O lagar abriu e começou a lida da
azeitona no Meu Alentejo. Este ano a produção é mais baixa, durante o Inverno
passado a água foi pouca e as oliveiras não beberam. Dois fins de semana devem
ser suficientes pelos cálculos do Mestre Zé Marrafa.
A apanha da azeitona pelo método
tradicional é coisa brava, vá que não estava muito frio e estávamos apressados
pela ameaça da chuva que este ano vai sendo farta e bem chovida. Os braços
estão moídos de varejar e carregar mas impressionante mesmo, é ver a
resistência do Velho Marrafa, homem de mais de setenta anos e que ainda tem a
gentileza e generosidade de me deixar trabalhar com a vara mais leve, ameaçando
seriamente a minha auto-estima mas protegendo os braços e costas.
O velho Marrafa tem um
entendimento que eu não me atrevo a discutir sobre a apanha da azeitona aqui no
monte, isto é, ao mesmo tempo que se apanha a azeitona procede-se à limpeza das
oliveiras. O resultado é que me transformo num agricultor em apuros, estendem-se
os panos, colhe-se a azeitona numa catártica actividade de varejamento,
corta-se o que há a cortar nas árvores com a motosserra, ensaca-se e carrega-se
no tractor. Depois lá vamos a caminho do lagar para a pesagem e entrega. Para
depois ficará tratar da lenha sobrante.
O tempo de espera no lagar passa-se
nas lérias e os temas de conversa vão surgindo mas quase sempre, não podia
deixar de ser, andam à volta dos enleios e das molengas em que a vida da gente
se transformou e da pouca rentabilidade que tanto trabalho dá.
Acho que só lá para o fim de Janeiro,
quando voltar ao lagar para buscar o azeite, com o ambiente quentinho das enormes
salamandras que impede o azeite de coalhar e o cheirinho inconfundível do
azeite novo é que me vou esquecer das agruras da apanha da azeitona que, aliás,
ainda não terminou.
Prometo não me queixar mais.
1 comentário:
Tempo de .... Salamandra!
Gostei de saber que existem (ou que aparecem também) salamandras no inverno. Eu só as vejo no Verão! Boa apanha de azeitona!
Ass. Sarraipa
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