Está a decorrer este fim-de-semana mais uma
recolha de alimentos no âmbito das actividades dos Bancos Alimentares. Tenho a
convicção de que iremos saber que o volume de alimentos recebidos será superior
a campanhas anteriores o que, aliás, tem vindo a acontecer com regularidade.
Como também tem acontecido sublinhar-se-á tal
comportamento dos portugueses acentuando que tal é mais significativo em tempos de grande aperto que
atinge, naturalmente, os cidadãos com menores rendimentos.
Na verdade, creio que deve registar-se
positivamente esta habitual atitude de partilha revelando uma sensibilidade
face aos problemas que afligem os vizinhos, bem mais significativa que muitas
das atitudes e decisões das lideranças políticas e governamentais e de alguns
discursos absolutamente inaceitáveis e insultuosos.
No entanto e por outro lado, convém não esquecer
que tudo isto decorre dos modelos de desenvolvimento e sistemas de valores que
promovem exclusão e pobreza e a simples necessidade de recorrer a Bancos
Alimentares para colmatar situações extremas de carência alimentar é, só por si
uma acusação tão forte que nenhum de nós pode aceitar sem um sobressalto.
É também verdade que, muitas vezes, a propósito
deste tipo de campanhas se argumenta no sentido de que encerram uma dimensão
caritativa, assistencialista, que não contraria e, até alimenta, o cenário e as
circunstâncias que promovem as dificuldades das pessoas. Ao mesmo tempo, também
se argumenta, que a solidariedade das pessoas, acaba por "aliviar" a
pressão para que as estruturas responsáveis e as lideranças políticas cumpram
com eficácia o seu papel e responsabilidades na área dos apoios sociais.
Sou sensível e concordo de forma genérica com
esta argumentação. Sei, no entanto, sabemos todos, que a acção de estruturas
como os Bancos Alimentares ou, de um modo geral, as instituições de
solidariedade social, têm dado um contributo importante para minorar as dificuldades que
muitíssimos agregados familiares atravessam.
Prefiro pensar que o comportamento solidário de
muitas pessoas, elas próprias com dificuldades, é um excelente exemplo, este
sim, de equidade, a repartição de dificuldades. Estou cansado da retórica sobre
a equidade na repartição de sacrifícios e assistir a decisões políticas e a
comportamentos de gente muito responsável que contrariam as suas afirmações
sobre equidade.
Finalmente, para além dos Bancos Alimentares
talvez fosse interessante criar bancos de esperança.
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