Com impressionante regularidade vão surgindo
relatos de situações de autêntica escravatura em países da UE. No Público
conta-se mais uma história feia com gente dentro, um grupo de trabalhadores
contratados por uma empresa portuguesa conseguiu fugir de França onde estava
em condições miseráveis e sem receber salário.
Se bem se recordam, há algumas semanas na
Bélgica, um trabalhador português trabalhava em regime de contratação ilegal
numa obra e foi acometido de doença cardíaca. O responsável da empresa entendeu
por bem livrar-se do trabalhador, abandonando-o ainda vivo numa rua deserta
onde veio a falecer e foi encontrado. O cuidadoso responsável tentou ainda
comprar o silêncio da viúva. Sem comentários.
Há já algum tempo que o Sindicato da Construção
de Portugal tem vindo a alertar para a existência de "redes mafiosas"
que contratam trabalhadores portugueses para trabalho no estrangeiro onde são
sujeitos a condições de trabalho que configuram escravatura. Numa altura e que,
por razões óbvias aumentam os fluxos de emigração, aliás, até a conselho de
quem nos governa, esta questão é importante. Sublinha-se ainda que entre os
países referidos no alerta do Sindicato se incluíam França, Alemanha e
Inglaterra. Ter-se-á esquecido de incluir a Bélgica no lote de países do
primeiro mundo que se reclama de farol dos direitos humanos e do
desenvolvimento mas que convivem com escravatura ou algo muito próximo disso em
pleno século XXI.
Estas situações, que se podem juntar a
recorrentes casos de escravatura para trabalho agrícola em Espanha ou o tráfico
de pessoas, um dos mais florescentes e rentáveis negócios à escala mundial,
alimentam-se da vulnerabilidade social, da pobreza e da exclusão o que, como
sempre, recoloca a imperiosa necessidade de repensar modelos de desenvolvimento
económico que promovam, de facto, o combate à pobreza e, caso evidente em
Portugal, às escandalosas assimetrias na distribuição da riqueza.
As pessoas, muitas pessoas, apenas possuem como
bem, a sua própria pessoa e o mercado aproveita tudo, por isso, compra e vende
as pessoas dando-lhe a utilidade que as circunstâncias, a idade, e as
necessidades de "consumo" exigirem.
O que parece ainda mais inquietante é o manto de
silêncio e negligência que cai sobre este drama tornando transparentes as situações,
não as vemos.
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