A questão das praxes académicas será um dos temas
a que mais vezes me refiro neste espaço. Embora não o considere particularmente
estimulante, os discursos e comportamentos a que assisto e de que tenho
conhecimento todos os anos, levam-me a retornar ao assunto.
Desta vez, já não é inédito, aconteceu em Beja,
ao que parece, as circunstâncias não são claras, uma aluna encontra-se em situação
grave de saúde, alegadamente em consequência de episódios de praxe. O Público,
na peça sobre este incidente revela ter assistido a situações de praxes muito
exigentes do ponto de vista físico para os caloiros envolvidos. Sabemos todos
que de há alguns anos para cá estas situações são comuns bem como são comuns comportamentos
de outra natureza mas, do meu ponto vista, igualmente violentos.
Recordo que há semanas, as estruturas que regulam
as praxes de nove universidades e institutos acordaram na elaboração de um documento
comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular os
comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente têm vindo
a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que, aliás, já
motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas reitorias e
direcções de escola. Esta iniciativa revela por parte dos próprios estudantes a
aceitação de situações que devem ser evitadas, daí o esforço de regulação pois
os códigos já existentes não parecem ser suficientes para assegurar o
equilíbrio desejável.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um
conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação dos
comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável. Parece-me ainda
importante que este movimento de regulação integre o respeito por posições
diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham consequências
implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se,
auto-determinada, seja numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila
coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com
boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro.
Apesar dos discursos dos seus defensores,
continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar
rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade,
abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com
inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não
simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que
claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a
anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes academias.
Quando me refiro a esta questão, surgem
naturalmente comentários de pessoas que passaram por experiências de praxe que
não entendem como negativas, antes pelo contrário, afirmam-nas como algo de
positivo na vida universitária. Acredito e obviamente não discuto as
experiências individuais, falo do que assisto.
A minha experiência universitária, dada a época, as
praxes tinham entrado em licença sabática, por assim dizer, foi a de alguém
desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno porque não
acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar.
Talvez as minhas reservas venham dessa nódoa
curricular.
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