não faz sentido.
Nos tempos excepcionais que estamos a atravessar o Parlamento tem estado a funcionar ainda que em circunstâncias também elas excepcionais. Seria, aliás, inadmissível que assim não fosse. O Parlamento é o núcleo de uma sociedade democrática, não pode estar “confinado”. Assim sendo, e num dia em que se comemora a recuperação da democracia representativa o Parlamento deve cumprir a sua função, funcionar.
É verdade que desde aquele 25 de Abril sempre tivemos os que se percebem como donos do “25 de Abril” e produzem afirmações que o desvirtuam e os que entendem que não há muito para comemorar. A polémica tem ver com isto, não com questões sanitárias. Aliás, por falar em questões sanitárias julgo de sublinhar que o que de extraordinário ainda que com sobressaltos fruto das políticas públicas e da natureza e volume dos problemas tem sido feito pelo Serviço Nacional de Saúde acontece porque o SNS existe e existe na sequência do 25 de Abril. O resto é a espuma dos dias.
Voltemos ao que hoje recordamos e não queremos esquecer.
Há algum tempo, numa conversa informal com alunos, jovens, do ensino superior, alguns questionavam-me sobre como era a vida académica, e não só, antes desse 25 de Abril. Ao procurar dar-lhes um retrato desse tempo e do que era a nossa vivência diária, deu para perceber alguma perplexidade nos jovens não tanto pelas referências às grandes questões, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do dia-a-dia.
Histórias do clima de desconfiança e suspeição sobre a pessoa do lado que nos prendia dentro da gente; do livro que se não tinha; do filme que se não podia ver; do disco que se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer; da conversa que se não podia ter; do professor de quem não se podia discordar; da ideia que se não podia discutir; da repressão visível e, mais pesada, invisível; do beijo que não se podia dar em público; do livro único para formar um pensamento único; de tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria pequenos.
Aquela conversa foi muito estimulante. É certo que me deixou a doce amargura da idade mas, mais interessante, fiquei convencido que aquele pessoal não permitirá nunca que se possa voltar a ter histórias daquelas para contar a gente mais nova.
Acho até que esta gente não vai mesmo estudar para ser escrava, esta gente vai, apesar de por vezes se sentir à rasca, chegar ao futuro.
Gosto de acreditar nisto. Também por causa daquele 25 de Abril.
E porque é mais fácil e mais bonito, "Traz outro amigo também". Agora que estamos confinados e a mergulhar em tempos económicos e socialmente muito duros mais do que nunca precisamos de "outro amigo" e de "outro amigo" e de ...


UM MINISTRO CONFINADO E À DISTÂNCIA


A entrevista do Ministro da Educação ao Jornal 2 da RTP foi interessante e pedagógica. Mostrou que o Ministro tem estado confinado respeitando as orientações das autoridades de saúde e parece um Ministro à distância como a educação passou a ser.
Sim Senhor Ministro, as escolas, os professores e sim, também o Ministério, têm feito um esforço gigantesco para num curto espaço de tempo fazer chegar aos alunos a escola a que não podem aceder.
Mas não Senhor Ministro, a resposta não chega a todos, temos muitos alunos que estão a aumentar a sua distância para a escola e temos muitos professores com dificuldades em chegar aos seus alunos. Esta distância não é virtual, é real. O caderno de encargos do próximo ano avoluma-se.
Sim Senhor Ministro, muitos alunos terão recebido computadores e melhorado o acesso à net, mais um esforço enorme que deve reconhecer-se de autarquias e outras estruturas. Mas não Senhor Ministro, se ouvir o testemunho de muitos pais e professores ficaria a saber que em muitos contextos familiares as dificuldades são enormes e por várias razões.
Sim Senhor Ministro, entendo que não há milagres ou abordagens infalíveis, ninguém estaria preparado para uma situação desta natureza, mas Senhor Ministro é necessário não ter um pensamento mágico e acreditar que a realidade é o que nós dizemos que é ou o que desejamos que ela deva ser.
Não era isto que gostava de ter ouvido de um Ministro da Educação nestes dias.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

MIÚDOS COM FOME NÃO APRENDEM


Com base no Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS) de 2016 o DN recupera alguns dados que nos tempos actuais merecem particular atenção.
Considerando os participantes no estudo, alunos de 4º ano, em Portugal 7,33% refere sentir fome "todos os dias". A média para estes dois grupos de resposta nos 47 países envolvidos no estudo é 26%.
Nunca é demais chamar a atenção para a situação de extrema dificuldade que muitas famílias atravessam para assegurar condições básicas de qualidade de vida como a alimentação. Nos tempos que atravessamos, os riscos sobem apesar do esforço de manter muitas cantinas escolares abertas para apoio a alunos
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares como o rendimento escolar ou o comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói, mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias não resisto a recuperar uma história que conto muitas vezes, coisas de velho como sabem, e que foi umas das maiores e mais bonitas lições sobre educação que já recebi.
Aconteceu há já uns anos largo em Inhambane, Moçambique, também conhecida por Terra da Boa Gente. Num início de manhã íamos a passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante as semanas que lá estive em trabalho, parou a olhar. Não estranhei, era um homem que não conhecia o significado de pressa.
Um tempinho depois disse-me que se tivesse “poderes de mandar” traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não aprendem e vão continuar pobres. E infelizes, não se riem.
Ontem hoje e amanhã. Não podemos falhar.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

DO DIA MUNDIAL DO LIVRO


Hoje, dia 23 de Abril, de acordo com o calendário que organiza as nossas inquietações cumpre-se o Dia Mundial do Livro.
Os dias de chumbo que vivemos têm múltiplos impactos. A Associação de Editores e Livreiros estima que esta situação já se traduziu num abaixamento de 83% nos livros vendidos nas livrarias, um valor impressionante e para o qual apoios já anunciados parecem ser insuficientes como o serão para muitas outras áreas.
No entanto, é imprescindível sublinhar e afirmar sempre que os livros e a leitura são bens de primeira necessidade para gente de todas as idades donde a insistência
Recordo Marguerite Yourcenar que em “As Memórias de Adriano” escrevia “A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana.”
São múltiplos os estudos que sublinham o impacto dos livros e da leitura no trajecto escolar e no trajecto pessoal, como também são muitos trabalhos que mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em geral.
Os livros têm uma concorrência fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções, designadamente aos livros.
As circunstâncias que atravessamos potenciarão esta concorrência
Apesar de tudo isto também sabemos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente e atractiva e tão actual dos "tablets", a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferente, papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações. Talvez fosse um dos eixos importantes neste cenário de ensino à distância.
Apesar dos esforços de muitos docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o apressado “copy, paste” ou resumos de leituras necessárias.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer actividade do da oferta sem fim que disponibilizam. No entanto, felizmente, realizam-se com regularidade experiências muito interessantes em contextos escolares, em iniciativas autárquicas ou conjuntas.
Temos que criar leitores, eles irão à procura dos livros ou da leitura, mesmo em tempos excepcionais.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

DO CYBERBULLYING


Ontem o calendário sublinhava o Dia Nacional de Sensibilização ao Cyberbullying. Em tempos de isolamento o mundo digital está ainda mais próximo de nós, em particular dos mais novos, o que pode implicar riscos acrescidos no que se refere ao cyberbullying. Aliás, esta questão era colocada no texto “Cyberbullying em tempos de pandemia” assinado por Sónia Seixas, Luís Fernandes e Tito de Morais no Público. Algumas notas.
Diferentes estudos sugerem que o número de adolescentes e jovens que já terão sido vítimas desta forma de bullying será superior aa 10%
 Contrariamente ao bullying presencial o cyberbullying não tem “intervalos”, normalmente os fins-de-semana pois ocorrem predominantemente nos espaços escolares. Não sendo presencial o(s) agressor(es) não tem, ou não têm, uma percepção clara do nível de sofrimento infringido o que em algumas circunstâncias pode funcionar como “travão” e inibir o comportamento agressivo.
Também por estas razões é fundamental uma atitude ajustada face a este tipo de comportamentos.
Em termos globais, sabe-se também que a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são relatados. Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção proactiva e preventiva de adultos, pais, professores, técnicos ou funcionários.
Este cenário determinaria, só por si, um empenhado investimento em recursos e dispositivos que procurassem minimizar o volume de incidências, algumas das quais de gravidade severa.
Recordo um estudo com uma escala significativa divulgado na Lancet Psychiatry evidenciando que o bullying pode assumir impactos negativos mais significativos no bem-estar psicológico dos adolescentes aos 18 anos que maus-tratos de adultos sofridos na infância. Mostra ainda que crianças maltratadas na infância são vítimas potenciais de bullying em adolescentes.
Neste contexto e dada a gravidade e frequência com que ocorrem estes episódios é imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada, nem sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando, o que pode negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Entretanto estão criados vários portais e disponíveis alguns canais de denúncia e procura de orientação e suporte dirigido a pais, professores, técnicos e, naturalmente, alunos.
Lamentavelmente, parte importante das entidades e iniciativas de apoio e suporte é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das insuficiências de recursos e na formação de técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento e identificação.
A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes, designadamente no que respeita aos assistentes operacionais com funções de supervisão dos espaços escolares, é uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa, mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme ainda que nestes tempos excepcionais o cenário esteja do avesso.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser trágico.

terça-feira, 21 de abril de 2020

"DA EDUCAÇÃO FAMILIAR EM TEMPOS DIFÍCEIS"


Umas notas no Público, “Da educação familiar em tempos difíceis”, em linha com o que tenho escrito por aqui.
(…)
Os alunos, da creche ao superior, estão em casa bem como parte significativa dos pais. Não existe manual de instruções para lidar com uma experiência desta natureza como, aliás, também não existe em qualquer circunstância.
(…)
Neste cenário tão diferenciado, não existem dois contextos familiares iguais, mais do que tentar a tarefa impossível e errada de mostrar uma receita para pais julgo ser possível apresentar alguns princípios orientadores que, adaptados conforme as idades e circunstâncias que já referi, podem contribuir para dias tão serenos quanto possível. Dificilmente o serão como os desejaríamos, mas crianças e adultos são resilientes e com capacidade de aprendizagem e adaptação.”
(…)
Para sublinhar algumas das questões que coloco no texto uma sugestão de leitura, ”Teletrabalho e aulas a três crianças. O único milagre que veremos em 2020”.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

E A PARTIR DE HOJE COM #EstudoEmCasa


Nestes tempos excepcionais e no universo da educação entra hoje nas nossas casas a iniciativa #EstudoEmCasa, a nova Telescola como lhe chamam. Uma nota para sublinhar que a semelhança com a Telescola de há décadas é pouca, nas circunstâncias, nos objectivos, nos meios e, sublinhe-se, na ausência de um professor juntos dos alunos, grupo de alunos recorde-se, a mediar a “assistência” às aulas televisivas.
Registo o esforço gigantesco de ME, escolas, docentes e famílias para que “não falte a escola” aos muitos milhares de alunos e merece reconhecimento. Com inúmeros constrangimentos e sobressaltos de diferente natureza, voluntarismo, diferenciação nas competências e meios ao dispor de escolas e professores, dispersão pulverizada de iniciativas e suportes, a ideia parece continuar a ser o impossível, instalar a sala de aula no cantinho de cada aluno.
Pensando mais nos alunos dos primeiros anos de escolaridade (mas não só), não é possível transformar o cantinho de cada aluno numa sala de aula, mesmo que os alunos tenham um “cantinho” lá em casa com algumas condições básicas. E muitos não têm.
As famílias, elas próprias, tal como os miúdos, são “cantinhos” diferentes, muito diferentes, em muitos aspectos e por várias razões. Já aqui muitas vezes falei das desigualdades nos contextos familiares e na diversidade dos alunos. Quanto mais insistirmos em ter como objectivo “replicar a sala de aula” no E@D mais a desigualdade se acentua.  
Também é verdade devo dizer, que vamos conhecendo algumas experiências interessantes e positivas, mas, justamente, porque parecem não querer replicar a sala de aula.
Já aqui escrevi um texto em se colocava a hipótese de tornar a ideia de “simplificação” como orientação de base para tudo que nesta altura for realizado para “entregar” a escola em casa dos alunos. Parecem-me essencial para os mais novos, sobretudo 1º ciclo ou educação pré-escolar, pois em anos de escolaridade posterior a situação já é um pouco diferente, embora se mantenha, do meu ponto de visa, a necessidade de se manter a “simplificação” como orientação de base.
É minha convicção que nestes dias, a grande necessidade, o grande objectivo diria, será manter os alunos ligados à escola, aos professores, aos colegas. Em tempos de isolamento, a ligação é uma ferramenta de sobrevivência para os miúdos e para os miúdos no seu papel de alunos. Essa ligação, terá os suportes disponíveis e tão acessíveis a todos quanto formos capazes e não podemos falhar.
Esta ligação (relação, comunicação, podem ser outras designações) permitirá que a “escola” continue na cognição e na emoção de cada criança, faça parte dos dias confinados e das suas rotinas. Fará parte do “kit de sobrevivência” em tempos com riscos de que ontem falava.
Claro que esta ligação pode (deve) envolver a realização de tarefas de natureza escolar, curtas, diversificadas, com uma natureza que não exija a intervenção dos “pais-professores” para que possa ser realizada, nem todas as crianças os têm no seu cantinho.
Estas actividades exercitam competências e podem ser continuadas de forma diferente nos cantinhos de cada criança. Podem estar seguros de que as crianças continuarão a aprender.
Nestes primeiros anos e nestas circunstâncias não me parece que o “cumprimento” do programa deva ser o grande objectivo. No próximo ano lectivo alunos e professores serão capazes de recuperar no essencial a aquilo que agora não foi “trabalhado”, assim o tenhamos como preocupação e orientação.
E a tão referida avaliação neste terceiro período atípico, não pode deixar de ser … atípica. No entanto, pode e deve manter as suas imprescindíveis funções de regulação dos processos de ensino e de aprendizagem que, importa não alimentar o habitual equívoco, são processos diferentes. Nestes tempos excepcionais, mais do que nunca assim deve ser entendido.

domingo, 19 de abril de 2020

DA SAÚDE MENTAL NOS DIAS DE CHUMBO

A dimensão e a complexidade da situação inédita que vivemos não pode deixar de ter múltiplos reflexos significativosno nosso quotidiano, uns mais óbvios e abordados que outros. Uma das dimensões que também solicita grande atenção é a saúde mental e o bem-estar psicológico das pessoas, pequenas e grandes ou ainda as “mais grandes”, os mais velhos. Algumas inquietações e uma nota de esperança.
Começando por estes últimos e integrando os grupos de risco o dever de recolhimento a situação é ainda mais séria. Muitos idosos, boa parte a viver sós, e agora confinados, sentirão muito provavelmente aumentar os níveis de isolamento. Sendo certo que viver só não significa viver isolado, a verdade é que a situação em que vivem aumenta o risco de isolamento. Não saem de casa ou saem muito menos, os pequenos estabelecimentos e as relações de vizinhança, um suporte funcional e psicológico na sua vida, estão muito menos disponíveis. Acresce que muitas destas pessoas não têm competências digitais e recursos que possam ajudar a minimizar a solidão e o isolamento que alimentam o risco da ansiedade, do stresse ou de um quadro depressivo. As famílias, quando existem, também estão enredadas nos seus próprios constrangimentos e também devido à situação sanitária e necessidade de protecção própria e dos idosos baixam o nível de contacto.
Um quadro de risco elevado em termos de saúde mental e bem-estar-psicológico.
No que respeita às famílias as questões são mais complexas.
Os contextos familiares são extraordinariamente diversificados. Muitas pessoas, devido à sua profissão, continuarão a trabalhar, boa parte delas em actividades com risco elevado o que, naturalmente se repercute nas dinâmicas familiares. São conhecidos múltiplos casos de profissionais de saúde que estão a residir em espaços que não a sua casa de família para a proteger. É um factor acrescido de preocupação e risco.
Em muitos milhares de famílias com crianças até aos 12 anos um dos pais, pelo menos, estará em casa no apoio aos filhos. Em muitas famílias os pais estão em casa em situação de teletrabalho que têm de conciliar com as rotinas familiares e com o apoio às actividades escolares dos filhos, tanto mais exigente quanto mais novos são por menor autonomia e maior necessidade de suporte e atenção.
Ainda no quadro familiar, o número de pessoas, a tipologia dos espaços, os equipamentos e recursos disponíveis, as idades e o número de filhos, os níveis de literacia global e digital para as tarefas de apoio às actividades dos filhos no âmbito do ensino à distância, são outras variáveis que importa considerar.
Famílias monoparentais, em situação de guarda partilhada dos filhos ou famílias com crianças ou jovens com necessidades especiais experimentam também dificuldades significativas de adaptação a estes tempos de chumbo.
Se considerarmos ainda que muitas famílias estão já a atravessar sérias dificuldades económicas por perda total ou parcial de rendimentos aguardando por apoios que hão-de chegar, não sabem se terão ou quando tudo terminará, teremos um quadro global extremamente preocupante.
Acresce que apesar de se vislumbrar como tem sido dito uma luz ao fim do túnel, o túnel terá sempre um comprimento muito pesado.
Neste quadro, considerando os múltiplos aspectos que referi, parece claro o enorme risco de situações de stresse e crispação ou tensão, solidão, ansiedade, impotência e algum desespero. Este mal-estar  ou o risco da sua instalação pode afectar os adultos e, naturalmente, também as crianças e jovens. Não será de estranhar que se possam verificar alterações no seu comportamento. Importa estar atento a essas alterações, perceber e tentar entender, procurar apesar de não ser fácil uma dose suplementar de paciência e confiança ou, se necessário e sem reserva, solicitar alguma orientação através de canais que têm sido divulgados.
Não será por acaso que tem sido notícia o aumento significativo que desde Março se tem verificado na compra de ansiolíticos e antidepressivos.
Tem sido também divulgado que estruturas do Serviço Nacional de Saúde ou privadas têm disponibilizado linhas de apoio de natureza psicológica com também o têm feito outras identidades ou mesmo através de iniciativas de natureza individual.
Também sabemos que o impacto de problemas de saúde mental ou de bem-estar psicológico qualidade de vida de pessoas e famílias é fortíssimo.
A situação que vivemos torna tudo mais difícil, mas importa estar atento e ter confiança que na forma como iremos saindo dela estará contemplada a promoção da saúde mental
Existe muita gente a apssar mal, pode ser na casa do lado.
No entanto, somos resilientes e queremos viver, seremos capazes de continuar.

sábado, 18 de abril de 2020

MALTRATAR NÃO É GOSTAR

A nossa vida está agora submersa numa preocupação gigantesca e de diferentes dimensões de que dificilmente nos alheamos, mesmo que brevemente. No entanto, parece-me também importante que não esqueçamos outras questões.
Por estes dias, o Observatório da Violência no Namoro, uma iniciativa da Associação Plano i no âmbito do Programa UNi+, divulgou alguns dados relativos aos últimos três anos que continuam a ser preocupantes.
Neste período foram registadas 284 denúncias, 266 de jovens mulheres e em que 91,9% dos agressores são homens.
Acontece ainda destas queixas colocadas ao Observatório apenas 22,5% foram denunciadas às autoridades. É ainda de considerar pelo que significa que das 284 queixas apresentadas, apenas 29 foram de vítimas actuais, sendo 115 de testemunhas e 140 de ex-vítimas.
Como também sabemos as denúncias às autoridades e mesmo a estruturas de apoio representam apenas uma parte do universo de violência no âmbito das relações de namoro.
Acrescento um outro grupo de dados relativos ao estudo sobre a Violência no Namoro 2019, que a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) tem vindo a realizar nos últimos anos tendo como participantes jovens.
O número de jovens, que namoram ou já namoraram que refere ter sofrido pelo menos uma forma de violência por parte do parceiro(a) é de 58% sendo que em 2018 era de 56%. Um dado ainda mais inquietante é manutenção de taxa dramaticamente elevada de jovens que que entendem estas práticas como “normais”, 67% no inquérito deste ano e 68,5% no estudo anterior.
Os comportamentos considerados envolvem difamação, o recurso às redes sociais para chantagear o outro, o hábito de intromissão no telemóvel ou nos bolsos, as agressões físicas e a coacção para práticas sexuais não desejadas, etc.
Um outro trabalho também promovido pela Associação Plano i, “Violência no Namoro em Contexto Universitário: Crenças e Práticas”, envolvendo apenas jovens e jovens adultos com frequência ou formação universitária” confirma os indicadores do trabalho desenvolvido pela UMAR, 54,7% dos jovens em Portugal já sofreram pelo menos um acto de violência no namoro. Sublinho que estamos a falar de estudantes universitários o que torna tudo ainda mais preocupante.
O que ainda me parece mais inquietante é a manutenção sem grandes alterações destes indicadores ao longo dos anos o que talvez ajuda a perceber como a violência doméstica parece indomesticável.
Os dados convergem no indiciar do que está por fazer em matéria de valores e comportamentos sociais. Acresce que como referi e sabemos, boa parte das situações de abuso não são objecto de queixa.
Este conjunto de dados é preocupante, gostar não é compatível com maltratar, mas creio que não é surpreendente, lamentávelmente. Os dados sobre violência doméstica em adultos que permanece indomesticável deixam perceber a existência de um trajecto pessoal anterior que suporta os dados destes e de outros trabalhos sobre violência no namoro e que se mantêm inquietantes. Aliás, nos últimos anos a maioria das queixas de violência doméstica registadas pela APAV foram de mulheres jovens embora seja um drama presente em todoas as idades.
Os sistemas de valores pessoais alteram-se a um ritmo bem mais lento do que desejamos e estão, também e obviamente, ligados aos valores sociais presentes em cada época. De facto, e reportando-nos apenas aos dados mais gerais, é criticamente relevante a percentagem de jovens, incluindo estudantes universitários, que afirmam um entendimento de normalidade face a diferentes comportamentos que evidentemente significam relações de abuso e maus-tratos. 
Como todos os comportamentos fortemente ligados à camada mais funda do nosso sistema de valores, crenças e convicções, os nossos padrões sobre o que devem ser as relações interpessoais, mesmo as de natureza mais íntima, são de mudança demorada. Esta circunstância, torna ainda mais necessária a existência de dispositivos ao nível da formação e educação de crianças e jovens; de uma abordagem séria persistente nos meios de comunicação social; de um enquadramento jurídico dos comportamentos e limites numa perspectiva preventiva e punitiva e, finalmente, de dispositivos eficazes de protecção e apoio a eventuais vítimas.
Só uma aposta muito forte na educação, escolar e familiar, pode promover mudanças sustentadas nesta matéria. É uma aposta que urge e tão importante como os conhecimentos curriculares.
Entretanto e enquanto não muda, "só faço isto, porque gosto de ti, acreditas não acreditas?"
Apesar da natureza e gravidade fora do comum dos dias que vivemos e para os quais não estávamos preparados, talvez seja de não esquecer questões como estas que devastam o quotidiano de muita gente.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

O MUNDO ESTÁ NO ECRÃ


A complexidade dos tempos excepcionais que vivemos multiplica exponencialmente as implicações no nosso quotidiano. Numa experiência única no nosso percurso de vida temos crianças, adolescentes e jovens “trancados”, confinados, em casa.
De repente o mundo mudou, quando estávamos a alertar para o risco de uma sobrevalorização do tempo passado em frente a um ecrã e dos riscos existentes, agora temos o mundo no ecrã. A escola, os professores, os amigos, a família, a ajuda para estudar, a informação e conhecimento, os apoios para a actividades ou simplesmente ocupar o tempo livre ou minimizar a solidão e o isolamento estão num ecrã, tudo (quase tudo) está no ecrã.
Não temos como fugir a isso e ainda bem que dispomos destes dispositivos.
A questão é que muitos das questões do lado B da sua utilização, os riscos, também aumentaram significativamente, veja-se por exemplo, o crescimento das tentativas de pirataria com várias metodologias ou os riscos identificados na utilização de algumas plataformas de comunicação.
No que respeita aos mais novos, temos desde logo e sobretudo com os mais pequenos um risco de exposição excessiva aos ecrãs e eventuais implicações para a saúde ocular embora as questões desta natureza e de ergonomia se coloquem para todos os que estrão muito tempo a utilizar dispositivos digitais.
Acresce a questão dos conteúdos, mais do nunca é importante ainda que com bom senso estarmos atentos aos conteúdos a que crianças e adolescentes acedem ou vêem os ecrãs ser “invadidos”. Será importante alertar os pais para alguns destes riscos. Em muitas conversas com pais quando abordo estas questões não é raro ouvir algo como. “nem me passava por a cabeça que isso existisse”, e estou a falar de pais com hábitos de utilização destes dispositivos.
A invasão da privacidade e os riscos em matéria de segurança com exposição de imagens pessoais e dos espaços familiares são também de considerar.
Estas notas não pretendem tornar ainda mais pesado o exercício da parentalidade em tempos para os quais ninguém estaria preparado ou entender que se deve evitar a utilização dos dispositivos digitais, não temos como não os utilizar. Apenas me parece importante que tanto, quanto possível, estejamos atentos ao que vai acontecendo e passando nos ecrãs e ao seu uso.
Estar atento já é um enorme contributo para minimizar riscos. Sabemos que o mundo agora está no ecrã e é bom esta acessibilidade, mas também sabemos que mundo algumas vezes, demasiadas vezes, é um lugar mal frequentado.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM E@D


O ME divulgou as “Orientações para o trabalho das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva na modalidade E@D”. É útil que se conheçam e não deixa de ser curioso e mais um sinal destes estranhos e excepcionais tempos estarmos a falar de educação inclusiva “à distância”, para alunos “confinados” em casa. Algumas notas.
A situação que vivemos coloca às famílias e aos professores e escolas enormes desafios para os quais por razões óbvias não temos respostas eficientes ou aproximadas dos tempos “normais” de que todos já temos saudades. Não esqueço que mesmo nesses tempos “normais” também temos constrangimentos e insucessos, mas, ainda assim, temos uma variável muito importante, proximidade.
Desde o início da iniciativa de “escola à distância de emergência”, a resposta possível que o esforço gigantesco das comunidades educativas definiu estruturou num espaço de tempo curtíssimo, foi clara assimetria e os riscos de desigualdade para muitos alunos. Desde logo pelas dificuldades de acesso a recursos digitais ou à rede em muitas famílias, mas também do impacto de dimensões como idade, número de crianças em idade escolar em casa, pais em teletrabalho ou a trabalhar fora, famílias monoparentais, níveis de literacia digital ou global, etc.
De entre os alunos em maior situação de risco estão os alunos com necessidades especiais, sobretudo os que necessitam de apoios mais diferenciados. Muitas das famílias destes alunos experienciam dias de enorme dificuldade para as quais sendo as respostas difíceis algum tipo de apoio pode ser disponibilizado, à distância como mandam os tempos.
Neste sentido andou bem o ME ao divulgar um conjunto de orientações para o trabalho a desenvolver pelas EMAEI neste cenário de “ensino à distância“.
Nestas orientações definem-se 4 eixos de intervenção:
Eixo 1 - Apoio aos docentes e técnicos da comunidade educativa.
Eixo 2 - Continuidade da implementação / Identificação das medidas de suporte à
aprendizagem e à inclusão definidas ou a definir no RTP/PEI/PIT
Eixo 3 - Apoio às famílias no contexto da modalidade de E@D.
Eixo 4 - Articulação com diversos serviços da comunidade.
Sem querer voltar, não é o tempo nem a circunstância, a discussões em torno do DL 54 e das suas disposições, creio que estes eixos de intervenção integram numa versão mais clara o que me parece ser o seu papel nas escolas e agrupamentos. Dito de outra maneira, se retirarmos a referência “no contexto da modalidade de E@D” eu diria que este é um enunciado interessante e claro do será o trabalho regular das EMAEI em qualquer circunstância.
Assim, do meu ponto de vista e considerando o cenário em que vivemos e respeitando os eixos identificados creio que emergem duas grandes linhas de trabalho mais pertinente.
A primeira seria a colaboração com os docentes para o trabalho a desenvolver neste contexto particular em que a planificação “existente” não tem obviamente condições para funcionar. Questões como que objectivos a manter ou redefinir, que actividades e com que recursos a desenvolver em casa, que duração, que rotinas de trabalho, que apoio solicitam pais ou de irmãos, etc., são alguns dos exemplos em que o que está definido nesta imensidade de RTP/PEI/PIT poderá necessitar de ser reconfigurado.
Uma segunda linha envolve o apoio aos pais. No entanto, creio que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos pais no sentido de serem “professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja, o apoio dos pais ao “trabalho” dos filhos no “ensino à distância” julgo que precisamos de apoiar os pais enquanto pais num quotidiano altamente exigente em matéria de resistência física e psicológica. São grandes os riscos de cansaço, impotência desânimo, culpabilização, etc. para mais dentro de um cenário de isolamento. Esta questão quanto a mim é crítica. Não querendo ser polémico ou provocador, não é de todo a intenção, um contacto regular próximo e acessível e com alguma disponibilidade para “ouvir” será talvez mais importante que o cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada situação sugerirá a melhor abordagem.
Desejo muito que nestas circunstâncias verdadeiramente excepcionais o trabalho das EMAEI e de todas a escolas/agrupamentos e de professores e técnicos corra o melhor possível. O esforça brutal que está a ser feito parece um bom prenúncio.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

E SE SIMPLIFICAR FOSSE UMA ORIENTAÇÃO


Começou ontem da forma mais estranha de que há memória o terceiro período escolar. A época excepcional e dura que atravessamos solicitam naturalmente que nos adaptemos a essas circunstâncias.
Depois das experiências das duas últimas semanas de aulas aguardava-se com alguma ansiedade o recomeço dos trabalhos nesta forma virtual, ensino à distância de emergência.
Durante a interrupção lectiva, o ME, professores, escolas, autarquias e outras entidades terão feito um esforço gigantesco de ajustar o dispositivo.
Provavelmente, minimizar-se-ão alguns constrangimentos no que se refere a equipamentos e acessibilidade à net em muitos contextos familiares embora os riscos de dificuldades dificilmente se eliminem.
Também com a experiência já realizada e com o esforço feito nos últimos dias se verificará uma melhor preparação da generalidade dos docentes para formas de trabalho que não faziam parte do quotidiano de muitos. Também se contará com o apoio da iniciativa #EstudoEmCasa que veremos como na prática funcionará.
Uma palavra de apreço e reconhecimento para este esforço.
No entanto, do lado das famílias, para além do importante, repito, esforço de disponibilizar recursos adequados, as circunstâncias não têm grande alteração, a exigência do teletrabalho a que muitos estão sujeitos, a existência de crianças em diferentes anos de escolaridade, com necessidades especiais ou em idade pré-escolar, os diferentes níveis de literacia digital ou geral, o peso das variáveis psicológicas que um tempo já longo de confinamento vai acentuando a que se junta a emergência de dificuldades de natureza económica em muitas famílias, etc.,  continuam presentes e difíceis de gerir e e tenderão a tornar-se mais pesadas até se começar a desenhar alguma inversão.
Neste cenário julgo que seria prudente o evitar de alguns riscos por excesso e dispersão. Em linha com o texto de ontem do Professor Paulo Guinote, “A beleza da simplicidade”, no Educare.pt, julgo que seria adequado em temos genéricos, mas mais no que respeita aos primeiros anos de escolaridade, sobretudo no 1º ciclo e para a educação pré-escolar que “simplificar” se estabelecesse como orientação.
Seria desejável que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores estão sujeitos
Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar e estão a realizar.
Sempre que falo desta questão recordo-me do Mestre João dos Santos, a quem tarda uma homenagem com significado nacional,  quando dizia, cito de memória pelo privilégio de ainda o ter conhecido e ouvido, que em educação o difícil é trabalhar de forma simples, é mais fácil complicar, mas, obviamente, menos eficaz, menos produtivo e muito mais desgastante.
Talvez valesse a pena tentarmos esta via de mais simplificação. As circunstâncias já são suficientemente complicadas.

terça-feira, 14 de abril de 2020

O REGRESSO ÀS AULAS. Um diálogo improvável


Olá Simão
Olá Avô. Vieste tu buscar-me à escola?
Sim, hoje o avô podia.
Avô, podemos ir para a tua casa brincar a fazer projectos?
Claro, a Avó está fazer aqueles bolos torcidinhos que tu e teu irmão gostam. A mãe depois passa por lá com o Tomás e vens com eles. Como é que foi este dia de escola? Já há dias que não tinhas.
Foi fixe. Joguei à bola no intervalo com os meus amigos, só tinha encontrado o João e a Diana nas férias no Parque da Paz.
E na sala como é que foi, já trabalharam?
Não foi assim muito, Avô. A minha professora perguntou o que tínhamos feito nas férias.
Não me digas que contaste que estivemos no Alentejo a brincar com as Titas e a fazer projectos de rega ao pé da nascente do tanque.
Disse mesmo, Avô, os meus colegas e a minha Professora riram-se. E a minha professora disse para todos contarmos o que fizemos e que gostámos mais.
Foi giro, Simão.
Depois escrevemos uma frase a dizer o que fizemos mas com as letras que já sabemos escrever.
Boa! Deve ter sido divertido.
Pois foi.

Este é o diálogo mais improvável que aqui podia escrever hoje, o primeiro dia do regresso às aulas mais estranho que alguma vez vivi.
Mas regressaremos às salas de aula. O nosso futuro exige.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

OUTRAS FACES DA LUA (1)


Os tempos excepcionais que atravessamos têm um impacto muito forte na generalidade das pessoas. No entanto e como em todas as circunstâncias, mesmo em termos de maior tranquilidade, os grupos mais vulneráveis pagam também um preço mais elevado em épocas de dificuldade.
Estas outras faces da Lua, não sendo tão visíveis, são da maior importância pelo nível de mal-estar e sofrimento que podem implicar. No Público de hoje aborda-se a questão das famílias com crianças, jovens ou adultos com necessidades especiais.
Considerando a área em que me movo, a educação, já aqui tenho falado da necessidade de estarmos atentos e procurar minimizar o risco de que as respostas estruturadas no âmbito do “ensino à distância” com o apoio do #EstudoEmCasa não deixem os alunos com necessidades especiais mais distantes da educação escolar e em circunstâncias muito pesadas para as famílias.
No entanto, a questão é mais complexa, desde a segunda quinzena de Março, para além das escolas, encerraram outras estruturas de apoio como centros de actividades ocupacionais, os centros de atendimento, acompanhamento e reabilitação social ou outros serviço de apoio a crianças, jovens e adultos com deficiência, Também acontece que as equipas de Sistema Nacional de Intervenção Precoce não se deslocam às escolas, instituições ou residência dos alunos. Mantêm-se em funcionamento lares, residências autónomas e a prestação de algum serviço domiciliário.
Algumas instituições estão a tentar encontrar formas de minimizar a situação, mas, como é evidente, é uma tarefa de enorme dificuldade e exigência. As famílias sentem inúmeros receios e lidam com enormes constrangimentos
Costumo afirmar que os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como lidam com os problemas de grupos sociais minoritários. Em situações muito duras e de maior risco é ainda mais necessário que esses problemas não sejam esquecidos e que tentemos, tanto, quanto possível, ir um pouco mais longe no apoio e suporte mesmo que seja, também, à distância.

domingo, 12 de abril de 2020

BOM DOMINGO DE PÁSCOA NUMA PÁSCOA DIFERENTE


São tempos estranhos. Estamos na Páscoa.
Hoje não ouviremos referências aos “constrangimentos do intenso trânsito devido ao regresso dos portugueses das miniférias da Páscoa” ou a também clássica “muitos portugueses aproveitam as miniférias para procurar o sol algarvio ou matar saudades dos familiares à volta do tradicional borrego”.
Não, também não ouviremos aquelas entrevistas patéticas aos turistas em miniférias da Páscoa ou aos agentes do turismo a sublinhar a boa taxa de ocupação.
Decididamente, este ano temos uma Páscoa diferente, também sem as cerimónias habituais cerimónias religiosas com assistência dos “fiéis”. Será uma Páscoa para mais tarde recordar como, aliás todo este período.
Muitos de nós trabalhamos ou “simplesmente” ficamos em casa confinados, um termo que seguramente não vamos esquecer tão depressa.
Muitas outras pessoas trabalham duramente para que nas nossas casas não falte o essencial ou para que nos sintamos em segurança. Alguns outros lutam heroicamente pela nossa saúde e bem-estar. A estes portugueses devemos um enorme agradecimento e o reconhecimento da grandeza gigantesca do seu trabalho.
Ainda uma referência às famílias que já tropeçaram com “o bicho” e que estão a procurar recuperar  a saúde ou a lidar com o luto da perda.
Muita gente está a passar por enormes dificuldades com abaixamento ou perda total dos rendimentos que garantem a sobrevivência. Não podemos falhar no apoio a estas pessoas que lhes garanta um mínimo de bem-estar e dignidade e a definição de um caminho que nos conduza a tempos melhores. A História não nos perdoará.
Ainda assim, Bom Domingo de Páscoa

sábado, 11 de abril de 2020

DO ENSINO SECUNDÁRIO EM TEMPO DE CRISE


Em continuação do texto de ontem sobre as decisões divulgadas pelo ME agora umas notas relativas ao ensino secundário.
Parece claro que tudo o que foi decidido se subordina à questão dos exames nacionais e do seu impacto no acesso ao ensino superior.
Sendo claro que nesta altura não seria opção a alteração do modelo de acesso ao ensino superior, a não realização de exames não poderia ser aceitável. Países que o fizeram não têm um modelo de acesso ao superior com as características do nosso.
Não se realizando os exames abrir-se-ia uma porta larguíssima à "simpatia" de algumas escolas, fenómeno reconhecido e investigado, que inflacionam a avaliação interna dos seus alunos de forma a, por assim dizer, ajudá-los a dar um “saltinho” na média final. É sabido que o “saltinho” pode ser decisivo para entrar, embora seja de pouco proveito para a continuidade da carreira escolar como diversos estudos têm evidenciado.
Assim, havendo exames e dadas as circunstâncias teriam de ser adiados, a primeira fase realiza-se entre 6 e 23 de Julho e a segunda fase entre 1 e 7 de Setembro.
A existência dos exames justifica ainda a manutenção da realização de aulas presenciais para estes alunos se a evolução da situação na saúde pública o permitir. Como também justifica que as aulas presenciais só se realizarão para as disciplinas sujeitas a exame por integrarem os critérios de acesso aos diferentes cursos. E informa ainda a afirmação do Primeiro-ministro de que as aulas presenciais são importantes mesmo que possam ser apenas de alguns dias sobretudo para tirar dúvidas
O repetido discurso de prudência e controlo dos riscos para professores, alunos e funcionários não parece suficiente para tranquilizar os envolvidos o que na situação que vivemos se compreende como também não tranquiliza as exigências logísticas para montar o dispositivo, quer de eventuais aulas presenciais, quer dos próprios exames. Confiemos nas decisões das autoridades de saúde e na apreciação de riscos.
No entanto, o cenário que se desenha coloca uma outra questão bastante importante do meu ponto de vista. Se, como desejamos, a situação evoluir positivamente de forma a permitir a realização de aulas presenciais, por um período maior ou menor, também permitirá, mais do que habitualmente acontece, a corrida aos centros de explicações. Sendo habitual esta “corrida”, sem aulas presenciais “normais” com uma alternativa com alguns constrangimentos como é o “ensino à distância de emergência”, a procura desta ajuda será certamente bem maior.
Se como também é reconhecido, a capacidade das famílias para acederem a estes apoios “extra” constitui um factor de potencial desigualdade entre os alunos, na situação actual com quebras de rendimento significativas em muitos agregados familiares o risco de desigualdade é ainda mais preocupante.
Tenho a certeza de que as escolas e os professores no tempo que terão e com os meios que possuem desenvolverão o melhor trabalho possível de preparação dos alunos mas … é uma tarefa gigantesca.
É verdade e sublinho a decisão que a estrutura dos exames será adaptada através da criação de grupos de respostas opcionais e de respostas obrigatórias que cria a possibilidade dos alunos responderem às questões para cuja resposta se sintam melhor preparados. Neste contexto, manutenção dos exames, parece uma medida ajustada.
Dado tudo isto e considerando sempre que a não realização de exames não seria opção, julgo que seria mais prudente adiar mais os exames de modo a permitir com maior segurança aulas presenciais promotoras de mais equidade. Não me parece que não fosse acomodável pelo ensino superior começar os trabalhos do 1.º ano algum tempo depois. Como também creio que seria possível adiar umas semanas o início das aulas no ensino secundário do próximo ano lectivo para os alunos que neste momento estão no 9.º. 10.º e 11.º
No que respeita ao ensino superior não seria a primeira vez que tal acontecia e não seria algo que comprometesse a carreira escolar dos novos alunos e o funcionamento dos estabelecimentos de ensino superior.
Mas a decisão está tomada, ainda não sabemos como tudo irá evoluir, mas sei que escolas e professores farão o esforço necessário para que o difícil período que se avizinha seja tão bem-sucedido para todos quanto possível.
A ver vamos.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

DO ENSINO BÁSICO EM TEMPO DE CRISE


O conjunto de decisões sobre o futuro próximo da educação em Portugal ontem anunciadas veio ao encontro do que se previa.
Abordando hoje a questão do ensino básico creio que no cenário verdadeiramente excepcional que vivemos incluindo a dificuldade de estabelecer com segurança o seu fim, parece claro e aceitável o que foi divulgado que, aliás, parece estar a ser bem recebido pela comunidade.
Mantém-se o recurso ao ensino à distância com o apoio da recuperada Telescola, agora #EstudoEmCasa, não se realizam as provas de aferição bem como os exames finais e os docentes e escolas gerirão a avaliação interna a realizar considerando o trabalho que foi desenvolvido.
Como creio que é claro para todos, a resposta estruturada sendo a possível não é perfeita, longe disso, como não era perfeita a resposta assente no ensino presencial AC (Antes da Covide-19). O ensino à distância que estamos a desenvolver acrescido do contributo de #EstudoEmCasa é uma resposta de emergência que procura substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de escolaridade.
Apesar do gigantesco esforço de professores e escolas e do aumento da acessibilidade e dos recursos digitais muitos alunos terão contextos familiares em que por variadíssimas razões será particularmente difícil o apoio necessário de adultos sobretudo para as crianças mais novas que, naturalmente, são menos autónomas.
Acresce, importa não esquecer, que para muitos alunos com necessidades especiais a situação traz dificuldades acrescidas. O ME disponibilizou algumas orientações, é importante que existam, o seu enunciado em papel parece adequado, mas, do meu ponto de vista, em contextos reais e com características específicas serão de difícil operacionalização. Mais uma vez, se com os docentes e técnicos nas escolas as dificuldades são grandes, nestas circunstâncias avolumam-se e muito.
Neste contexto julgo que começa a ser necessário que, tal como na economia se está já a iniciar a preparação do pós-pandemia, também no universo da educação comecemos a pensar no próximo ano lectivo.
Julgo que será consensual que o próximo ano não pode ser pensado como se este tivesse sido um ano normal, seja lá isso o que for. Não é e não será, por melhor que corram os próximos meses e desejamos que seja o melhor possível.
O Primeiro-ministro assumiu ontem o “compromisso de que no início do próximo ano lectivo, aconteça o que acontecer, teremos assegurado a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento, para todos os alunos do básico e do secundário”.  Trata-se, evidentemente, de uma medida positiva e necessária em termos de equidade e inclusão para além de dotar todos os alunos de ferramentas digitais com enquadramento no sistema.
Considerando alguns constrangimentos que esta emergência criou e que, apesar de todos os esforços, para alguns alunos terão certamente impacto mais significativo julgo necessário que comecemos a pensar como no arranque do próximo ano lectivo e ao longo dos primeiros meses poderão ser definidos nas escolas alguns dispositivos que procurem identificar alunos “que ficaram para trás”, que dificuldades revelam, que apoios podem receber, etc.
Atendo ao que acima referi são também necessários um olhar e uma intervenção particulares nos eventuais efeitos deste final de ano lectivo em muitos alunos com necessidades especiais e nas dificuldades criadas nas famílias.
Seria óptimo que no meio deste turbilhão no qual todos os dias aprendemos e sentimos dificuldades conseguíssemos ir pensando em como e com que recursos podemos tentar “ir buscar” os miúdos e adolescentes que correm o sério risco de perder o comboio. Em que eventuais recursos
Não se trata de uma tarefa fácil, em educação, brincando com as palavras, é difícil ter uma tarefa fácil, mas temos de tentar e começar a pensar como.
Ainda uma palavra para a situação das crianças até aos seis anos. Creches e jardins-de-infância permanecerão encerrados e as crianças em casa. Não é possivel que seja de outra forma mas é possível que, como já está a acontecer, tentemos disponibilizar às famílias apoios e orientações que contribuam para que tanto quanto possível o tempo difícil para adultos e crianças decorra com a maior tranquilidade possível.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

DAS CERTEZAS E DAS INCERTEZAS


Há uns dias escrevia aqui que estes tempos têm sido duros, de aprendizagem e também de busca de conhecimento e orientação. São imprescindíveis para a nossa confiança e tomada de decisões e para a percepção das decisões que nos envolvem.
Neste sentido e como afirmei continuo a procurar aceder a informação que me pareça de referência, a conhecimento com fontes tão seguras quanto possível, a orientações sustentadas, a estar particularmente atento ao que de muito mau, mas também de muito bom circula nas redes sociais, etc. Parece-me um caminho necessário até para nos mantermos críticos e atentos. 
Como temos dado por isso, é permanente a presença na comunicação social da comunidade científica nas suas múltiplas áreas e, apesar de eventuais divergências que são naturais, esta presença é uma importante fonte de informação e conhecimento mesmo quando se partilham dúvidas e incertezas. Aliás, é imprescindível que o melhor conhecimento científico disponível informe a decisão em matéria de políticas públicas apesar das incertezas e dos riscos que sempre teremos de enfrentar. É o bem-estar comum que o exige.
Por outro lado, também registei com perplexidade a quantidade incrível de “especialistas” em saúde pública que se instalaram na comunicação social. Numa rápida conversão da sua especialidade, a “tudologia”, os “opinadores” peroram agora sobre saúde pública, o que deve ser feito e de que forma. Como é óbvio não estou a falar de jornalismo de qualidade que, como nunca, creio ser um bem de primeira necessidade e me preocupam os riscos que o ameaçam. Precisamos de uma educação e formação que promovam nos cidadãos o consumo e a exigência de informação de qualidade.
Neste contexto, parece-me interessante o texto de Alexandre Quintanilha no Público, “Lidar com a incerteza”.
Boa Páscoa.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

GALINHA DO CAMPO, NÃO QUER CAPOEIRA


A forma como as pessoas lidam com as situações positivas ou negativas é diferente, como é óbvio.
Também esta situação de “ficar em casa” a que muitos de nós estamos sujeitos é experienciada de formas bem diferentes.
No meu caso existem várias implicações que me incomodam e com as quais não lido com facilidade e que também creio incomodarem muitas outras pessoas.
A mais evidente, já aqui o tenho expressado, é a necessidade forte da proximidade com as pessoas, tanto no contexto familiar e pessoal como no plano profissional. Ter as pessoas da família ou os amigos “só” do outro lado da "linha" ou do ecrã é curto, muito curto. Ter os colegas, os alunos e alunas, do outro lado do ecrã, não é de todo a mesma coisa que ver gente inteira na sala de aula, no gabinete, num qualquer espaço de trabalho da escola ou no ... bar e corredores. Tudo isto me faz falta. Até já sinto saudades de passar a Ponte 25 de Abril de mota no meio de um engarrafamento habitual em todas as manhãs AC, Antes da Covid-19.
Uma outra grande fonte de desconforto é a falta de “campo”, é a rua, é o caminhar com tempo agora que já não corro. Esta zona onde nasci e moro que agora é urbana, quando eu era miúdo era “campo”, brincávamos na rua, sempre cresci com muito tempo fora de casa.
Por outro lado, o "ficar em casa" tem-me mantido afastado do Alentejo. Que saudades do Monte, que saudades da lida que nunca tem fim, que saudades das lérias com o Mestre Zé Marrafa e das idas á vila Com a chuva que felizmente tem caído deve estar bonito.
Não é, pois, muito tranquila a minha experiência com este necessário confinamento.
A este propósito e porque falei do Mestre Zé lembro-me de uma conversa, lérias, de há algum tempo.
A conversa foi parar ao viver em sítios diferentes, caso dele que vive na vila e do meu que vivo na cidade grande. Contou que que vai às vezes a Évora, mas não gosta de ficar por lá muito tempo.
Como ele diz, “é bem verdade, galinha do campo não quer capoeira”. Ele não se imagina a viver assim numa terra grande, mora na vila, vem ao monte, tem sempre alguma coisa que fazer, sobretudo plantar alguma coisa na horta que é o que mais gosta. Achei muita graça à descrição do Mestre Marrafa sobre o seu incómodo, as suas fezes, como se diz no Alentejo, com a cidade grande, “sei lá, o corpo não se encontra”, “parece que estou perdido”, “parece assim uma prisão” e outras considerações que não fixei.
Conhecendo o Mestre Marrafa, dá para entender este discurso. Os olhos pequeninos brilham quando fala do que vai fazer, dos criadores, das enxertias, dos bogangos, dos frades, da necessidade de fabricar a terra para o “çabolo”, do pimentão e dos "pipinos", dos rábanos enormes que lá temos, e das “alfaças”, de uma busca por espargos ou por carrasquinhas e catacuzes que com feijão compõem um prato extraordinário, das couves que apesar de dividirmos as folhas com as codornizes sabem bem mas bem, da desmoita dos pés-de-burro das oliveiras e da sua limpeza que nos garante lenha para o inverno para além da azeitona e do azeite, etc., etc.
Às vezes, penso como sou um privilegiado com um campo, o Alentejo, para ir quando saio da cidade grande. Nunca como agora assim me senti.
Pena é que muita gente, sobretudo os miúdos, já não saiba o que é “o campo”, e, por isso, não podem, por vezes não querem e outras vezes não sabem, sair da capoeira em que vivem.
Sorte a dos meus netos que quando o bicho se for embora hão-de voltar ao Monte, a brincar com as Titas e a fazerem experiência com a água e… sorte a minha que hei-de lá estar com eles.
É Mestre Zé, galinha do campo não quer capoeira.

terça-feira, 7 de abril de 2020

QUE TERCEIRO PERÍODO?


Que situação mais estranha. Em cerca de sessenta anos que levo de ligação à educação e à escola, entrei na primária aos seis anos, nunca me recordo de nesta altura, férias da Páscoa ou interrupção lectiva conforme a perspectiva, se colocar esta questão. As escolas abrirão no 3.º período? Só para os alunos do 12.º? Só para os alunos do secundário?
Amanhã saberemos, talvez até seja mesmo o Ministro da Educação a comunicar a decisão.
Não faço parte dos inúmeros especialistas em pandemias apenas desejo que a decisão seja defensora da saúde de todos os envolvidos num eventual regresso à escola e estou convicto de que assim será.
No entanto, tanto ou mais do que decidir abrir ou não abrir, a quase certa continuidade do ensino à distância para o ensino básico, apoiado agora pela recuperação da velha Telescola em moldes ainda por conhecer, leva-me a continuar a insistir na necessidade de orientação consistente sobre a avaliação, interna e externa e com que dispositivos. Mesmo no caso do secundário, abra total ou parcialmente, a questão coloca-se.
No mesmo sentido e porque são matérias ligadas, que orientações para escolas e professores em matéria de currículo. Cumprimento integral da forma possível, valorização da consolidação de aprendizagens, diferenciar esta gestão por anos de escolaridade, tendo em particular atenção os anos finais de cada ciclo, talvez sejam questões que solicitem um discurso claro por parte do ME.
Para além dos riscos de exclusão por dificuldades no acesso a recursos digitais e à net, também me parece necessário alguma orientação relativa às questões que envolvem alunos com necessidades especiais, sobretudo os com necessidades mais diferenciadas cujas famílias sentem dificuldades acrescidas, algumas bem pesadas.
Insisto em afirmar que dada a excepcionalidade do tempo as respostas eficazes e prontas são difíceis apesar da quantidade especialistas que surgiram. No entanto e justamente por isto, ainda mais necessário se torna a definição de um rumo, a clareza da informação, a tentativa de tanto quanto possível ser mais proactivo e menos reactivo.
Esperemos.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

O REGRESSO À NORMALIDADE. QUE NORMALIDADE(S)?


Após estas primeiras semanas de confinamento para parte significativa da comunidade começam a aparecer na imprensa textos que analisam e perspectivam o “retorno à normalidade”. Em termos individuais creio que será algo que está permanentemente em nós, quando voltaremos à normalidade.  Este movimento é necessário, diria imprescindível. Em termos mais globais porque é importante percebermos com será esse retorno, quando será esse retorno e o que importa ponderar para que se recupere.
De um ponto de vista mais individual é fundamental em termos de protecção que criemos imagens de futuro que nos apoiem para lá chegar neste caminho que não é fácil e tem inúmeros riscos.
A grande questão será, creio, a que normalidade queremos voltar ou melhor, a que normalidades queremos voltar. Na verdade, existem múltiplas normalidades e talvez as circunstâncias excepcionais em que vivemos nos possibilitem e inspirem a repensar se algumas das “normalidades” que conhecemos seria desejável que se mantivessem. Nesta perspectiva, o texto de Vítor Belanciano no Público, “Não queremos voltar à normalidade” é interessante pois por normalidade podemos estar a “nomear décadas que arruinaram sistemas de saúde, de habitação, segurança social e o ambiente, colocando-se o lucro privado à frente do bem-estar das comunidades e do planeta.”. Quereremos voltar a esta normalidade que alimenta exclusão, pobreza, intolerância ou atropela direitos? Se nada se repensar ou refizer, após a pandemia e à boleia da lenta recuperação esta normalidade voltará, é uma normalidade resistente e se continuar a ser muito bem alimentada como tem sido, assim se manterá.
Por outro lado, teremos uma normalidade de que também no Público Bárbara Wong fala no texto, “Quando regressamos ao velho normal?”, “(…) mas sinto (saudades) dos abraços e dos risos dos outros que não os meus, com quem atravesso este isolamento. Anseio pelo dia em que possamos, finalmente, sair, respirar e viver sem medo de contágios.”
Sim, ansiamos pelo regresso a uma normalidade que se traduz na proximidade com os de que gostamos e voltam a estar à distância de um gesto, à normalidade dos alunos nas escolas, da gente na rua, nas lojas  e empresas e a circular sem medo do “bicho” como dizem os meus netos. Já existem referências às saudades que os miúdos têm da escola, sim, os miúdos gostam da escola e dos professores. Os miúdos referem o regresso ao estar com os amigos, ao jogarem à bola e ao tudo que pode ser realizado como o que farão logo a seguir.
Esta normalidade queremo-la de volta e tão depressa quanto possível.
No entanto, deveríamos reflectir se queremos todas as normalidades de volta ou que novas normalidades precisamos de definir. Não depende só de nós, mas também depende de nós.

domingo, 5 de abril de 2020

DIAS DA AVOZICE CONFINADA

Cumprem-se hoje quatro anos em que entrei pela segunda vez no mundo mágico da avozice. O meu neto Pequeno, o Tomás, faz anos.
São tempos de avozice confinada e, por isso, também mais duros. É verdade que temos e ainda bem o suporte digital, mas, como tantas vezes tenho escrito por estes dias, estar à vista não é estar próximo, ao alcance de uma festa ou de um abraço.
Também é verdade que os olhos aos quatro anos vêem o mundo de forma diferente. Há dias, eu estava de conversa com o Simão, seis anos, sobre os seus tão adorados projectos de construção em Lego e ele tinha o telemóvel debaixo da cama e assim dialogávamos. Chegou o Tomás, também se deitou no chão e diz-me, “avô tu estás debaixo da cama a fazer o quê?”.
Não tive tempo de ir procurar nos livros qual seria a melhor resposta e ele também não precisou (uff!), começámos a conversar enquanto o Simão desenvolvia o projecto.
Não vamos ter a festa de aniversário, vamo-nos ver e falar e, certamente, cantar os “Parabéns” para que ele sopre as velas, provavelmente também com a ajuda o sopro do Simão. Não, não é a mesma coisa, é a vida possível nos tempos que atravessamos.
Mas está prometido Netos, quando o bicho se for embora vamos fazer uma festa grande e trocar abraços, palavra de Avós.
E são, também assim, os dias de uma avozice confinada.

sábado, 4 de abril de 2020

3º PERÍODO, AVALIAÇÃO E CURRÍCULO

Ao que a imprensa de hoje divulga está a ser preparado o recurso ao modelo Telescola para em conjunto com as modalidades de ensino à distância já em utilização no final do 2º período apoiar os alunos até ao 9º ano na aprendizagem escolar até final do ano lectivo.  Não é conhecido ainda o modelo a implementar, a experiência de há décadas envolvia a mediação presencial por professores.
Parece-me de registar qualquer iniciativa que contribua para minimizar os riscos das dificuldades dos alunos geradas pela desigualdade de recursos, constrangimentos na acessibilidade à net, menor literacia digital e geral do contexto familiar, dinâmicas e especificidades de cada família, etc. No entanto, também é necessário insistir na necessidade de, tanto quanto possível dotar escolas, famílias e comunidades dos meios e recursos necessários para encurtar a "distância".
Parece-me também que a experiência já realizada com o ensino à distância em situação de emergência nas semanas anteriores ajudará a construir uma resposta mais próximo das necessidades pese as enormes dificuldades que continuarão a existir. A escola, a sala de aulas, como a conhecemos e da qual alguns estudos mostram que os alunos já têm saudades, é insubstituível, sobretudo nos alunos mais novos. O professor, a sua presença e proximidade, para além da competência, naturalmente, é e provavelmente continuará a ser por muito tempo uma variável com um peso muito significativo na qualidade dos processos educativos, sobretudo durante os primeiros anos de escolaridade. Nesta fase o mundo digital será uma ferramenta muito importante, para alguns imprescindível, mas não uma alternativa que chegue a todos com equidade.  
Por outro lado, para além de tornarmos mais robusto e diversificado o dispositivo de apoio às actividades que minimize o risco de exclusão julgo que será necessário um entendimento alargado sobre duas questões centrais, a avaliação e a gestão curricular sempre considerando sobretudo o ensino básico, 1º e 2º ciclo em particular.
A questão da avaliação tem sido recorrentemente referida discutindo-se como e quando realizá-la.
A avaliação é imprescindível como reguladora em todos os processos de ensino e aprendizagem e assume contornos particulares conforme os anos de escolaridade e natureza da avaliação, interna, externa, provas de aferição ou exames nacionais, sobretudo no secundário devido ao peso que assumem no acesso ao ensino superior. Acresce no actual cenário a avaliação não presencial e a forma como poderá ser regulada.
Por outro lado, considerando a situação excepcional creio que precisamos de nos entender sobre o que avaliar, ou seja, que gestão dos programas e currículo procuraremos desenvolver.
Que competências e saberes decorrentes dos conteúdos curriculares estão a ser adquiridas em função das circunstâncias que acima referi, uma enorme diversidade nos contextos familiares, nos recursos e competências disponíveis, a diversidade do trabalho realizado por escolas e professores em situações múltiplas na natureza, actividades, meios utilizados, duração, dispositivos de apoio, etc.
O esforço será no sentido do cumprimento “integral” dos programas? Dependerá dos ciclos e anos de escolaridade? Teremos as actividades mais dirigidas para “consolidação” e menos peso em “matéria nova? E realizam-se as provas de aferição ou os exames nacionais, sobretudo no básico?
Sim, é necessário avaliar, mas avaliar o quê e como? Avaliar o que avaliaríamos num cenário de “normalidade” com a adaptação possível de dispositivos e suportes? 
Como regular e promover equidade também na questão da avaliação.
Já temos a experiência do final do segundo período, temos desafios enormes pela frente, as respostas não são fáceis, antes pelo contrário, mas nesta questão importa, do meu ponto de vista, minimizar o risco da pulverização de entendimentos sobre o “que fazer” e “como fazer”.
A autonomia das escolas é importante, nenhuma dúvida sobre isto, mas importantes também me parecem algumas orientações claras, desburocratizadas, sem um entendimento "mágico" da realidade, nas quais então sim, a autonomia e iniciativa das escolas pode assentar diferenciando e optimizando iniciativas e procedimentos face às especificidades do contexto em que se inscreve.
Creio que só assim será potenciado o esforço gigantesco que professores, pais e alunos estão a desenvolver e a motivação para assim continuar.