sexta-feira, 21 de setembro de 2012

PAI, COMPRA LÁ

A Comissão Europeia aprovou um parecer no sentido dos diferentes países adoptarem medidas legislativas que protejam os mais novos da influência da publicidade. Entre os riscos de uma exposição excessiva a mensagens publicitárias extremamente agressivas e eficazes por parte de um público particularmente vulnerável, contam-se a instalação ou manutenção de comportamentos alimentares pouco saudáveis ou a promoção indirecta do designado “bullying de marca”, a discriminação de miúdos que não usam “aquela” marca e que, por isso, sofrem alguma forma de bullying.
Por outro lado, parece-me relevante referir uma outra dimensão desta questão, a influência dos mais novos nas decisões de compras da família, que já aqui tenho referido e a que, por vezes, os pais não estão suficientemente atentos, mas que não passa despercebido aos especialistas em marketing.
Alguns estudos nesta matéria, sugerem, surpreendentemente, que as crianças até aos 7 anos podem influenciar até 70% das decisões de compra da família, mesmo quando se trata de produtos que não lhes são directamente dirigidos. Esta influência mantém-se ao longo da infância e juventude.
Esta questão, a publicidade que tem por alvo os miúdos e forma como nós adultos lidamos com isso, é complexa, envolvendo aspectos legais, considerando leis e direitos, educativos, culturais, sociais, etc. pelo que não é fácil a sua abordagem e gestão.
Será ingénuo pensar que quem produz bens destinados aos miúdos ou que cuja aquisição possa ser pressionada pelos miúdos, não tenha a tentação de que a mensagem publicitária seja o mais eficaz possível, ou seja, venda, não importa o quê, desde um alimento hipercalórico à última versão do videojogo ou as férias dos pais em locais atractivos para os miúdos.
Apesar das dificuldades que atravessamos, estamos num tempo de “és o que tens e se não tens … não és”, o que afectando os adultos, veja-se as situações de crédito malparado familiar por compras compulsivas e sem base económica sustentada, não pode deixar de influenciar os mais novos.
No entanto, acredito que podemos fazer alguma coisa junto dos pais e dos miúdos para tentar atenuar os efeitos deste cenário. As escolas poderiam ter um trabalho interessante debatendo com os miúdos, de todas as idades e de forma adequada, o papel da publicidade nas escolhas e nos gostos deles promovendo uma atitude mais consciente e crítica destes processos. Poderia também ser interessante conversar com os pais sobre o papel dos “presentes” e das “compras” nas dinâmicas e relações familiares, isto é, mais prendas e mais compras não é necessariamente melhor ou ainda sobre o papel da publicidade e a forma de lidar com a pressão desencadeada pelos filhos depois de verem “os ecrãs” ou as mensagens publicitárias.
Na verdade, apesar da sua complexidade é uma matéria a que por muitas razões vale a pena dedicar atenção.

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