A Comissão Europeia aprovou um parecer no sentido
dos diferentes países adoptarem medidas legislativas que protejam os mais novos
da influência da publicidade. Entre os riscos de uma exposição excessiva a mensagens
publicitárias extremamente agressivas e eficazes por parte de um público
particularmente vulnerável, contam-se a instalação ou manutenção de comportamentos
alimentares pouco saudáveis ou a promoção indirecta do designado “bullying de
marca”, a discriminação de miúdos que não usam “aquela” marca e que, por isso, sofrem
alguma forma de bullying.
Por outro lado, parece-me relevante referir uma
outra dimensão desta questão, a influência dos mais novos nas decisões de
compras da família, que já aqui tenho referido e a que, por vezes, os pais não
estão suficientemente atentos, mas que não passa despercebido aos especialistas
em marketing.
Alguns estudos nesta matéria, sugerem,
surpreendentemente, que as crianças até aos 7 anos podem influenciar até 70%
das decisões de compra da família, mesmo quando se trata de produtos que não
lhes são directamente dirigidos. Esta influência mantém-se ao longo da infância
e juventude.
Esta questão, a publicidade que tem por alvo os
miúdos e forma como nós adultos lidamos com isso, é complexa, envolvendo aspectos
legais, considerando leis e direitos, educativos, culturais, sociais, etc. pelo
que não é fácil a sua abordagem e gestão.
Será ingénuo pensar que quem produz bens
destinados aos miúdos ou que cuja aquisição possa ser pressionada pelos miúdos,
não tenha a tentação de que a mensagem publicitária seja o mais eficaz
possível, ou seja, venda, não importa o quê, desde um alimento hipercalórico à
última versão do videojogo ou as férias dos pais em locais atractivos para os
miúdos.
Apesar das dificuldades que atravessamos, estamos
num tempo de “és o que tens e se não tens … não és”, o que afectando os
adultos, veja-se as situações de crédito malparado familiar por compras
compulsivas e sem base económica sustentada, não pode deixar de influenciar os
mais novos.
No entanto, acredito que podemos fazer alguma
coisa junto dos pais e dos miúdos para tentar atenuar os efeitos deste cenário.
As escolas poderiam ter um trabalho interessante debatendo com os miúdos, de
todas as idades e de forma adequada, o papel da publicidade nas escolhas e nos
gostos deles promovendo uma atitude mais consciente e crítica destes processos.
Poderia também ser interessante conversar com os pais sobre o papel dos “presentes”
e das “compras” nas dinâmicas e relações familiares, isto é, mais prendas e
mais compras não é necessariamente melhor ou ainda sobre o papel da publicidade
e a forma de lidar com a pressão desencadeada pelos filhos depois de verem “os
ecrãs” ou as mensagens publicitárias.
Na verdade, apesar da sua complexidade é uma
matéria a que por muitas razões vale a pena dedicar atenção.
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