Como se costuma dizer por aqui no Meu Alentejo, está um
tempo cabaneiro, o frio não é muito e a salamandra aconchega, mas a chuva forte
e, sobretudo, a ventaneira que se ouvem lá fora não convidam a deixar a cabana.
Na verdade, a ventaneira está forte, já terá mesmo feito
estragos sérios lá para os lados do Algarve e como vai sendo hábito decretam-se
os alertas com as sucessivas cores.
Este tempo cabaneiro e o olhar para imprensa
fazem-me pensar que a natureza e os homens desta vez se aliaram, sopram ventos
adversos, produzidos por ambos.
De há muito que não éramos assolados por ventos
tão fortes e ameaçadores, longos na duração e pesados nos efeitos. São milhões
de pessoas afectadas das mais variadas formas.
Perdem bens, perdem trabalho, perdem saúde,
perdem dignidade, perdem afectos, perdem vida.
Alguns perdem-se a si também.
O mais revoltante e inquietante é que os ventos
que mais estragos causam não são os que a natureza levanta. Os tornados que nos
atingem são consequência das decisões dos homens, do despudor, da delinquência
e da ganância que endeusaram uma entidade mítica a que chamam mercados, e que,
sem alma nem ética geraram, os ventos que nos estão a varrer.
Malditos sejam.
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