Os tempos de chumbo que vivemos,
sendo de uma enorme gravidade e complexidade, envolvem implicações muito sérias
e diversificadas sendo que as mais evidentes e significativas, pelo impacto na
vida das pessoas, serão as questões de natureza económica e o enorme drama do
desemprego, da pobreza e da exclusão.
No entanto, creio que estes
tempos contêm um outro efeito de enorme risco, o risco da fragilização do
entendimento da democracia.
Com o clima que se vai
construindo, de descrédito, de percepção de incompetência e de desesperança na
capacidade das lideranças políticas emergentes da partidocracia promoverem um rumo e uma visão que gerem
futuro, torna-se perigosamente fácil a emergência de discursos demagógicos e
populistas que contenham o germe das ideias totalitárias, não emergentes da voz
dos cidadãos, do apelo a uma "criatura providencial" que ponha a casa
em ordem.
Mesmo de figuras de enorme
responsabilidade política e social, Manuela Ferreira Leite e Mário Soares,
exemplos recentes, surgem com alguma ligeireza, do meu ponto de visa,
afirmações que dão cobertura aos discursos de que acima falava.
Manuela Ferreira Leite afirmou
ontem que em democracia é difícil resolver problemas complexos e Mário Soares,
hoje, também admite um governo que não resulte de eleições, uma solução à la italiana
com Mário Monti. Estas afirmações não podem deixar de ser um juízo de valor
sobre as "virtudes" e "capacidades" da democracia para uma
boa gestão do bem comum.
Provavelmente, estas dificuldades
resultam dos bloqueios decorrentes da falta de saúde da nossa democracia que
nas últimas décadas foi capturada pelos interesses da partidocracia. Talvez
seja de começarmos, todos, a discutir e a construir um plano de ajustamento
para a democracia. O caminho é possível.
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