A propósito do lançamento de um novo livro de Pedro
Strecht "Assim seus olhos", a que o Público faz referência e em que se
tocam aspectos como o "sofrimento das crianças em consequência da
separação dos pais, das condições de pobreza em que vivem, da solidão que
sentem, do insucesso escolar que experimentam", relembro um trabalho com o
Professor Peter Wilson, psicoterapeuta inglês que esteve em Portugal para
participar nas Jornadas da Casa da Praia, uma das melhores heranças do Mestre
João dos Santos, figura a quem o país educativo, mas não só, deve uma homenagem
e que se estivesse entre nós se sentiria profundamente inquieto. Aliás, João
dos Santos é uma figura de referência no livro e obra de Pedro Strecht.
Peter Wilson referiu a necessidade de que nas
escolas existam apoios aos professores, às famílias e às crianças com
dificuldades emocionais, a única forma, entende, apoiado na sua experiência, de
minimizar e ajudar neste tipo de problemas que, não sendo acautelados, têm
quase sempre efeitos devastadores em termos pessoais e sociais. Segundo Peter Wilson,
os estudos em Inglaterra sugerem a existência de três crianças com problemas do
foro emocional em cada sala de aula pelo que o apoio é muito mais eficaz e
económico prestado na escola a alunos, famílias e professores. Este
entendimento é partilhado, creio, pela generalidade dos profissionais e
famílias, também em Portugal e o próprio livro de Pedro Strecht traduz este entendimento.
Acontece que conforme é reconhecido pela
Inspecção-Geral da Educação falta formação neste âmbito aos educadores e
professores do ensino regular, não existem os Serviços de Psicologia e
Orientação, previstos na lei verificando-se e constata-se a indefinição ou
ausência de estratégias relativas à educação deste grupo de alunos.
As crianças com necessidades educativas
especiais, as suas famílias, os professores e técnicos, especializados ou do
ensino regular sabem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades
para, no fundo, garantir não mais do que algo básico e garantido
constitucionalmente, o direito à educação e tanto quanto possível, junto das
crianças da mesma faixa etária. É assim que as comunidades estão organizadas,
não representa nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Acresce que a própria legislação e orientação em
matéria de política educativa inibe, em muitas circunstâncias, a prestação de
apoios a crianças que deles necessitam, quer por via da gestão de recursos
impondo taxas de prevalência de problemas fixadas administrativamente e sem
qualquer correspondência com a realidade quer pelos modelos de organização de
respostas que impõe. Aliás, a prevalência dos problemas emocionais referida por
Peter Wilson para a Inglaterra, as preocupações de Pedro Strecht e de muitas
outras pessoas não parecem merecer acolhimento por parte de quem decide, embora
sempre contem na retórica programática como acontece no documento divulgado
ontem pelo MEC.
Como é evidente, em quaisquer situações, as
minorias, são sempre mais vulneráveis, falta-lhes voz. Resta-lhes o sofrimento e
a desesperança.
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