Aqui no Meu Alentejo a gozar do aconchego da
salamandra que já apetece nestas noites que começam a ficar frias, o pensamento
escorregou, é difícil evitá-lo, para a situação complicada que vivemos. De
repente, lembrei-me do meu pai, homem que partiu há quase quarenta anos.
Uma das muitas razões pelas quais o meu pai foi
meu pai, foi pelo facto de contar imensas histórias, quase sempre criadas no
momento. Não tínhamos televisão, líamos algumas obras que ele trazia da
biblioteca dos operários do Arsenal do Alfeite onde era serralheiro, ouvíamos
alguma rádio, mas lembro-me sobretudo das histórias, todos os dias inventadas.
A memória destas histórias acendeu-se porque, em quase todas, entrava um
personagem que dava pelo nome de Arranja Moinhos, não me perguntem porquê mas
era esse o nome que o meu pai lhe dava e o meu fazia sempre as coisas bem
feitas. Era fantástico o “Arranja Moinhos”, sempre que a história entrava numa
fase mais complicada, fosse qual fosse a situação ou as dificuldades que os
personagens enfrentassem, lá aparecia o Arranja Moinhos que tudo resolvia, tudo
tratava e a história, claro, acabava bem, para descanso dos fascinados
ouvidores eu, o meu primo e, às vezes, mais um ou outro miúdo da vizinhança. Era
certo, de vez quando lá tínhamos outra aventura do Arranja Moinhos, complicada
e cheia de problemas, mas em que ele genial e cheio de saberes dava sempre a
volta e se saía a contento.
Pensei como agora, nesta história tão complicada
que estamos a viver, dava jeito aparecer o Arranja Moinhos. Tenho a certeza que ele
havia de encontrar uma maneira de nos ajudar a sair dela. O meu pai dizia que
ele era capaz de resolver tudo.
E eu, eu continuo a acreditar no meu pai.
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