No Público de hoje reporta-se mais uma
experiência que começa a ser recorrente, o
ensino de mandarim a crianças pequenas, no caso entre os quatro e os
cinco anos. À semelhança de outras experiências conhecidas, a justificação é de
que se trata de "uma língua que o colégio presume que terá grande impacto a
nível mundial". Assim sendo, há que preparar as criancinhas para a
globalização e as exigências de uma comunidade mundial que utilizará o mandarim como língua privilegiada.
Estas iniciativas, sempre com meritórias justificações,
a melhor preparação das crianças para enfrentar o futuro, também me colocam
algumas inquietações, isto é, como é que muitas crianças enfrentam o presente
e, por consequência, como é que, na verdade, se preparam, ou não, para o
futuro.
De forma que considero inquietante, fruto dos
estilos de vida e das dificuldades genéricas que enfrentamos, tem vindo a
instalar-se de mansinho em muitos pais, frequentemente acompanhados pelas
instituições educativas, uma atitude e um discurso de exigência e de pressão para
a excelência no desempenho dos miúdos, a começar pelos resultados escolares.
Dito de outra maneira, os miúdos são cada vez mais pressionados para a produção
e de alto nível de rendimento. Esta excelência que é exigida é extensiva a
todas as áreas em que os miúdos se envolvem, devem ser excelentes a tudo.
Deste entendimento, para além da tempo infindo
que os miúdos passam na escola, surge uma oferta com uma diversidade espantosa
que tornará as crianças fantásticas, excelentes, em montanhas de coisas que
lhes fazem uma falta tremenda para se prepararem para o futuro, basta atentar
na oferta disponível.
A vida de muitas crianças transforma-se assim num
espécie de agenda, passando o dia, incluindo fins-de-semana, a saltar de
actividade fantástica em actividade fantástica, numa agitação sem fim.
Acontece que algumas crianças, por questões de
maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos positiva esta
pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição escolar e,
finalmente, insucesso.
Também sei que em muitas destas actividades estará
presente uma genuína preocupação dos seus responsáveis pela qualidade e
adequação do trabalho que realizam com os miúdos. A questão é que esse trabalho
é apenas um dos mil trabalhos com que se vai enchendo a vida dos miúdos.
A melhor forma de preparar os miúdos para o futuro
é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas, mas também sem
excessos.
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