quarta-feira, 19 de setembro de 2012

OBESIDADE INFANTIL, UM PROBLEMA DE PESO

Quando as pessoas mais novas insistem na defesa ou referência a uma ideia ou assunto são vistas como persistentes e obstinadas. Quando se trata de pessoas mais velhas são consideradas teimosas e chatas. Já me vou habituando mas, ainda assim, as minhas desculpas por retomar um tema que repetidamente abordo por me parecer que não tem, ainda, a atenção que do meu ponto de vista justifica, refiro-me à obesidade infantil.
Um estudo hoje divulgado, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, encontrou 17% de rapazes e 26% de raparigas de quatro anos, sublinho, quatro anos, com excesso de peso e obesidade e níveis de colestrol elevados, um cenário verdadeiramente preocupante e de graves consequências futuras. Ainda mais alguns dados.
Em 2008 um estudo da Childhood Obesity Surveillance Initiative estimava que 32,2% de crianças portuguesas, dos seis aos oito anos apresentassem excesso de peso ou obesidade.
Segundo o último Relatório Health Behaviour in School-aged Children da OMS e dos dados relativos a Portugal, é um dos países envolvidos no estudo, 39 da Europa e América do Norte, que apresenta mais excesso de peso entre a população mais jovem, 5º lugar aos 11 anos, 4º lugar aos 13 e 6º aos 15 anos.
Dados de há meses apresentados no XIV Congresso Português de Obesidade, referem, sem novidade pois vai ao encontro de outros resultados, que 22.6 % das crianças dos 10 aos 18 anos estão em situação de pré-obesidade e 7.8 % já são obesos.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um problema de saúde pública, implicando, por exemplo, o disparar de casos de diabete tipo II em crianças.
Na verdade, a obesidade infantil afecta um número muito significativo e crescente de crianças e adolescentes, assenta fundamentalmente nos estilos de vida dos mais novos de que releva o sedentarismo excessivo e a péssima qualidade genérica ao nível dos hábitos alimentares. É de registar que as escolas têm vindo a fazer um esforço no sentido de aumentar a qualidade alimentar da oferta, o que não parece ser acompanhado pelas famílias, ilustrado pela desproporcionalidade do consumo de água e de refrigerantes no contexto familiar. Por coincidência estava há algumas horas na sala de espera no Centro de Saúde da minha zona, com um funcionamento muito bom, registe-se, e uma mãe anda de um lado para o outro com uma bebé que ainda mal andava e que, evidentemente, aparentava peso a mais. Para conseguir que a miúda se calasse ia-lhe dando bolachas que eram despachadas em pouco tempo. Tal situação mostra como é preciso insistir.
Sabe-se também que em adultos e sem surpresa os números pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em situação de pré-obesidade ou obesidade.
As consequências potenciais deste quadro em termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de programas de prevenção, educação e remediação que o combatam.
Não é raro que ao abordar matérias desta natureza surjam reacções contra o chamado “fundamentalismo nos hábitos individuais” mas creio que são também de ponderar as implicações colectivas e sociais do problema.
Além de que todos sabemos que o excesso de peso e os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das miúdos e graúdos nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de diferentes formas, com isso.

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