Na conferência de imprensa de ontem,
o Ministro Vítor Gaspar veio dar conta ao país da boa nota conseguida na
disciplina de Contabilidade. Ao que parece os Senhores Professores da Troika
valorizaram positivamente os exercícios que Vítor Gaspar lhes mostrou no suporte habitual, em
Excel, e realizadas com os modelos econométricos que lhe têm sido ensinados.
Como prémio pela boa nota, terão libertado um nova tranche do Programa de
Ajustamento ou de Ajuda(?) e pessoas como o Dr. Miguel Relvas acorreram a dizer
que estamos no bom caminho, acrescentando certamente mais uma equivalência curricular ao seu vasto currículo.
Nem sei bem se me sinto perplexo
ou indignado.
Num breve olhar pela realidade temos
três milhões de pessoas pobres ou em risco de pobreza e exclusão, 16 % de
desempregados sendo que a taxa real se estime ser perto dos 20 % e na população
jovem a taxa de desemprego é de 36 %. Temos mais de metade dos desempregados
sem subsídio de desemprego e segundo dados de hoje da Autoridade para as
Condições do Trabalho, nos primeiros nove meses deste ano, duplicou o número de
pessoas com salários em atraso relativamente a 2011. Assistimos a milhares de
falências de pequenas e médias empresas e à devastação de sectores da nossa
economia que continua e continuará em recessão. Temos as instituições de
solidariedade social sem capacidade de resposta para o aumento exponencial de
pedidos de ajuda e milhares de miúdos que chegam com fome à escola. E chega.
Eu percebo que num exercício de
contabilidade, trabalhando com os números de acordo com a teoria ensinada, o
resultado possa ser positivo e merecer boa nota. No entanto quando penso que
esse exercício sustenta o cenário que descrevi, a vida das pessoas, e se diz
que estamos no bom caminho, as coisas estão a correr bem, o exercício deixa de
ser de contabilidade e passa a ser ou um processo psicologicamente explicado de
negação da realidade ou a demonstração de uma completa ausência de
sensibilidade e solidariedade.
Que se passa?
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