Um dia destes, em conversa com o
Miguel, um gaiato de oito anos, reparámos como um avião, que já se aproximava
do aeroporto de Lisboa, parecia imóvel. A observação levou ao inevitável
comentário sobre a forma como o avião,
tão pesado, se sustenta no ar. O Miguel concluiu, "sabes, não parece, mas
o ar tem muita força, é muito importante".
Na verdade, fiquei a pensar, como
o ar tem tanta força e importância. Todos os dias temos evidências nesse
sentido. Sem qualquer espécie de critério vejamos algumas, poucas, situações.
Acho notável o ar sério com que
muito frequentemente deputados na AR dizem as maiores barbaridades. O mesmo ar
sério com que muitos fazem discursos num sentido e, passado algum tempo,
discorrem em sentido contrário.
E que dizer do ar profundo com
que muitos opinadores afirmam banalidades e ignorância.
Também me diverte o ar subserviente
que se observa naquelas segundas figuras que se deslocam em bando atrás das
pessoas importantes em aparições públicas, sobretudo, com câmaras televisivas
por perto.
Acho engraçadíssimo o ar,
falsamente espantado, com que tantas vezes respondemos "A sério?! Não
posso!"
É notável o ar de virgem ofendida
e perseguida que alguns figurões, comprovadamente envolvidos em negócios ou
procedimentos manhosos, compõem em entrevistas de branqueamento.
Na verdade, Miguel, o ar é muito
importante e tem muita força.
Mas importante mesmo, é o ar que
os miúdos têm quando sabem e sentem que gostam deles e que deles cuidam.
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