sexta-feira, 14 de setembro de 2012

EM CONTRAMÃO

Nem sei como dizer isto. Mas correndo o risco de contrariar quem nunca erra, quem domina o único ponto de vista ajustado sobre qualquer problema que afecte o país, quem se julga detentor da verdade, também tenho o despudorado atrevimento de expressar a maior das dúvidas sobre a bondade do caminho de empobrecimento e sacrifício insustentável que o Governo tem vindo a desenvolver.
O último conjunto de medidas anunciado por Passos Coelho conseguiu, estranhamente, uma quase unanimidade. Na verdade, à excepção de alguns indefectíveis deputados, a esmagadora maioria da apreciação produzida sobre estas medidas é francamente negativa, incluindo a expressa por pessoas relevantes dentro do PSD e pessoas ligadas às organizações empresariais de várias áreas. Sublinho a apreciação discordante de Belmiro de Azevedo que potencialmente seria um dos beneficiários da mais estranha das medidas deste pacote, a descida da TSU das empresas e a subida dos encargos dos trabalhadores.
O Primeiro-ministro procurou na entrevista televisiva justificar a medida mas também as explicações ficaram longe de conseguir concordância alargada.
Da entrevista releva sobretudo a afirmação de uma profissão de fé no caminho que obstinadamente tem vindo a prosseguir, custe o que custar, independentemente dos sacrifícios que já tornam a vida de muita gente uma luta diária pela sobrevivência e assombrada pela desesperança.
Registei ainda que face ao que ouve como crítica e ao estado em que o país está, dorme tranquilo. Alguns milhões de portugueses não poderão afirmar o mesmo.
Este entendimento do Primeiro-ministro inscreve-se na habitual miopia que ataca os políticos no poder, a realidade está enganada, eles é que estão certos.
Sempre me lembra a história que se conta no meu Alentejo do sujeito que indo, sem dar por isso, em contramão na auto-estrada, ouve avisar pela rádio que se encontra um automobilista a circular em contramão naquela via. O nosso amigo condutor ouviu e interrogou-se “Só um em contramão? Porra, aqui vão todos!”.
Não Senhor Primeiro-ministro, o Governo é segue em contramão.

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