Era uma vez um homem chamado Sem Querer. Todas as
pessoas que o conheciam achavam estranho o seu nome. Era o tipo mais simpático
que vivia naquele bairro, sempre com um ar bem-disposto e um cumprimento para
toda a gente. Sempre disponível para o que fosse preciso, para quem fosse
preciso. Ninguém alguma vez viu o Sem Querer envolvido numa discussão ou zanga,
aceitava tudo o que lhe dissessem sem ponta de contrariedade e com um ar
tranquilo e sorridente. Dava até a impressão de que no seu vocabulário não
existia a palavra não.
Um dia, estava o Sem Querer no parque a ler o
jornal, quando se sentou ao pé de si um daqueles velhos que anda no Inverno
atrás do Sol e no Verão atrás da sombra mas que, na verdade, vivem ensombrados
pela (des)esperança do nada. Com a afabilidade que caracteriza o Sem Querer, a
conversa surgiu fácil. O velho estranhou o nome e o Sem Querer explicou.
Quando era pequeno, o meu nome era Querer. À
medida que cresci e sem perceber muito bem porquê e como, foram-me roubando o
querer, até que acabei por ficar Sem Querer. Ao seu dispor.
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