O Ministro Nuno Crato afirmou hoje que os professores “têm a
profissão mais linda do mundo”. Entusiasmado, disse ainda que ser professor “é
um privilégio”, assente na possibilidade de transmitir saber às crianças.
Desta vez estou de acordo com o Professor Nuno Crato e
acrescentaria que, se ser professor “é um privilégio”, ter acesso à educação de
qualidade é um direito.
Na verdade, a “profissão mais linda do mundo” que tem o
enorme “privilégio” de contribuir fortemente para que os miúdos sejam gente
deve ser exercida num contexto que a defenda e que defenda a qualidade do seu
exercício envolvendo os professores, os alunos e as famílias.
Nesta perspectiva, apesar do romântico enunciado do
Ministro, diria até se ele não se incomodasse, salpicado de algum eduquês que
certamente desagradará a José Manuel Fernandes e Guilherme Valente, ficam mais
incompreensíveis algumas medidas da PEC – Política Educativa em Curso de que
Nuno Crato é responsável.
Não vou falar da questão do desemprego a que muitas pessoas
que queriam aceder ao “privilégio” de ter a “profissão mais linda do mundo”
foram e vão ser votadas. Como já tenho dito é uma matéria complexa e que não
cabe aqui.
Mas refiro, o aumento do número de alunos por turma que em
muitos territórios educativas transformarão potencialmente a sala de aula num
inferno, a deriva das colocações, a espécie de reforma curricular operada, os
mega-agrupamentos com dimensões insustentáveis, os apoios educativos, que
surgem como tapa buracos de professores sem horário e não como uma resposta
estrutural do sistema, etc., etc.
Muitos professores não vão sentir o “privilégio” da
profissão “mais linda do mundo”, vão ter um clima infernal nas escolas e nas
salas de aula que deriva em boa parte do entendimento do Professor Nuno Crato
sobre o que deve ser um sistema público de educação
Ainda assim, são palavras bonitas, ficam sempre bem, mas
fazem-nos duvidar.
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