quarta-feira, 21 de novembro de 2012

AS CÓPIAS E OS DITADOS

Na escola do meu tempo, e não só, existiam duas tarefas que constituíam boa parte do nosso trabalho, as cópias e os ditados, os diversos ditados, não só os das letras. Como é evidente, na acção educativa é necessário recorrer, sem reservas infundadas, às cópias, aos modelos, como forma de ajudar a perceber o como fazer e também aos ditados, dizendo sem problemas, ditando, o que deve ser escrito ou realizado. Já não me parece muito razoável que a educação ou, de forma mais alargada, a relação entre as pessoas, assente quase que exclusivamente nas cópias ou ditados.
É verdade que em algumas circunstâncias de vida, a alguns miúdos nem lhes são solicitadas cópias de bons modelos, nem os ditados, as regras e os limites, são eficazes, deixando-os entregues a si próprios e sem dispositivos de regulação.
Talvez sejam sinais dos tempos. Por um lado a visibilidade mediática e um sistema de valores enviesado cria modelos cuja cópia é assustadora e com resultados preocupantes. Se bem atentarmos nos discursos e comportamentos de muitas lideranças e figuras públicas e também o que fazemos e afirmamos no dia-a-dia muitas vezes produzimos modelos que não deveriam ser copiados, mas são.
Por outro lado, toda a gente, em diversas escalas vai entendendo que a sua verdade é a verdade, pelo que dita o que os outros devem assumir como a verdade do pensar, do fazer, do sentir,  do etc.
Reparem como tantas vezes em supostas trocas de opiniões ou ideias, as frases começam por “é assim”, ou seja, dita-se o que se tem a dizer não para trocar mas para informar o outro.
Reparem como as lideranças políticas, económicas, sociais, culturais, etc., em diferentes níveis, do local ao mundial, impõem um ditado sobre o que devemos fazer, como devemos pensar, como devemos viver, reagindo mal a outros entendimentos. Entende-se a perspectiva, os ditados não são para discutir, são para realizar.
De tudo isto vai resultando um caldo em que é esperado e desejado que a gente copie o que aparece para copiar e vá fazendo o que lhe ditam para fazer. A questão é que muita gente, cada vez mais gente, vai achando que as cópias do que nos dizem para copiar e os ditados que nos ditam, minam a nossa vida, ferem a nossa dignidade e que é preciso recusar os ditados.
Que se cuidem os modelos, os maus modelos, e os ditadores, os que fazem ditados, é claro.

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