O início de cada período de férias escolares,
sobretudo as de Verão, recoloca na agenda como resolver o problema da ocupação
dos miúdos. Em tempo de dificuldades a coisa complica-se, para os pais é claro,
têm férias mais curtas e nem sempre coincidentes, mas também para os miúdos.
Algumas notas repescadas de textos que já por aqui passaram.
Uma opção possível é manter os miúdos na escola,
sobretudo os mais pequenos. Conheço circunstâncias em que os meninos continuam
na escola, na sala do costume, com as fichas do costume, no trabalho do
costume. Mesmo admitindo a impossibilidade de que, por ausência de alternativa,
as crianças não continuem a habitar no espaço escolar, é tempo de férias,
existem tantas coisas que habitualmente não cabem no tempo da escola, mas cabem
no tempo das férias. Claro que podem ler e escrever nas férias, é bom ler e
escrever, mas numa sala de aula? Nas fichas do costume? Porquê? Será que alguém
de nós, os privilegiados que temos férias, achamos interessante, passá-las,
mesmo que apenas uma parte, no local de trabalho?
Uma outra grande e emergente alternativa menos
acessível mas mais variada tem vindo de um mercado, sempre o mercado, atento às
necessidades dos consumidores.
Temos as oficinas, os ateliers, os playcenters,
os workshops, os espaços lúdicos, etc. destinados à música, do jazz à clássica,
à dança ou à literatura, contos e histórias, às actividades expressivas,
plásticas ou artísticas, a designação também varia, em toda a sua gama e
diversidade. Temos a filosofia para crianças destinada, eventualmente, aos mais
reflexivos. Temos as actividades desportivas, várias modalidades, indoor ou de
ar livre em diferentes versões e natureza, quintas pedagógicas, contacto com
animais e espaços de aventura, campos de férias, etc. As referências poderiam
continuar dada a criatividade e capacidade de inovação dos proponentes
disponibilizando, enfim, uma oferta para todas as bolsas, ou quase. Esta oferta
cobre, naturalmente, todas as idades.
Sei bem que neste universo existem iniciativas de
excelente qualidade, no entanto, creio que devemos adoptar uma atitude de
alguma cautela. Instalou-se um pouco a convicção de que é fundamental para o
desenvolvimento e bem-estar das crianças a sua participação em inúmeras
actividades, todas imprescindíveis à excelência, porque os miúdos devem ser
educados para ser excelentes. Entende-se, muitos pais o afirmam, que a realização
de todas, mesmo todas, estas actividades são imprescindíveis aos miúdos, pois
promovem níveis fantásticos de desenvolvimento intelectual e da linguagem,
desenvolvimento motor, maturidade emocional, criatividade, interacção social,
autonomia e certamente de mais alguns aspectos que agora não recordo.
Os pais, alguns pais, seduzidos pela sofisticação
desta oferta, pressionados pelos estilos de vida que não conseguem ou podem
ajustar e com a culpa que carregam pela falta de tempo para os filhos, aceitam,
por vezes para não ser injusto, que os miúdos sejam fechados dentro destes
“espaços de liberdade”, comprando, assim, mais um serviço educativo.
Não esqueço, sublinho, que nestas iniciativas
algo de interessante e importante pode acontecer para as crianças, também não
duvido da seriedade e competência dos responsáveis, mas inquieta-me um pouco a
pressão criada sobre os pais que corre o sério risco de transformar as férias
do miúdos em algo de cansativo, cheias de "tempos livres" que de
livres muitas vezes têm pouco.
Talvez seja ingenuidade, mas gosto de pensar que
para ajudar nas férias dos miúdos de forma menos sofisticada e mais aberta,
poderíamos também recorrer a equipamentos que muitas vezes existem nas
comunidades e a avós que vivem nos lares, sem netos a quem contar histórias e
com quem passear, estimular as relações de vizinhança integrando o
acompanhamento das crianças do prédio nas funções do condomínio e que
rotativamente pode ser assegurada, etc.
Era bom que as férias fossem, isso mesmo, férias,
tranquilas mas isto nos tempos que correm até parece utopia. E é.
Boas férias.
5 comentários:
Boa noite, lamento discordar do seu post, mas para mim as férias eram verdadeiramente o "rien faire", pode ser considerado, preguiça, mas o verão parecia estender-se até ao infinito, após escutar o último soar da campainha naquele ano lectivo. Verão era sinónimo de tardes solarengas, de brincadeiras com os colegas, de jogos de futebol, de leituras de livros, de sombras bem aproveitadas e de praias repletas. Tardes solarengas que se estendem até ao infinito, ou pareciam :)Existia qualquer coisa de mágico nas tardes que terminavam com núvens num céu cor de rosa, ou alaranjado, beber uma coca-cola com os colegas e espairecer de um ano lectivo bem aproveitado.
Caro Marco, Talvez eu não tenha sido claro, mas o sentido do meu texto era exactamente a ideia de que deveria ser possível que as férias fossem ... férias. Veja a frase final, "Era bom que as férias fossem, isso mesmo, férias, tranquilas mas isto nos tempos que correm até parece utopia".
Peço desculpa, pelo meu erro de interpretação. MEA CULPA e de uma noite animada no café com uns colegas meus, assim sendo concordo absolutamente consigo, férias, são férias tranquilas :)
Mas a verdade é que essas férias, de tardes solarengas, de brincadeiras com os colegas, férias de rua já não existem. Ou praticamente não existem. Vou optar por colocar a minha filha num ATL, 6 semanas de ATL. Não me agrada, mas qual é a alternativa? Ficar com a avó, que já não tem saúde para tal, e passar os dias a ver televisão. Entre a TV e o ATL, prefiro o ATL. Há é que escolher um daqueles que não massacre as crianças com actividades criativas, pedagógicas, que promovem o seu desenvolvimento integrado...
Há tempos dizia eu à minha filha que havia uma ATL onde se faziam experiências cientificas, histórias, actividades artisticas, etc, e diz-me ela prontamente: Oh, isso é trabalhar! É verdade. As crianças de 8 anos sabem bem melhor do que muitos adultos o que são tempos livres.
Marte, claro que o problema que sente é comum a milhares de pais. A minha questão é se, como diz a sua filha, e eu procurei reflectir no texto, a resposta para esse problema é colocar as crianças a "trabalhar". Creio que lhes podem ser proporcionados "Tempos Livres" que sejam, de facto, livres. Por outro lado, também acredito que nas comunidades poderíamos, se olhássemos para a questão de outra maneira, ensaiar outro tipo de resposta.
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