Com a maior surpresa Luís Filipe Menezes anunciou
ser candidato à Câmara do Porto. Estando impedido de concorrer de novo a Gaia,
Rui Rio, pelas mesmas razões, impedido de concorrer ao Porto a que acresce o
enorme espírito de missão e sacrifício de Menezes e a nunca escondida apetência
pela liderança da Invicta. Menezes não resistiu ao apelo, ninguém o agarrou e pronto, é
candidato.
À medida que se aproxima o período de lançamento
das próximas autárquicas, os aparelhos da partidocracia vão definindo
estratégias de regulação da dança das cadeiras. Devo confessar que acho um
espectáculo absolutamente deprimente e despudorado que também pode ilustrar-se
com a contratação em final de época, por parte da estrutura concelhia do PSD de
Oeiras, do Dr. Moita Flores, um conhecido entertainer e escritor medíocre,
criminólogo, comentador televisivo, etc., etc., e também presidente da Câmara
de Santarém. Não se conhecem os valores do contrato, mas sabe-se que,
obviamente, Moita Flores é um profundo conhecedor do concelho vizinho de
Santarém, o de Oeiras, pelo que se percebe a bondade e acerto da escolha.
No entanto, exemplos destes são muito comuns.
Há tempos a imprensa referia, apesar de as
eleições ainda virem longe, que o PSD se prepara para, apesar da oposição do
CDS, aprovar a “clarificação” legal que permite que um cidadão que já cumpriu
três mandatos à frente de uma estrutura autárquica possa concorrer … a outro
município. A jogada manhosa prendia-se, pelo menos, com a intenção agora explícita de apresentar
o “action man”, Dr. Luís Filipe Menezes, que já não pode concorrer a Gaia, à
Câmara do Porto, dado que Rui Rio também já está no fim do “contrato” dos três
mandatos. Evidentemente que não é caso único, há umas semanas
ouvi o senhor presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, o Sr. Jaime Soares,
também conhecido pela sua ligação ao universo dos bombeiros, já impedido de
concorrer ao mesmo município, admitir a possibilidade de se candidatar a
Coimbra. São uns empreendedores, sempre a bombar.
De acordo com o quadro legal, para esta mudança
normativa o PSD não precisa dos votos do CDS, basta que um dos partidos da
oposição se abstenha.
Aqui surge a posição do PS em que, por exemplo,
Francisco Assis é absolutamente fiel ao espírito da lei, a renovação política,
o combate à eternização no poder, mas desconhece-se a posição que virá a ser
adoptada por António José Seguro. Em todo o caso, também no PS há quem já vá
afirmando que não vê “qualquer razão para que um autarca que atinja um limite
de mandatos numa autarquia não possa candidatar-se a outra”, o que também não
estranho. Por coincidência e só para exemplo, o PS tem um autarca em fim de
mandato em Loures, Joaquim Raposo, que entende como uma boa candidatura para
disputar a Câmara de Sintra a Fernando Seara, se este, entretanto, não se
“interessar” pela Câmara de Lisboa. É um susto a dança das cadeiras.
E é assim que esta choldra, como diria o eterno
Eça, funciona. A lei é clara na sua intenção e formulação mas, como sempre, se
não serve os interesses partidários de ocasião, muda-se a lei, é simples e
aparentemente barato. No entanto em termos de saúde ética da nossa vida cívica
o preço deste pântano é altíssimo.
O despudor e a partidocracia capturaram e
debilizaram a qualidade da democracia e confiança e envolvimento cívico dos
cidadãos.
Este é, também, uma dimensão enorme da crise, das
crises.
1 comentário:
Eu tinha como certo que o excremento era sempre o mesmo e imoto, as moscas é que mudavam.
Pelos vistos eu estava redondamente errado: a mobilidade das fezes é efectiva, os insectos dípteros é que vão na peugada.
Chamar a isto "Portugal dos Pequeninos" é fazer elogio.
saudações
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