domingo, 29 de abril de 2007

EDUCAÇÃO NO ALENTEJO E OS PROJECTOS ESTRUTURANTES

De acordo com dados divulgados recentemente pela Direcção Regional de Educação do Alentejo, apenas 40 % dos alunos conseguem concluir o 9º sem experimentar a reprovação. Se consideramos o ensino secundário a situação é ainda mais devastadora pois apenas 20 % da totalidade dos alunos o concluem em 12 anos. São também conhecidos os números trágicos do abandono.

Este quadro é, seguramente, extensivo às outras regiões do país ainda que com ligeiras variações nos indicadores.

Há décadas que sucessivos governos nos acenam com modelos de desenvolvimento do nosso país assentes em “projectos estruturantes”. Para não variar, o Primeiro-ministro, em declarações proferidas neste sábado no Alentejo, enunciou os mais recentes “projectos estruturantes" para a região, a saber, o Alqueva (claro! sempre!) e o Aeroporto Internacional de Beja que será rapidamente posto em operação e que se espera poder funcionar como placa giratória e distribuidora das rotas de migração das aves que nos sobrevoam, um hub como se chama em linguagem própria do choque tecnológico e de um país “high tech”, mas com números que, em matéria de educação, nos envergonham.

O único projecto verdadeiramente estruturante e criador de futuro é a correcção inadiável da situação referente ao sucesso educativo. Exigir isto é um acto de cidadania e projectar a única estrada com saída, qualificar as pessoas. À primeira oportunidade.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

AZNAR E O MULTICULTURALISMO

Numa conferência apresentada no Palácio da Bolsa, no Porto, José Maria Aznar, antigo chefe do governo espanhol discorreu sobre os malefícios de sociedades multiculturais. Duas afirmações veiculadas pela imprensa que cobriu o evento. “O multiculturalismo é a negação da sociedade democrática” e “sociedades multiculturais são sociedades divididas”.

Estranhamente estas afirmações são proferidas num contexto de defesa da ideia de União Europeia. É extraordinário como, alguém que conhece, por exemplo, a própria Espanha, um exemplo de sociedade multicultural constituída por várias comunidades com culturas bem diversas, pode sustentar essa condição como negação do seu estatuto de democracia. Se atentarmos no contexto mais vasto de cada país, e da própria União Europeia, as afirmações de Aznar parecem disparatadas. Mas só parecem.

São das afirmações de natureza mais xenófoba e racista jamais proferidas por um responsável político com estatuto de (ex) chefe de governo de um país da Europa Ocidental nos tempos mais recentes. O cartaz do PNR ao pé desta intervenção não passa de “trocos”.

MENINOS PARA UM LADO; MENINAS PARA O OUTRO

Nos últimos dias fomos visitados pelo Professor Cornelius Riordan, sociólogo, que apresentou uma conferência no Instituto de Defesa Nacional sobre as vantagens das escolas só para rapazes ou só para raparigas.

Como nota prévia ao comentário que quero fazer, importa esclarecer que não discuto a legitimidade que informa a decisão de pais e encarregados de educação sobre as escolas que desejam para os seus filhos. Sendo certo que a liberdade de escolha é condicionada por múltiplos factores, também é certo que essa escolha pode assentar em critérios como público ou privado, dimensão, classe social predominante, laica ou religiosa, com farda obrigatória ou não, com formação de natureza militar ou não, com co-educação ou com separação de géneros, etc. Num esforço de alargamento de opções poderá colocar-se até a possibilidade de se desejarem escolas para alunos com excesso de peso que terão, naturalmente, um plano curricular reforçado no âmbito da actividade física e cuidados redobrados na alimentação ou escolas para qualquer forma de minoria para que, ideia peregrina, fiquem mais protegidas dos excessos da maioria, etc. Estas escolhas assentarão, necessariamente, no conjunto de valores, cultura, representações, expectativas, etc. assumidos pelos pais. Trata-se de algo que lhes assiste.

A questão mais substantiva e que justifica o comentário é a afirmação de que escolas separadas por género são melhores e alguma da sustentação aduzida. O Professor Riordan refere que mais de metade dos estudos não são conclusivos sobre os efeitos positivos, mas crê nas vantagens das escolas separadas. Uma outra justificação prende-se com a questão do assédio sexual que, segundo ele, terá estado na base da recente tragédia na Universidade Virgínia Tech !!! Para demagogia não está mal. Parece também que as políticas educativas promotoras da equidade nos géneros faliram porque o eminente Professor acha que o facto de as raparigas terem actualmente um maior acesso por exemplo ao ensino superior e, frequentemente, melhor rendimento académico, implicou a transformação dos rapazes “num grupo claramente em desvantagem” o que só se resolve se forem para escolas separadas. Não lhe ocorre um momento pensar na organização, qualidade e modelos dos processos educativos, certamente um pormenor. Parece ainda que a Senhora Hillary Clinton deve a sua bem-sucedida carreira à frequência de uma escola só para raparigas. Fantástico.

Do que tive acesso não me ficou claro como é que separando os géneros na sua formação se fomentam valores e modelos positivos e respeitadores das diferenças na relação entre ambos. Não me ficou claro quando deve começar e qual o eventual limite de educação separada. Começar no jardim-de-infância? Até ao ensino superior? Basta até ao secundário? Chega o básico? Não será melhor começarmos a pensar em mercado de trabalho também “diferenciado” como lhe chama o Professor Riordan? E que tal contar com consultoria afegã?

Não há saco para tanto reaccionarismo, mascarado de ciência.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

AQUELE 25 DE ABRIL

A 25 de Abril, para as pessoas da minha geração, é impossível não falar do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril.

Há umas semanas atrás, numa conversa informal com alunos, jovens, do ensino superior, alguns questionavam-me sobre como era a vida académica, e não só, antes daquele 25 de Abril. Ao procurar dar-lhes um retrato desse tempo e do que era a nossa vivência diária, deu para perceber alguma perplexidade nos jovens não tanto pelas referências às grandes questões, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do dia-a-dia.

Histórias de um clima de desconfiança e suspeição, até sobre a pessoa do lado, que nos prendia dentro da gente; do livro que se não tinha; do filme que se não podia ver; do disco que se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer; da conversa que se não podia ter; do professor de quem não se podia discordar; da ideia que se não podia discutir; da repressão visível e, mais pesada, invisível; do beijo que não se podia dar em público; do livro único para formar um pensamento único; de tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria pequenos. E também das histórias pequeninas da resistência a tudo isto.

Aquela conversa foi muito estimulante. É certo que me deixou a doce amargura da idade mas, mais interessante, fiquei convencido que aquele pessoal não permitirá nunca que se possa voltar a ter histórias daquelas para contar a gente mais nova. Gosto de acreditar nisto. Por causa daquele 25 de Abril.

terça-feira, 24 de abril de 2007

AI ESTÁ O DR. PORTAS, O PAULO.

O Dr. Portas, o Paulo, is back. Um frémito de excitação e de, há que reconhecer, algum medo percorre o país quando se fixa aquele dedinho apontado e aquele ar de “pose de estado”.
Que trema Sócrates, o Engenheiro. Agora é que vai ver o que é oposição.
Que trema o Dr. Mendes, o Marques. Vai mudar de posição, deixando de ser o “chefe” da oposição.
Que trema o Dr. Ribeiro e Castro, o Zé. Tanto levou que se apagou.
Que trema o Dr. Lopes, o Santana. Vai deixar de andar por aí, para ter que aparecer por aqui.
Que trema o Dr. Louçã, o Francisco. Vai haver disputa na catequese pois há mais um catequista.
Que trema o Sr. Sousa, o Jerónimo. Não, um comunista não treme. Nunca.
Que trema o Prof. Cavaco, o Presidente. O trajecto entre S. Bento e a linha passa por Belém.
Que trema o Dr. Barroso, o Zé Manel. Lá por estar em Bruxelas que se cuide, pois não se abandona o Dr. Portas, o Paulo, ao leme de uma fragata sob o comando de um cata-vento, o Dr. Lopes, o Santana.
Que tremam as feirantes, o povo. O Dr. Portas, o Paulo, virá mais fogoso que nunca.
Que trema o Dr. Pereira, o Pacheco. O Dr. Portas, o Paulo, é católico mas não perdoa.
Que tremam os pequenos e grandes delinquentes. O Dr. Portas, o Paulo, está de olho neles.
Que tremam... “tutti quanti”.

Numa bem-sucedida operação apoiada por uma conhecida empresa da área dos plásticos utilitários e uma marca de pasta dentífrica, que envolveu um espectacular re-styling, eis que temos de volta ao seu esplendor o Dr. Portas, o Paulo. Ele é um permanente e alvo sorriso! Ele é aquela camisa aberta, brr!! até arrepia! Ele é aquele cabelo à f…-se! Ele é aquela frase, curta, fina, que encerra todo um mundo de clarividência, agilidade, acção, promessa e assertividade! Ele é… não há palavras! E no fim de cada frenética jornada, enquanto o espírito vagueia entre os campos da nossa lavoura e as brancas montanhas de Aspen, o Dr. Portas, o Paulo, pensa num encanto doce e com um sorriso calmo, “gosto tanto de mim, só me apetece dar-me beijinhos”. E, finalmente, poisa de mansinho no sono dos justos e iluminados, o Dr. Portas, o Paulo.

DIA MUNDIAL DO LIVRO

Hoje, 2ª feira, de acordo com o comemorativo calendário que organiza as nossas preocupações, cumpre-se o Dia Mundial do Livro.

Um estudo hoje publicado, afirma que menos de metade da população continental com mais de 15 anos, leu um livro no mês anterior à data de realização do inquérito. Em 1996, a percentagem era de 23% o que representa um aumento de 58 %. Como referência comparativa, 79% dos britânicos acham a leitura uma actividade essencial.

Uma quadra do cancioneiro alentejano.

É tão triste não saber ler
Como é triste não ter pão
Quem não conhece uma letra
Vive numa escuridão.

E Marguerite Yourcenar em “As Memórias de Adriano”

A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

ALERTA AMARELO FACE À PRECIPITAÇÃO

Segundo a imprensa de hoje o País, está em alerta amarelo devido, também, à precipitação.
Acho muito bem. Por vezes precipitamo-nos e, por isso, corremos riscos. Assim, ao olhar para a imprensa de hoje.

Não nos precipitemos a analisar as relações entre extrema-direita e claques organizadas do futebol.
Não nos precipitemos ao analisar o interessantíssimo trajecto do Dr. Pina Moura.
Não nos precipitemos ao analisar as decisões sobre o Metro no Porto.
Não nos precipitemos ao analisar a recusa do PS em legislar sobre o chamado “enriquecimento ilícito”.
Não nos precipitemos no juízo sobre o que se está a passar na Universidade Independente.
Não nos precipitemos ao analisar novas referências sobre o processo Apito Dourado.
NÃO NOS PRECIPITEMOS.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

DE ÁFRICA E DO ENTRONCAMENTO - bons ventos

Contrariando o registo mais negativo de muito do que aqui tenho referido, hoje creio justificar-se um outro tom devido a dois acontecimentos que, sendo de natureza bem diferente, contribuem ambos para que a gente, alguma gente, se sinta melhor.

O primeiro acontecimento é a atribuição a Mia Couto do prémio da União Latina de Literaturas Românicas, o que acontece pela primeira vez a um escritor africano. Em tempos de escrita “light” o reconhecimento de um trabalho que está dentro de uma terra e dentro de uma cultura é um bom sinal.



O segundo acontecimento que quero sublinhar é a condenação, pelo Tribunal do Entroncamento, dos pais que bateram no seu filho de 10 anos motivando o recurso ao hospital. É ainda relevante saber que a queixa foi apresentada por um irmão mais velho. Esta condenação, que creio inédita, constituirá um primeiro sinal de que os tempos estarão em mudança. É certo que numa peça apresentada por uma estação televisiva, foram ouvidas várias pessoas que não percebiam (discordavam) o porquê da condenação. Afirmavam a sua posição com base no velho paradigma “quem dá o pão, dá a razão/educação”. Naturalmente que a educação e a razão se dão à estalada com o auxílio reparador do hospital se, porventura, alguma razão ou educação for dada em excesso. Como sabem, ninguém é perfeito.

NOTÍCIAS EXPLOSIVAS E BOMBÁSTICAS

Boa noite. Em Portugal o dia foi excepcionalmente tranquilo. Contrariamente ao que se esperava e tinha sido anunciado, não tivemos notícias bombásticas e explosivas. Em todo caso não é coisa que estranhemos, o não cumprimento de promessas.

Assim, atentando às primeiras páginas da imprensa generalista, apenas será de realçar.

“O peso dos impostos bate recorde” e “Beja quer ser Cidade Cinema (CM). Por outro lado, “As Universidades resistem à custa de estudantes sem o secundário” enquanto alguém “Andou na A3 em contramão, bateu em dois carros e tentou fugir a pé” e “Uma mulher regou companheiro com álcool e deitou-lhe fogo” (JN). Finalmente, o “Banco de Portugal pede alteração à lei laboral para maior produção” (Público) e “Só um acesso à Ota não terá portagem” (DN).

Assim sim! Um dia tranquilo e que não nos inquieta.

PS – Última hora. Afinal deve mesmo ter acontecido alguma coisa. Acabo de ver o Dr. Jorge Coelho muito “exalterado” com o Dr. Pacheco Pereira. Vou tentar perceber o que se passa.

terça-feira, 17 de abril de 2007

AGORA NA VIRGINIA TECH. Tragédia em (mais) um acto

Naturalmente. Noticia-se mais uma tragédia em estabelecimentos de educação nos Estados Unidos. Desta vez na Universidade mais conhecida por Virgínia Tech. Resultado, 33 pessoas mortas. Apenas mais um episódio de uma série negra. Ao que se sabe, o jovem estudante sul-coreano responsável pelo tiroteio terá comprado recentemente as armas utilizadas no incidente.

Como é possível que se mantenha o acesso quase indiscriminado às armas de fogo e ao seu uso na sociedade americana, direito aliás garantido pela constituição? A influência da poderosíssima National Rifle Association, com ecos e apoios, não gratuitos, na administração Bush, continua a ser eficaz impedindo um maior controlo deste quase livre acesso e utilização de armas. Para esta gente a tradição ainda é o que era, ou seja, um cowboy não pode andar desarmado, pois nunca se sabe onde pode aparecer um índio. E como temos visto, o mundo está cheio de índios, por isso… valha-nos as armas dos cowboys.

Deve ser isto (também) a que Pacheco Pereira, numa das suas mais criativas análises, designa por ingenuidade das políticas americanas.

NOVAS OPORTUNIDADES - cuidado com as tentações

Segundo a imprensa de hoje existem cerca de 75 000 inscritos visando o processo de reconhecimento, validação e certificação de competências de nível secundário no âmbito do Programa Novas Oportunidades. Ainda de acordo com a notícia, mais de três meses depois do previsto, este processo ainda não teve início fundamentalmente devido ao atraso na formação dos técnicos que reconhecerão, validarão e certificarão as competências. Uma pequena nota. Referir três meses de atraso quando o Programa foi apresentado em 2005 estabelecendo, aliás, como meta para 2006 a certificação de ensino secundário para 15 000 indivíduos conforme expresso em brochura editada e publicitada conjuntamente pelo Ministério da Educação e do trabalho e Solidariedade Social em Dezembro de 2005 (2ª edição) é um excesso de simpatia.

Mas a questão que me parece de sublinhar prende-se, sobretudo, com a natureza do Programa destinado a pessoas com mais de 17 anos e que tenham no mínimo três anos de experiência profissional ou frequentado o Secundário há mais de 3 anos sem o concluir. Portugal tem uma das mais baixas taxas de escolarização de nível secundário de toda a União Europeia o que obviamente exige um enorme esforço de qualificação da população que se traduz no objectivo de em 2010 ter cerca de 650 000 pessoas com certificação de Ensino Básico e Secundário em 500 Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CRVCC). Se este objectivo parece importante, torna-se igualmente necessário que o processo seja efectivamente regulado na certificação pois, três anos de experiência profissional eventualmente não qualificada podem ser manifestamente insuficientes para atribuição de equivalências o que descredibilizaria todo o Programa e, mais grave, os próprios sujeitos envolvidos e a sua competência.
Como dizia Miguel Torga, a carne é fraca e a pressa de mostrar resultados pode ser uma tentação.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

UMA OBSCENIDADE (com uma pitada de demagogia)

Duas referências da imprensa de fim-de-semana.

Cristiano Ronaldo estabelece novo contrato com seu clube, Manchester United, até 2012. Ao que se refere, o clube terá aceitado a exigência do jogador no sentido de se tornar o futebolista mais bem pago de Inglaterra pelo que lhe pagará 190 000 € (CENTO E NOVENTA MIL EUROS) por semana!!!

Na Conferência promovida pela Presidência da República no âmbito do Roteiro para a Inclusão, Carlos Farinha Rodrigues apresentou um estudo sobre distribuição do rendimento, desigualdade e pobreza em Portugal. De acordo com a investigação e com base no Eurostat, a “distância que separa o rendimento médio dos 20% mais pobres do rendimento médio dos 20% mais ricos está bastante acima da média comunitária”, ou seja, “o rendimento superior é 8,2 vezes mais alto que o rendimento inferior enquanto na União Europeia é 4,9”, (Público, 15/04/07).

Juntar estas duas notícias pode ser um pouco demagógico, mas há aqui qualquer coisa com que não lido bem.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

ENGENHEIRICES, DOUTORICES E OUTRAS SALOIAS ESQUISITICES

A polémica em torno da formação de José Sócrates e, sobretudo, da forma como deve ser referido, para além de um triste sinal de pequenez poderia ser um pretexto para reflectirmos sobre o modo curioso e diverso como encaramos e lidamos com figuras com alguma visibilidade social. Proponho-vos alguns exemplos. Estão agrupados pela forma como essas figuras são mais habitualmente tratadas seguindo-se alguma informação.


Professor Neca – Treinador de futebol com formação superior na área do Desporto;
Professor Marcelo (Rebelo de Sousa) – Catedrático de Direito, professor universitário, entertainer político e estratega do Plano Nacional de Leitura;
Professor Karamba – Reputado e poderoso médium vidente, especialista em todos os trabalhos ocultos;

José Alberto Carvalho – Jornalista com formação superior na área da Comunicação Social;
José Rodrigues dos Santos – Jornalista, professor universitário, doutorado em Ciências da Comunicação;

José Mourinho – Treinador de futebol com formação superior na área do Desporto;
Carlos Carvalhal – Treinador de futebol com formação superior na área do Desporto;

Engenheiro Fernando Santos – Treinador de futebol com formação superior em engenharia electrotécnica;
Engenheiro José Sócrates – Primeiro-ministro com formação superior em engenharia civil;
Engenheiro Belmiro de Azevedo – Empresário com formação superior em engenharia química;

Senhor Presidente Cavaco Silva – Presidente da República, doutorado em Economia;
Senhor Presidente Luís Filipe Vieira – Presidente de um clube de futebol;

Já viram o que isto tudo tem de bizarro e ridículo? Tanto que fazer e a gente assim se entretém.
(Foto de Jomar)

quinta-feira, 12 de abril de 2007

À PROCURA DE UMA CRÓNICA POSITIVA


Hoje, durante a corrida que habitualmente marca o início das minhas manhãs, um dos companheiros, o meu amigo Oliveira, expressava a sua ideia de que estes textos têm andado por tons excessivamente pessimistas e direccionados para a nossa realidade social e política. Tem razão, mas quando se juntam estas duas dimensões da nossa vida actual, parece-me difícil um discurso optimista, ainda por cima, no dia a seguir a um dos mais patéticos episódios a que ultimamente assisti, a entrevista com o Primeiro-ministro.

Pensei, então, que hoje procuraria um registo mais simpático. A leitura da imprensa diária não ajudou em particular. Bom, é importante uma visão positiva sobre a evolução da nossa economia expressa pelo FMI. Posso sempre acreditar num bom desempenho do meu Benfica na Taça UEFA frente ao Espanhol de Barcelona. A ver vamos.

Com esta preocupação de procurar um solzinho que nos aqueça encostada a um canto, comecei a preparar um trabalho que tenho de fazer na próxima sexta, uma conversa com pais de crianças em idade de Jardim de Infância, dos três aos seis, sobre isso mesmo, ser pai, mãe, de gente nestas idades.

De repente percebi que, por hoje, estava aqui um excelente pretexto e contexto para uma ideia simpática. De facto, poder ajudar alguém que vai crescendo à nossa beira a ser gente, boa gente, é das experiências mais bonitas que nos pode acontecer e importa que corra bem. Os miúdos precisam de gente optimista à sua volta. Pais mais bem-dispostos têm filhos mais bem-dispostos e as relações entre eles ficam mais fáceis, mais positivas e mais contributivas para o bem-estar de todos. É disto que irei falar, de optimismo.
(Foto de Céu Guitart)

quarta-feira, 11 de abril de 2007

ENTREVISTA OU JULGAMENTO?

Acabei de assistir à entrevista do Primeiro-ministro à RTP. Como era esperado e anunciado, parte da entrevista centrou-se na polémica em torno da formação académica e, mais importante, aproveitar a sua presença para análise da actividade governativa. Alguns comentários com uma nota prévia.
A nota prévia, não votei no partido do governo.
A formação académica do Primeiro-ministro não é relevante do ponto de vista político, é uma questão provinciana. Eventualmente pode ser relevante, em termos processuais e administrativos, saber com que regras e eficácia funciona o sistema de ensino superior, público e privado.
O que me deixou extremamente embaraçado foi a patética prestação de dois jornalistas manifestamente mal preparados, cuja ignorância, como é habitual em Portugal é mascarada com arrogância e com um comportamento agressivo e julgador do entrevistado. Não sou jornalista, sou apenas um cidadão que procura estar atento e acho que foi um péssimo serviço prestado à informação.
Quanto aos factos... Portugal no seu melhor.

Post scriptum – O comentário agora produzido por Marques Mendes veio confirmar a ideia de que mal irá quem pensa que assim se faz oposição e se representa uma credível alternativa. Diminuiu-o na tentativa de assim se apresentar.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO - O exemplo do metro do Porto

Hoje, 11 de Abril de 2007, na primeira página do Diário Económico lê-se, “DÍVIDA DO METRO SOBE 800 000 € POR DIA”. A notícia refere-se ao Metro do Porto e ao exercício de 2006.

Hoje, 11 de Abril de 2007, na primeira página do Jornal de Notícias lê-se, “MÁRIO LINO CEDE E FECHA ACORDO PARA O METRO DO PORTO”. A notícia refere-se ao prolongamento da linha do metro do Porto até Laborim e Gondomar, cuja realização, de acordo com o inevitável Valentim Loureiro, terá sido aceite pelo Governo.

Lê-se e não se acredita! O mais grave é a nossa acostumada e triste ideia de normalidade face a este tipo de situações. Nem desassossego! Nem perplexidade! Nem inquietação! Nem indignação! Nem nada!!

terça-feira, 10 de abril de 2007

TAMBÉM QUERO UMA PROVIDÊNCIA CAUTELAR

Parece ter-se instalado na sociedade portuguesa um comportamento recorrente sempre que algo não vai ao encontro dos interesses de alguém ou de algum grupo. Refiro-me à febre das providências cautelares. Como acredito em princípios de equidade decidi que TAMBÉM QUERO UMA PROVIDÊNCIA CAUTELAR. A partir da decisão instalou-se a dúvida sobre o objecto da minha providência cautelar. É que pode ser:

Relativamente à existência de políticos carreiristas e incompetentes que enchem os aparelhos partidários, sobram para as instituições públicas e são um atentado político;
Relativamente à arrogância da ignorância evidenciada por muita gente que fala, escreve, sobre o que não sabe;
Relativamente aos atentados à qualidade vida e ao ambiente em nome da ideia de há que “cimentar” o progresso(!!);
Relativamente à falta de políticas sociais dirigidas, de facto, às pessoas, dos putos aos velhos;
Relativamente a uma justiça, nas mais das vezes, entupida, ineficaz e injusta;
Relativamente à falta de responsabilização de gestores públicos pela incompetência na gestão do que lhes confiamos;
Relativamente aos densos e generalizados fumos de corrupção causadores de uma insuportável poluição ética;
Relativamente à substituição do substantivo pelo “light”, do que se conhece e estuda pelo que parece e se acha;
Relativamente à ditadura do politicamente correcto asséptico;
Relativamente a … etc.

Com tantas dúvidas creio que devo acautelar as providências que vou tomar.

CHOLDRA DE PAÍS!

Em trabalhos publicados Domingo e hoje em diferentes órgãos de comunicação social encontramos referências:

Ao enorme volume de crianças institucionalizadas, cerca de 15000, e à ineficácia genérica dos procedimentos relativos a adopção, colocação e enquadramento familiar;
Ao número de crianças vítimas de maus tratos e de eventuais abusos sem o devido acompanhamento;
Ao abandono escolar que continua elevadíssimo. Instâncias europeias acusam estado português de ausência de estratégias;
A cerca de setenta mil alunos com dificuldades escolares que não recebem apoio educativo adequado por decisão do Ministério da Educação.

E também soubemos que os estádios de futebol construídos para o Euro 2004 custam diariamente 50000 € às autarquias que os construíram.

MAS QUE CHOLDRA DE PAÍS É ESTE?
(Foto de Carlos Vieira)

domingo, 8 de abril de 2007

O DOMÉSTICO ENSINO - a minha mãe é a minha professora e é o meu mundo

O Público de hoje, num trabalho de Isabel Leiria, aborda a questão do ensino doméstico, ou seja, a situação de crianças que por opção familiar cumprem a sua escolaridade em casa. De acordo com a peça apresentada, o número de famílias a subscrever esta escolha tem vindo a aumentar, contando-se cerca de 60 na região de Lisboa, únicos dados fornecidos. Este movimento radica, de início, numa recusa/reserva das famílias relativamente aos conteúdos curriculares centralizados e massificados gerados pela escolaridade obrigatória e universal, atitude frequentemente associada a convicções religiosas e, posteriormente, nas questões de indisciplina e comportamentos inadequados que as famílias associam à escola actual.

Não me pronuncio sobre as implicações do ensino doméstico em termos de processo educativo nem discuto a legitimidade das opções familiares. No entanto, subscrevo genericamente as considerações de Paula Cristina do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho também referidas no jornal.

O que me faz reflectir, e inquieta, é o que parece significar este tipo de opções. Senão vejam.

Não se desloque às livrarias - encomende via net;
Não se desloque para comprar discos – encomende via net;
Não vá ao cinema – compre o DVD
Não vá a concertos – veja o DVD
Compre casa num condomínio fechado com espaço de convívio!!, sala e campo e jogos, piscina, etc.
Não se desloque às compras – encomende via net;
Não vá ao banco – tem o homebanking;
Não saia para trabalhar – está aí o tele-trabalho;
Não saia para estudar – tem e-learning:
Não saia para conversa e convívio – tem a conversa na net, aliás com várias opções;
Não saia para … - a televisão traz.

SE A GENTE NÃO SAI… QUE CAMINHO É O NOSSO? VAMOS JUNTOS OU FECHADOS?
(Foto de Alina Sousa)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

À IDA E À VINDA


Vou-me embora. Vou partir para o meu Alentejo até Domingo. Vai saber bem. Após uns dias com chuva a terra fica com um cheiro tão pesado que dá para ver e guardar. Depois conto como é.

(Foto de Maria Ivone)

QUANDO MAL CHEGA O PÃO, CORTA-SE NA DEVOÇÃO

No Correio da Manhã de hoje é publicado um trabalho que revela aspectos sobre os quais não tinha, nem tenho, grande conhecimento e reflexão. Refere esse trabalho que as esmolas e donativos à Igreja Católica diminuíram cerca de 25% nos últimos três anos, embora em alguns locais de culto, como o Santuário de Fátima, a diminuição seja menos significativa.

Na opinião de alguns inquiridos, as principais razões radicam na crise económica, desemprego nas famílias e na implantação da moeda europeia. Se me parece razoável a referência à crise e ao desemprego, já me parece mais curioso o eventual efeito do euro relativo à sua utilização menos expedita, passados que estão cinco anos da sua entrada em vigor. Pareceu-me mais interessante ainda a afirmação do provedor da Santa Casa Misericórdia de Braga, “Quando mal chega o pão, corta-se na devoção”.

Esta ideia parece contrariar a ideia judaico-cristã de que as provações potenciam a religiosidade e entrega das pessoas o que transparece na conhecida afirmação “Só nos lembramos de Santa Bárbara quando faz trovoada”.

Parece que estamos a assistir a um de dois fenómenos ou à conjugação dos dois. Ou diminui a comunidade de doadores com reflexo no volume de doações, ou a comunidade católica parece menos crente e/ou interessada no investimento nas estruturas representativas da Igreja.

Sinal de conjuntura? Sinal de mudança? Crise de convicções?
(Foto de Fátima Gomes)

terça-feira, 3 de abril de 2007

A RETÓRICA DO REFORÇO DA AUTORIDADE DOS PROFESSORES

O DN de hoje volta a colocar na agenda o problema da violência escolar, designadamente as agressões a professores. Apresenta os resultados de um trabalho DN/Marktest referindo que 94% dos inquiridos acha que o Governo deve reforçar a autoridade dos professores e dos conselhos executivos das escolas/agrupamentos. Na peça, o DN cita João Dias da Silva da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação que afirma “É preciso que haja uma alteração do estatuto do aluno para que se dê mais autoridade à palavra do professor e exista mais respeito por ele”.

No mesmo sentido, a Ministra da Educação afirmava em 5/3 ser necessária “mais autoridade para os professores” e “responsabilizar os pais” referindo estar em curso a alteração do estatuto do aluno no sentido de agilizar processos e procedimentos em matéria disciplinar. Em meu entendimento, este tipo de afirmações bem como a ideia dos inquiridos pelo DN espelha a retórica da impotência e incompetência face a esta questão.

Seria interessante perguntar aos participantes no estudo o que entendem por “reforçar a autoridade dos professores”. Temo que, de uma forma geral, ficaríamos assustados com as propostas. Da mesma forma o discurso do dirigente sindical demonstra impotência pois não se percebe como é que a alteração do estatuto do aluno devolve a autoridade ao professor e respeito pela sua figura. A senhora Ministra fala em agilizar os processos administrativos no âmbito das questões de natureza disciplinar e “responsabilizar os pais”. Em que consiste exactamente esta responsabilização? Como se opera? Simplificar e agilizar processos é sempre positivo mas que relação de causa efeito existe entre os processos e a autoridade dos professores.

Como já tive oportunidade de escrever neste espaço (A PROPÓSITO DA AGRESSÃO A PROFESSORES), é urgente desfazer o equívoco de considerar a violência na escola, e as agressões a professores e funcionários em particular, como problemas de natureza disciplinar. Não é indisciplina. De uma vez por todas, estes comportamentos (e outro) definem um quadro de pré-delinquência e delinquência que ocorre na escola porque os alunos estão na escola e, naturalmente, afecta o seu funcionamento. Se o estatuto do aluno se direcciona para questões de disciplina não resolve problemas de delinquência porque este fenómeno existindo, também, na escola, está para além da escola e neste sentido a escola (professores e direcção) sendo parte da solução não pode ser A SOLUÇÃO. É um problema grave da(s) comunidade(s). Por mais que se reclame REFORÇO DA AUTORIDADE DOS PROFESSORES, algo que, presumo, dificilmente teremos uma ideia clara sobre o que será, é num contexto mais alargado que a acção urge. Mas esta retórica da autoridade é algo a que os portugueses ainda são sensíveis. Várias décadas de “autoridade” não podem deixar de produzir efeitos. Cuidado com as imitações como dizia o Sérgio Godinho.

Voltaremos a isto.
(Foto de Piparazzi)

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - alguma perplexidade

Na 5ª feira da semana passada foi divulgado o Relatório de Segurança Interna de que retiramos os dados relativos à criminalidade associada à violência doméstica. Foram registados mais de 17000 casos envolvendo um aumento de 3287 casos o que corresponde a um aumento de 30%. Este número torna-se ainda mais pesado se considerarmos que, de acordo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 53% dos casos que lhe foram reportados não terão sido denunciados às autoridades judiciais ou policiais.
A propósito de outras questões, já aqui nos referimos às alterações que nos últimos anos se têm vindo a verificar no âmbito das dinâmicas familiares e nos modelos de organização familiar. Estas alterações, que decorrem de razões diversas e assumem implicações também elas de natureza bem diferente, parecem, estranhamente, não se reflectir no fenómeno da violência no contexto familiar. Embora não tenha tido acesso a dados mais finos e esclarecedores, um dos aspectos que me causam maior perplexidade e, sobretudo, preocupação reside no facto de que, se por um lado, as alterações nos modelos e dinâmicas familiares parecem envolver, naturalmente, indivíduos mais novos, genericamente mais comprometidos voluntaria ou involuntariamente em processos de mudança, o aumento da criminalidade ligada à violência doméstica não traduz uma mudança de valores e atitudes nas relações intra-familiares. Colocada a questão de outra maneira, será que podemos afirmar que temos pessoas disponíveis e/ou sujeitas a novos modelos de organização e funcionamento da família mas que, simultaneamente, mobilizam comportamentos mais violentos nas relações interpessoais interiores à família? E se assim for, como pode ou deve a comunidade intervir em contextos familiares marcados pela violência assente em questões de género e/ou poder?
(Foto de Jmac)

domingo, 1 de abril de 2007

A CONVENÇÃO DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Registo que a 30 de Março se iniciou o processo de assinatura e ratificação pelos diferentes países relativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada na Assembleia Geral da Organização da Nações Unidas em 13 de Dezembro de 2006. Lembro-me, também, que 1981 foi definido como Ano Internacional da Pessoa com Deficiência e estabelecido como tema geral “Total Participação e Igualdade”. Passados 26 anos, a Convenção agora em ratificação pretende “promover, proteger, e assegurar o equitativo e completo gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência e promover o respeito geral pela sua dignidade”. De novo.

Nestas ocasiões aparece sempre algum optimismo traduzido na desgastada fórmula “agora vai” ou na sua variante “desta é que é”. A idade deveria dar-nos a sabedoria suficiente para entender que a realidade não é a projecção dos nossos desejos, mas… por uma vez, mais uma vez…

Vou acreditar que os Programas de Intervenção Precoce serão eficazes, desempenhados por quem está preparado e dirigidos a todas as crianças que necessitam e não apenas às “elegíveis” com base em critérios anacrónicos;
Vou acreditar que as políticas educativas assentarão no princípio de que todas as crianças e jovens vão ter uma educação de qualidade apropriada às suas necessidades;
Vou acreditar que as políticas sociais protegerão os direitos básicos das pessoas com deficiência e das suas famílias, assegurando os dispositivos de apoio e os recursos necessários a padrões aceitáveis de qualidade de vida;
Vou acreditar que os processos educativos assentes num sólido e eficaz princípio de inclusão contribuirão para formar indivíduos solidários e atentos para quem o outro não é transparente.

Será que vou mesmo acreditar?
(Foto de Isaurinda Brissos)