Quando as pessoas mais novas insistem na defesa
ou referência a uma ideia ou assunto são vistas como persistentes e obstinadas.
Quando se trata de pessoas mais velhas são consideradas teimosas e chatas. Já
me vou habituando mas, ainda assim, as minhas desculpas por retomar um tema que
repetidamente abordo por me parecer que não tem, ainda, a atenção que do meu
ponto de vista justifica, refiro-me à obesidade infantil.
Um estudo hoje divulgado, realizado pela Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto, encontrou 17% de rapazes e 26% de
raparigas de quatro anos, sublinho, quatro anos, com excesso de peso e
obesidade e níveis de colestrol elevados, um cenário verdadeiramente preocupante
e de graves consequências futuras. Ainda mais alguns dados.
Em 2008 um estudo da Childhood Obesity
Surveillance Initiative estimava que 32,2% de crianças portuguesas, dos seis
aos oito anos apresentassem excesso de peso ou obesidade.
Segundo o último Relatório Health Behaviour in
School-aged Children da OMS e dos dados relativos a Portugal, é um dos países
envolvidos no estudo, 39 da Europa e América do Norte, que apresenta mais
excesso de peso entre a população mais jovem, 5º lugar aos 11 anos, 4º lugar
aos 13 e 6º aos 15 anos.
Dados de há meses apresentados no XIV Congresso
Português de Obesidade, referem, sem novidade pois vai ao encontro de outros
resultados, que 22.6 % das crianças dos 10 aos 18 anos estão em situação de
pré-obesidade e 7.8 % já são obesos.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados
em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um problema de saúde pública,
implicando, por exemplo, o disparar de casos de diabete tipo II em crianças.
Na verdade, a obesidade infantil afecta um número
muito significativo e crescente de crianças e adolescentes, assenta
fundamentalmente nos estilos de vida dos mais novos de que releva o
sedentarismo excessivo e a péssima qualidade genérica ao nível dos hábitos
alimentares. É de registar que as escolas têm vindo a fazer um esforço no sentido
de aumentar a qualidade alimentar da oferta, o que não parece ser acompanhado
pelas famílias, ilustrado pela desproporcionalidade do consumo de água e de
refrigerantes no contexto familiar. Por coincidência estava há algumas horas na
sala de espera no Centro de Saúde da minha zona, com um funcionamento muito
bom, registe-se, e uma mãe anda de um lado para o outro com uma bebé que ainda
mal andava e que, evidentemente, aparentava peso a mais. Para conseguir que a
miúda se calasse ia-lhe dando bolachas que eram despachadas em pouco tempo. Tal
situação mostra como é preciso insistir.
Sabe-se também que em adultos e sem surpresa os
números pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em situação de
pré-obesidade ou obesidade.
As consequências potenciais deste quadro em
termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos
individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um
problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de
programas de prevenção, educação e remediação que o combatam.
Não é raro que ao abordar matérias desta natureza
surjam reacções contra o chamado “fundamentalismo nos hábitos individuais” mas
creio que são também de ponderar as implicações colectivas e sociais do
problema.
Além de que todos sabemos que o excesso de peso e
os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das miúdos e graúdos
nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de
diferentes formas, com isso.
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