No Público surge um trabalho referenciando o
facto de que o Censos 2011, devido à metodologia e conceitos utilizados, não terá
sido eficaz no sentido de recensear o número de pessoas sem abrigo em Portugal.
Do meu ponto de vista e apesar de entender que
por princípio todos os trabalhos devem ser realizados com as metodologias adequadas
e informados por conceitos rigorosos, claros, consensuais e actuais, não me parece
possível contabilizar o universo dos sem abrigo, por várias razões.
É muito grande o mundo dos sem abrigo, aliás,
está a ficar maior o mundo dos sem abrigo. São muitos, os sem abrigo do mundo.
São muitos, os sem abrigo num porto que os
acolha, uma casa, um espaço a que dêem vida e que lhes apoie a vida, uma
família.
São muitos, os sem abrigo, mesmo em famílias e em
instituições.
São muitos, os sem abrigo no afecto, nos afectos,
sem um coração que os abrigue.
São muitos, os sem abrigo em mundos que não são
seus. São muitos, os sem abrigo em culturas que não entendem.
São muitos, os sem abrigo num corpo que seja aconchego
para o seu corpo.
São muitos, os sem abrigo em valores que
predominam mas não reconhecem.
São muitos, os sem abrigo em vidas que lhes não
pertencem mas carregam. São muitos, os sem abrigo no aceder e no gostar das
coisas de que a vida também se tece.
Muitos destes sem abrigo vivem à nossa beira, sem
abrigo, não contabilizados, nem contabilizáveis.
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