domingo, 4 de novembro de 2012

UM PLANO DE AJUSTAMENTO DA DEMOCRACIA

Os tempos de chumbo que vivemos, sendo de uma enorme gravidade e complexidade, envolvem implicações muito sérias e diversificadas sendo que as mais evidentes e significativas, pelo impacto na vida das pessoas, serão as questões de natureza económica e o enorme drama do desemprego, da pobreza e da exclusão.
No entanto, creio que estes tempos contêm um outro efeito de enorme risco, o risco da fragilização do entendimento da democracia.
Com o clima que se vai construindo, de descrédito, de percepção de incompetência e de desesperança na capacidade das lideranças políticas emergentes da partidocracia  promoverem um rumo e uma visão que gerem futuro, torna-se perigosamente fácil a emergência de discursos demagógicos e populistas que contenham o germe das ideias totalitárias, não emergentes da voz dos cidadãos, do apelo a uma "criatura providencial" que ponha a casa em ordem.
Mesmo de figuras de enorme responsabilidade política e social, Manuela Ferreira Leite e Mário Soares, exemplos recentes, surgem com alguma ligeireza, do meu ponto de visa, afirmações que dão cobertura aos discursos de que acima falava.
Manuela Ferreira Leite afirmou ontem que em democracia é difícil resolver problemas complexos e Mário Soares, hoje, também admite um governo que não resulte de eleições, uma solução à la italiana com Mário Monti. Estas afirmações não podem deixar de ser um juízo de valor sobre as "virtudes" e "capacidades" da democracia para uma boa gestão do bem comum.
Provavelmente, estas dificuldades resultam dos bloqueios decorrentes da falta de saúde da nossa democracia que nas últimas décadas foi capturada pelos interesses da partidocracia. Talvez seja de começarmos, todos, a discutir e a construir um plano de ajustamento para a democracia. O caminho é possível.

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