terça-feira, 19 de junho de 2012

UM DIA TAMBÉM POSSO ESTAR FELIZ. Se me ajudarem

A propósito do lançamento de um novo livro de Pedro Strecht "Assim seus olhos", a que o Público faz referência e em que se tocam aspectos como o "sofrimento das crianças em consequência da separação dos pais, das condições de pobreza em que vivem, da solidão que sentem, do insucesso escolar que experimentam", relembro um trabalho com o Professor Peter Wilson, psicoterapeuta inglês que esteve em Portugal para participar nas Jornadas da Casa da Praia, uma das melhores heranças do Mestre João dos Santos, figura a quem o país educativo, mas não só, deve uma homenagem e que se estivesse entre nós se sentiria profundamente inquieto. Aliás, João dos Santos é uma figura de referência no livro e obra de Pedro Strecht.
Peter Wilson referiu a necessidade de que nas escolas existam apoios aos professores, às famílias e às crianças com dificuldades emocionais, a única forma, entende, apoiado na sua experiência, de minimizar e ajudar neste tipo de problemas que, não sendo acautelados, têm quase sempre efeitos devastadores em termos pessoais e sociais. Segundo Peter Wilson, os estudos em Inglaterra sugerem a existência de três crianças com problemas do foro emocional em cada sala de aula pelo que o apoio é muito mais eficaz e económico prestado na escola a alunos, famílias e professores. Este entendimento é partilhado, creio, pela generalidade dos profissionais e famílias, também em Portugal e o próprio livro de Pedro Strecht traduz este entendimento.
Acontece que conforme é reconhecido pela Inspecção-Geral da Educação falta formação neste âmbito aos educadores e professores do ensino regular, não existem os Serviços de Psicologia e Orientação, previstos na lei verificando-se e constata-se a indefinição ou ausência de estratégias relativas à educação deste grupo de alunos.
As crianças com necessidades educativas especiais, as suas famílias, os professores e técnicos, especializados ou do ensino regular sabem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades para, no fundo, garantir não mais do que algo básico e garantido constitucionalmente, o direito à educação e tanto quanto possível, junto das crianças da mesma faixa etária. É assim que as comunidades estão organizadas, não representa nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Acresce que a própria legislação e orientação em matéria de política educativa inibe, em muitas circunstâncias, a prestação de apoios a crianças que deles necessitam, quer por via da gestão de recursos impondo taxas de prevalência de problemas fixadas administrativamente e sem qualquer correspondência com a realidade quer pelos modelos de organização de respostas que impõe. Aliás, a prevalência dos problemas emocionais referida por Peter Wilson para a Inglaterra, as preocupações de Pedro Strecht e de muitas outras pessoas não parecem merecer acolhimento por parte de quem decide, embora sempre contem na retórica programática como acontece no documento divulgado ontem pelo MEC.
Como é evidente, em quaisquer situações, as minorias, são sempre mais vulneráveis, falta-lhes voz. Resta-lhes o sofrimento e a desesperança.

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