Segundo a imprensa, o MEC vai assinar na próxima semana um
protocolo com o Ministério homólogo da Alemanha visando a importação de um modelo
do ensino alemão segundo o qual, os alunos logo a saída do primeiro ciclo de estudos
podem aceder a uma via de ensino profissional dificilmente reversível conforme a
OCDE reconhece. Como é óbvio, considerando as idades em que estas escolhas se
processam, a opção é determinada pela escola com base nos resultados escolares
dos alunos. Parece-me de recordar que segundo Relatório recente da UNESCO a
colocação dos alunos com piores resultados escolares em ensino de carácter
técnico e vocacional, em vez da aposta nas aquisições escolares fundamentais,
aumenta a desigualdade social.
Como é conhecido, algo de semelhante está funcionar em fase
de projecto em Portugal e o MEC entende a criação da via vocacional,
aprendizagem de profissões concretas, assente em duas linhas de força, no final
do 6º ano os alunos podem escolher entre a via vocacional ou a via regular
(reparem que só uma é "regular", a outra é "especial"), a
frequência da via vocacional é “obrigatória” para qualquer aluno que chumbe
duas vezes no mesmo ano no 1º ou 2º ciclos e para quem chumbe três anos
interpolados, as famílias ou qualquer aluno podem escolher esta via e no final
do 9º ou do 12º os alunos podem, fazendo os respectivos exames, retornar ao
ensino "regular" uma vez que manterão na via vocacional o mesmo
currículo em Português, Matemática e Inglês, curiosamente as disciplinas com
mais "chumbos".
Quero deixar claro, tenho-o escrito e afirmado,
que é importante diversificar a oferta formativa, a diferenciação de percursos,
de forma a conseguir um objectivo absolutamente central e imprescindível, todos
os alunos devem atingir alguma forma de qualificação, única forma de combater a
exclusão.
A questão que considero fortemente discutível num
plano técnico e ético é a introdução desta diferenciação tão cedo e “obrigatória”
para os que chumbam. Poucos sistemas educativos assumem este entendimento e o
facto de o ensino o alemão o admitir não é nenhuma chancela de correcção do
modelo.
Os alunos com insucesso, estamos a falar,
presumo, de gente com capacidades "normais" irão “obrigatoriamente
para” o ensino vocacional. Sabe-se que o insucesso escolar é mais prevalente em
famílias mais desfavorecidas embora também conheçamos as excepções, muitas.
Assim, mantemos a velha ordem, os mais pobres "destinados"
preferencialmente para o trabalho manual, os mais favorecidos preferencialmente
para o trabalho intelectual como a UNESCO reconhece.
Por outro lado, afirmar que um aluno no 6º ano
"opta" é um disparate, uma criança de 12 ou 13 anos, não
"opta", como sabem se forem sérios. Aliás, nem a lei nem a sua
maturidade lhe permitem "optar", o aluno não é o seu encarregado de
educação, por alguma razão isto acontece. Claro que a escola poderá sempre
"optar" por ele, canalizando os que "atrapalham" os bons
alunos para o ensino vocacional.
O MEC afirma que os pais devem autorizar ou eles
próprios optar, demagogia manhosa mais uma vez. Quem conhece as nossas escolas
sabe bem da margem de negociação e do nível de envolvimento dos pais dos alunos
candidatos a esta via, os de insucesso, e que esta "autorização" é
uma questão burocrática.
Afirma-se ainda que o aluno pode retornar ao
ensino "regular" fazendo os exames nacionais de ciclo. Qualquer
pessoa que conheça o mundo da educação, sabe que a probabilidade de um aluno
que tenha frequentado uma via mais "prática" durante o 3º ciclo mesmo
que tendo o mesmo currículo a Português, Matemática e Inglês, apresentar-se a
exame nacional do 9º ou do 12º e ser bem sucedido é residual, mais uma vez
haverá excepções, mas serão isso mesmo. Sejamos sérios, a esmagadora maioria
destes miúdos não voltará ao percurso normal sendo "empurrados" aos
12 anos para a via vocacional.
Não me surpreende que esta decisão do MEC suscite
a adesão de alguns, professores ou pais. Uns verão as suas salas de aulas,
outros os seus filhos mais afastados dessa gente fracassada que só serve para
trabalhos manuais "práticos", "vocacionais". É claro que se
a medida tocar aos seus filhos a questão é outra, aí exigirão apoios ou procuram-nos
fora da escola, porque sabem, todos sabemos, que aos doze anos os miúdos devem
aprender o que TODOS aprendem, da forma que conseguem aprender e com os
recursos adequados nos quais, aqui sim, deveria residir a verdadeira aposta.
A diferenciação dos
percursos, necessária e imprescindível reafirmo, deve surgir mais tarde, como
se verifica na maioria dos sistemas educativos que se preocupam com os miúdos,
com todos os miúdos.
2 comentários:
O título deste post parece-me demasiado "desconversador" e pouco dado ao rigor e à verdade. Parece mais do estilo do Correio da Manhã. É pena.
Tem dias que os títulos são assim, pouco felizes. De qualquer forma mantem-se o conteúdo. Obrigado pelo reparo
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