Na escola do meu tempo, e não só, existiam duas tarefas que
constituíam boa parte do nosso trabalho, as cópias e os ditados, os diversos
ditados, não só os das letras. Como é evidente, na acção educativa é necessário
recorrer, sem reservas infundadas, às cópias, aos modelos, como forma de ajudar
a perceber o como fazer e também aos ditados, dizendo sem problemas, ditando, o
que deve ser escrito ou realizado. Já não me parece muito razoável que a
educação ou, de forma mais alargada, a relação entre as pessoas, assente quase
que exclusivamente nas cópias ou ditados.
É verdade que em algumas circunstâncias de vida, a alguns miúdos nem lhes são solicitadas cópias de bons modelos, nem os ditados, as regras e os limites, são eficazes, deixando-os entregues a si próprios e sem dispositivos de regulação.
É verdade que em algumas circunstâncias de vida, a alguns miúdos nem lhes são solicitadas cópias de bons modelos, nem os ditados, as regras e os limites, são eficazes, deixando-os entregues a si próprios e sem dispositivos de regulação.
Talvez sejam sinais dos tempos. Por um lado a visibilidade
mediática e um sistema de valores enviesado cria modelos cuja cópia é
assustadora e com resultados preocupantes. Se bem atentarmos nos discursos e
comportamentos de muitas lideranças e figuras públicas e também o que fazemos e
afirmamos no dia-a-dia muitas vezes produzimos modelos que não deveriam ser
copiados, mas são.
Por outro lado, toda a gente, em diversas escalas vai entendendo
que a sua verdade é a verdade, pelo que dita o que os outros devem assumir como
a verdade do pensar, do fazer, do sentir, do etc.
Reparem como tantas vezes em supostas trocas de opiniões ou
ideias, as frases começam por “é assim”, ou seja, dita-se o que se tem a dizer
não para trocar mas para informar o outro.
Reparem como as lideranças políticas, económicas, sociais,
culturais, etc., em diferentes níveis, do local ao mundial, impõem um ditado
sobre o que devemos fazer, como devemos pensar, como devemos viver, reagindo
mal a outros entendimentos. Entende-se a perspectiva, os ditados não são para
discutir, são para realizar.
De tudo isto vai resultando um caldo em que é esperado e desejado que a gente copie o que aparece para copiar e vá fazendo o que lhe
ditam para fazer. A questão é que muita gente, cada vez mais gente, vai achando
que as cópias do que nos dizem para copiar e os ditados que nos ditam, minam a
nossa vida, ferem a nossa dignidade e que é preciso recusar os ditados.
Que se cuidem os modelos, os maus modelos, e os ditadores,
os que fazem ditados, é claro.
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