Há algum tempo, em conversas com
miúdos do 2º e 3º ciclos discutia-se o que era essa coisa de ser um bom
professor.
A maioria dos miúdos envolvia-se
activamente e a continuidade das referências levou à identificação de uma
resposta que se poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que
fala com a gente e explica bem".
Este entendimento lembrou-me,
cito-o aqui frequentemente, o Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém
tinha sido seu professor "porque foi seu amigo".
De facto, o sucesso dos processos
de ensinar e aprender assentam em dois eixos fundamentais, a qualidade do ensinar e a relação entre quem
ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a grande maioria dos professores
estará equipada sobre o ensinar. A grande questão é que a nossa escola, de uma
forma geral, não facilita a relação. Esta dificuldade decorre, fundamentalmente,
da organização dos tempos lectivos, da natureza e extensão dos conteúdos
curriculares das diferentes e muitas disciplinas, da crescente pressão para
resultados tangíveis, o número crescente de alunos por turmas e do número de
turmas leccionado por muitos professores, de um ensino demasiado assente no
manual, etc. para além, naturalmente, das concepções de alguns professores.
Os professores, muitos professores,
sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e do pouco tempo
disponível para construção da relação que na verdade se torna muito difícil.
Muitas vezes digo que os
professores "falam" para o programa, para o explicar, e os alunos "falam"
para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo que, além disso,
existe um grupo significativo de alunos que, por diversas razões como
dificuldades ou desmotivação, não conseguem "falar" com o programa.
Para estes, os professores vêem-se obrigados a falar, sobretudo para controlar
os seus (maus) comportamentos.
Também por estas razões, continuo
a entender como necessária uma mudança mas significativa na organização dos
tempos da escola e dos conteúdos curriculares que tornassem mais fácil podermos
ouvir os miúdos dizer, "a gente tem bons professores porque explicam bem e
falam com a gente".
Esta ideia não tem nada de
romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação
constrói-se com a relação que se alimenta com a comunicação.
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