A agenda de hoje permitiu-me assistir ao Jornal
televisivo da RTP à hora de almoço. Nestes tempos que voam, apesar se serem de
chumbo, é preciso estar informado.
Entretanto surge uma peça sobre a distribuição de
material escolar às famílias carenciadas. Não estranhei a notícia, numa época
em que tudo é mediatizado, porque não a pobreza.
Fiquei a saber que uma conhecida empresa detentora
de uma cadeia de lojas com material de desporto, vestuário e afins entendeu por
bem distribuir em 60 escolas 4 000 mochilas com material escolar aos
pobrezinhos. É bonito, é solidário e deve ser a isto que chamam
responsabilidade social.
Mas havia mais, aparece uma Senhora Secretária de
Estado da Educação, Isabel Leite, que com ar de quem visita um campo de
refugiados, falou da importância de encontrar na "sociedade civil",
adoro a ideia da sociedade civil, um parceiro que colabora no atenuar das
dificuldades das crianças contribuindo assim para o seu sucesso. Falou ainda o
representante da empresa que, naturalmente, sublinhou o contributo da mochila para
a vida dos pobrezinhos que, obviamente, carregam já uma mochila demasiado
pesada, a sua própria vida.
Com as intervenções ia sendo mostrada a distribuição
das mochilas numa escola em Carnaxide com, presumo, os carenciados a receberem
das mãos dos representantes ministerial e da empresa a mochila de ajuda.
Numa evento, obviamente discreto, espontâneo e
informal, a entrega da ajuda aos carenciados era realizada em frente a painéis
publicitários num cenário bem produzido que publicitava, claro, o MEC e a empresa
com responsabilidade social.
Não tenho, naturalmente, nada a opor, antes pelo
contrário, à responsabilidade social das empresas e à sua genuína vontade de
ajudar os pobrezinhos. Choca-me o envolvimento de uma Secretária de Estado da
Educação de um Ministério que tem subscrito medidas que comprometem a qualidade
da educação e limitam o acesso dos miúdos e famílias aos apoios sociais
escolares, em "parceria" com a sociedade civil, a distribuir mochilas
aos pobrezinhos.
Talvez a forma como a peça foi produzida e
apresentada possa gerar equívocos mas creio que um pouco de pudor e dignidade
evitariam um espectáculo de mediatização da pobreza que me incomodou.
Deve ser um problema de hipersensibilidade que a idade me vai causando e certamente está a
merecer tratamento.
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