segunda-feira, 24 de setembro de 2012

AS CIGARRAS E AS FORMIGAS. As palavras (mal) ditas

Há uns anos largos atrás envolvi-me numa pequena e amistosa troca de opiniões com a pessoa que chefiava o serviço do Ministério da Educação onde na altura trabalhava. A discussão centrava-se no facto de a responsável ter proferido numa intervenção pública um conjunto de afirmações que, percebendo-se o sentido, eu entendia que não poderiam ser feitas por uma responsável, ou seja e como eu dizia na altura, "eu posso dizer isso por uma razão muito simples, não tenho responsabilidades de chefia, a ti está vedado esse tipo de afirmações". Como pessoa inteligente e competente que era, concordou com a apreciação.
Serve esta introdução para abordar as palavras do Ministro Miguel Macedo ao afirmar que "Portugal não pode ser um país de muitas cigarras e poucas formigas". Creio que é razoavelmente claro aceitar que o Ministro não pretendia destratar os portugueses mas sendo Ministro as suas palavras não têm o mesmo peso que as do cidadão comum ainda que, como sempre, esclarecimentos posteriores de interpretação não ajudam, antes pelo contrário.
Numa circunstância em que o país conta com bem perto de um milhão de desempregados, de cigarras, que estão impedidos de trabalhar  e quando sobre muitos outros milhares a espada do desemprego está dramaticamente por cima, um Ministro não pode falar de um país de preguiçosos que não querem trabalhar.
Quando uma parte da classe política que lidera ou pretende liderar, tem para apresentar como currículo profissional uma mão cheia de nada, seria prudente um Ministro não falar de formigas e cigarras.
Quando o desemprego jovem anda nos 36 % e se assiste a uma luta pela sobrevivência diária em muitas famílias com a diminuição de apoios, um Ministro não pode falar de cigarras e formigas.
Quando mais de metade dos desempregados não têm subsídio de desemprego, um Ministro não pode falar de cigarras e formigas.
Quando relatórios da União Europeia mostram que a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, um Ministro não pode falar de cigrras e formigas.
Sim, eu sei, os Ministros são pessoas e como tal podem ser mais ou menos felizes e cuidadosos nas suas afirmações e comportamentos. No entanto e pela mesma razão, aos que lideram exige-se a responsabilidade e a competência para o desempenho adequado da sua função.
Por isso, nem todos são capazes de fazer tudo, cigarras ou formigas.

1 comentário:

anónimo paz disse...

O senhor Miguel Macedo deveria ser a última pessoa a falar das cigarras em propósitos depreciativos.
Foi a partir dos governos do senhor Cavaco Silva, X, XI, XII, que os milhões da CEE começaram a chover e o metamorfosear das formigas em cigarras foi uma realidade. O desmantelamento do aparelho produtivo é prova disso.

O senhor Miguel Macedo nasceu em 1959.
O senhor Miguel Macedo foi deputado nas V, (1979) VI, VII, VII, X, XI legislaturas.
O senhor Miguel Macedo foi secretário do estado da juventude. (1990 /1991)
O senhor Miguel Macedo Foi vereador da Câmara de Braga 1993/1997.
O senhor Miguel Macedo Foi secretário do Estado da justiça nos XV, XVI, 2002/2005.
O senhor Miguel Macedo foi secretário geral do partido (PSD)2005/2007.
O senhor Miguel Macedo foi membro da Assembleia Municipal de Braga 2007/2010.
O senhor Miguel Macedo foi líder Parlamentar do PSD 2010/2011.

Sou deplorável em matemática, mas estou tentado a dizer que não teve tempo para crescer ou então levava o biberon para as reuniões políticas.

QUANDO É QUE O senhor MIGUEL MACEDO FOI FORMIGA ?!!!


saudações