sexta-feira, 17 de julho de 2009

CORRUPÇÕES

De há muitos anos que se instalou em Portugal um discurso sobre a corrupção e a impunidade associada que a define como uma das características estruturais mais graves da nossa comunidade. É também frequente a retórica sobre o combate ao mal, mas, simultaneamente, uma aceitação resignada de que não há nada a fazer, é cultura. As tímidas tentativas de mudança, veja-se o chamado “pacote” Cravinho, esbatem numa inamovível teia de interesses de que todos parecem alimentar-se, muito ou pouco. Quando se fala em corrupção relaciona-se mais habitualmente o fenómeno ao mundo dos negócios, públicos ou privados. Sendo óbvia a explicação para tal, parece-me que se esquecem algumas outras áreas ou dimensões em que também a corrupção se verifica e assume efeitos igualmente gravosos, mas menos visíveis.
Seria importante, por exemplo, considerarmos os níveis de corrupção verificados nos valores, na ética política e social. A ofensa e o insulto, a manipulação e propaganda com recurso a dados habilidosamente tratados, a facilidade com que hoje se afirma e defende o que amanhã se nega e combate. As promessas anunciadas que se sabem impossíveis de cumprir. A manutenção de dispositivos e processos que desprotegem os mais vulneráveis. A permeabilidade à influência e ao aparelho, em detrimento do mérito e da competência.
Todo este universo constitui, creio, um dos mais sérios obstáculos a que verdadeiramente se combata a mais visível corrupção no mundo dos negócios, públicos e privados.

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