sábado, 9 de junho de 2012

ACTIVOS DESCARTÁVEIS? Não, são pessoas

Com impressionante regularidade vão surgindo relatos de situações de autêntica escravatura em países da UE. No Público conta-se mais uma história feia com gente dentro, um grupo de trabalhadores contratados por uma empresa portuguesa conseguiu fugir de França onde estava em condições miseráveis e sem receber salário.
Se bem se recordam, há algumas semanas na Bélgica, um trabalhador português trabalhava em regime de contratação ilegal numa obra e foi acometido de doença cardíaca. O responsável da empresa entendeu por bem livrar-se do trabalhador, abandonando-o ainda vivo numa rua deserta onde veio a falecer e foi encontrado. O cuidadoso responsável tentou ainda comprar o silêncio da viúva. Sem comentários.
Há já algum tempo que o Sindicato da Construção de Portugal tem vindo a alertar para a existência de "redes mafiosas" que contratam trabalhadores portugueses para trabalho no estrangeiro onde são sujeitos a condições de trabalho que configuram escravatura. Numa altura e que, por razões óbvias aumentam os fluxos de emigração, aliás, até a conselho de quem nos governa, esta questão é importante. Sublinha-se ainda que entre os países referidos no alerta do Sindicato se incluíam França, Alemanha e Inglaterra. Ter-se-á esquecido de incluir a Bélgica no lote de países do primeiro mundo que se reclama de farol dos direitos humanos e do desenvolvimento mas que convivem com escravatura ou algo muito próximo disso em pleno século XXI.
Estas situações, que se podem juntar a recorrentes casos de escravatura para trabalho agrícola em Espanha ou o tráfico de pessoas, um dos mais florescentes e rentáveis negócios à escala mundial, alimentam-se da vulnerabilidade social, da pobreza e da exclusão o que, como sempre, recoloca a imperiosa necessidade de repensar modelos de desenvolvimento económico que promovam, de facto, o combate à pobreza e, caso evidente em Portugal, às escandalosas assimetrias na distribuição da riqueza.
As pessoas, muitas pessoas, apenas possuem como bem, a sua própria pessoa e o mercado aproveita tudo, por isso, compra e vende as pessoas dando-lhe a utilidade que as circunstâncias, a idade, e as necessidades de "consumo" exigirem.
O que parece ainda mais inquietante é o manto de silêncio e negligência que cai sobre este drama tornando transparentes as situações, não as vemos.

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