O excelente texto do Paulo Moura no Público sobre
a estimulante experiência de acampar no Parque de Campismo da Caparica
lembrou-me as férias do meu amigo Cajó.
O meu amigo Cajó, o mecânico do Punto kitado,
adorou as férias que, como sempre, passou na barraca que a sogra, a D. Gorete,
tem alugada o ano inteiro no parque de campismo da Costa. É uma barraca grande
com dois quartos e um avançado onde está o assador e a mesinha da televisão. As
barracas estão um bocado em cima umas das outras, tanto que a D. Júlia, da
tenda ao lado, vê a novela da tarde no aparelho da sogra do Cajó sentada no
avançado da sua barraca. É tudo gente fixe, está-se bem.
O Cajó carregou o Punto à maneira, até lhe pôs
umas barras que tinha lá na oficina para levar as cadeiras de plástico para a
família e os colchões enrolados. Embora o tempo estivesse um bocado manhoso, o
Cajó teve sorte com a semaninha passada na Costa.
De manhã, depois da bica, ia com a Odete e os
miúdos até à praia, mas pouco tempo, que o Cajó não é menino de estar a torrar
ao sol. Entretinha-se com as vistas que a praia por acaso até é muito bem
frequentada, se estava maré para isso apanhava umas cadelinhas e lá pelo meio
dia deixava a Odete e os miúdos e vinha adiantar o almoço. No assador tratava
das sardinhas que o sogro, o Sr. Abel, tinha ido buscar à praça. O Cajó fazia
questão de as assar, ele é que tem o toque que elas precisam. Bom, era um cheirinho
a sardinhas naquele parque que até chegava à praia. Com uma saladinha à maneira
uma garrafinha de branco bem fresquinha graças ao frigorífico pequenino muito
jeitoso que a D. Gorete tinha comprado para ter no parque, estavam 5 estrelas.
Depois da sardinhada ia com O Sr. Abel tomar a
bica e meio uísque ao bar do parque e ficavam na palheta com o pessoal que já
conhecia dos outros anos. Entretanto, a Odete e a sogra ficavam no avançado a
ver televisão e os miúdos iam brincar com os outros ou jogar playstation. Ao
fim da tarde, o Cajó ia com a malta dar uns toques para o campo de futebol de
salão que há lá no parque, o desporto faz bem e até abre o apetite. Para o
jantar, a família abria umas conservas ou ia buscar um franguinho assado ao
café do Passarinho, ali bem perto do parque que era bem bom, em conta e
marchava com uma saladinha e umas "bejecas". É preciso
poupar e até dizem que as conservas são boas para a saúde. À noite ia até ao
bar do parque jogar uma suecada e aí estava um dia perfeito. Todas noites,
quando voltava para a barraca com o Sr. Abel, o Cajó lhe dizia, “isto é que
são umas férias, a porra é que prá semana já tou na oficina a vergar a mola”.
Só havia uma coisinha que chateava o Cajó. Na
tenda da D. Gorete tinha que dormir com a Odete e os miúdos, a Micas e o
Tólicas, no mesmo espaço e de dia estava sempre gente à volta, de maneira que,
estão a ver, sente falta da Odete. É pá, mas não se pode ter tudo, pensava o
Cajó antes de adormecer a sonhar com as sardinhas do almoço servidas por aquela
miúda “boa com´ó milho” que entra na novela que a D. Gorete e a Odete não
perdem.
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