terça-feira, 26 de junho de 2012

PROFESSORES A MAIS. Será?

A notícia do Público sobre o abandono de 23 000 professores do quadro nos últimos três anos e o acréscimo de quase 20 000 docentes contratados, sugere um caminho de precarização que não parece desejável e eficaz.
A questão do número de professores necessário ao funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa.
Existem muitos professores deslocados de funções docentes, boa parte em funções técnicas e administrativas que em muitos casos seriam dispensáveis pois fazem parte de estruturas do Ministério pesadas, burocráticas e ineficazes que, aliás, o ministro Nuno Crato achou que deveriam implodir. Para já, o risco de implosão ameaça mais a escola pública que o Ministério, a ver vamos.
Por outro lado, os modelos de organização e funcionamento das escolas com uma série infindável de estruturas intermédias e com um excesso insuportável de burocratização retira muitas horas docentes ao trabalho dos professores que estão nas escolas.
Importa também não esquecer o enviesamento que por demissão da tutela se tem verificado na oferta relativa à formação de professores produzindo assimetrias donde decorrem a falta ou o excesso de recursos em diferentes áreas. Registe-se que este ano as instituições de ensino superior receberam orientação para diminuir a oferta na formação de docentes.
O processo em muitos casos justificado de encerramento de escolas, do 1º ciclo, e de criação dos insustentáveis mega-agrupamentos tem também contribuído para fazer decrescer os professores em funções pois, na maioria das vezes, verifica-se um aumento de alunos por turma, agora estabelecido legalmente que, obviamente, não servirá a qualidade e dispensará professores.
Finalmente e sem pretender ser exaustivo, também é de considerar a própria oscilação da demografia escolar, para além da pressão brutal para a redução de custos com as consequências a que vamos assistindo.
Este quadro promove, naturalmente, um problema de absorção de muitos docentes, já no sistema e que correm o risco de passar a horários zero, bem como na estabilização dos que se mantêm contatados por anos por conta das eternas necessidades transitórias ou ainda na entrada de novos docentes.
O Ministro referiu há tempos referiu na AR o previsível aumento de professores sem trabalho que ainda não seria possível quantificar.
Face a este quadro, julgo que faria sentido que os recursos que já estão no sistema, pelo menos esses e incluindo os contratados com muitos anos de experiência, fossem aproveitados em trabalho de parceria pedagógica, que se permitisse a existência em escolas mais problemáticas de menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades.
Os estudos e as boas práticas mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
Sendo exactamente estes os dois problemas que afectam os nossos alunos, talvez o investimento resultante da presença de dois docentes ou de mais apoios aos alunos, compense os custos posteriores com o insucesso, as medidas remediativas ou, no fim da linha, a exclusão, com todas as consequências conhecidas.
É só fazer contas. E nisso o Ministro Nuno Crato é especialista.

1 comentário:

pc disse...

Essa diferença de numeros demonstra que há certamnente vagas dos quadros das escolas e que os docentes contratados não transitaram para a figura de "efectivos"... Enquanto Crato não promover a estabilidade do corpo docente, não é possivel assegurar a qualidade pedagógica de forma contínua a cada ano letivo. A autonomia que se quer aplicar às escolas, também depende da exixtencia de um corpo docente estável!