O Público de hoje aborda uma questão importante
pela repercussão social além, naturalmente, da sua gravidade enquanto fenómeno
e pelo volume de ocorrências, a agressão a agentes de autoridade. Segundo os
representantes dos polícias, de diferentes corporações, verificar-se-ão três
agressões físicas ou verbais por dia a estes profissionais. Os representantes
policiais referem ainda a percepção de um aumento de hostilidade e agressividade
no seu desempenho diário. Solicitam maior severidade e celeridade na
apreciação dos casos, sublinhando que são raríssimas as condenações efectivas por agressão a
agentes.
Como disse de início a repercussão social desta
tipo e situações merece alguma reflexão.
Como já o tenho referido a propósito do aumento
de agressões a outros grupos profissionais, professores por exemplo, fenómenos
desta natureza radicam em dois aspectos que me parecem essenciais, a mudança na
percepção social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade, que me
parecem fortemente ligados a este fenómeno.
Uma observação minimamente atenta às mudanças
sociais, culturais e económicas nas últimas décadas, permite, creio, constatar
como tem vindo a mudar significativamente a percepção social do que poderemos
chamar de traços de autoridade. Os polícias, entre outras profissões, professores
ou médicos, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de polícias,
como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser polícia,
já não confere “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de agressão.
Dito de outra maneira, a identificação como polícia ou a "farda" já
não são, por si sós, reguladores dos comportamentos. O mesmo se passa, como
referi, com outras profissões em que, também por razões deste tipo, aumentam as
agressões a profissionais. Estas mudanças implicam uma reflexão profunda, pois sendo um fenómeno "novo", não poderemos recorrer unicamente às soluções "velhas".
O segundo aspecto como é sublinhado pelos
representantes dos polícias, remete para um ambíguo e abrangente sentimento
instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este
sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador
do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer
qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas
sobretudo a "grandes", o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, parece importante um
trabalho no âmbito da formação cívica sobretudo no sitema educativo e na formação profissional dos agentes
para a gestão e prevenção de situações de
conflito, bem como um discurso político e social consistente de valorização da
autoridade, não do autoritarismo.
Por outro lado e finalmente é ainda fundamental
que se agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de punição e
responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater,
justamente, a ideia de impunidade.
1 comentário:
e as que levam ainda são poucas! comecem a portar-se como gente e aí serão tratados como gente
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