quarta-feira, 15 de abril de 2020

E SE SIMPLIFICAR FOSSE UMA ORIENTAÇÃO


Começou ontem da forma mais estranha de que há memória o terceiro período escolar. A época excepcional e dura que atravessamos solicitam naturalmente que nos adaptemos a essas circunstâncias.
Depois das experiências das duas últimas semanas de aulas aguardava-se com alguma ansiedade o recomeço dos trabalhos nesta forma virtual, ensino à distância de emergência.
Durante a interrupção lectiva, o ME, professores, escolas, autarquias e outras entidades terão feito um esforço gigantesco de ajustar o dispositivo.
Provavelmente, minimizar-se-ão alguns constrangimentos no que se refere a equipamentos e acessibilidade à net em muitos contextos familiares embora os riscos de dificuldades dificilmente se eliminem.
Também com a experiência já realizada e com o esforço feito nos últimos dias se verificará uma melhor preparação da generalidade dos docentes para formas de trabalho que não faziam parte do quotidiano de muitos. Também se contará com o apoio da iniciativa #EstudoEmCasa que veremos como na prática funcionará.
Uma palavra de apreço e reconhecimento para este esforço.
No entanto, do lado das famílias, para além do importante, repito, esforço de disponibilizar recursos adequados, as circunstâncias não têm grande alteração, a exigência do teletrabalho a que muitos estão sujeitos, a existência de crianças em diferentes anos de escolaridade, com necessidades especiais ou em idade pré-escolar, os diferentes níveis de literacia digital ou geral, o peso das variáveis psicológicas que um tempo já longo de confinamento vai acentuando a que se junta a emergência de dificuldades de natureza económica em muitas famílias, etc.,  continuam presentes e difíceis de gerir e e tenderão a tornar-se mais pesadas até se começar a desenhar alguma inversão.
Neste cenário julgo que seria prudente o evitar de alguns riscos por excesso e dispersão. Em linha com o texto de ontem do Professor Paulo Guinote, “A beleza da simplicidade”, no Educare.pt, julgo que seria adequado em temos genéricos, mas mais no que respeita aos primeiros anos de escolaridade, sobretudo no 1º ciclo e para a educação pré-escolar que “simplificar” se estabelecesse como orientação.
Seria desejável que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores estão sujeitos
Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar e estão a realizar.
Sempre que falo desta questão recordo-me do Mestre João dos Santos, a quem tarda uma homenagem com significado nacional,  quando dizia, cito de memória pelo privilégio de ainda o ter conhecido e ouvido, que em educação o difícil é trabalhar de forma simples, é mais fácil complicar, mas, obviamente, menos eficaz, menos produtivo e muito mais desgastante.
Talvez valesse a pena tentarmos esta via de mais simplificação. As circunstâncias já são suficientemente complicadas.

1 comentário:

Rui Ferreira disse...

Tal e qual.
Genericamente, o complicar tem na sua génese o nepotismo e a incompetência.