Nem sei como dizer isto. Mas correndo o risco de
contrariar quem nunca erra, quem domina o único ponto de vista ajustado sobre
qualquer problema que afecte o país, quem se julga detentor da verdade, também
tenho o despudorado atrevimento de expressar a maior das dúvidas sobre a
bondade do caminho de empobrecimento e sacrifício insustentável que o Governo
tem vindo a desenvolver.
O último conjunto de medidas anunciado por Passos
Coelho conseguiu, estranhamente, uma quase unanimidade. Na verdade, à excepção de
alguns indefectíveis deputados, a esmagadora maioria da apreciação produzida
sobre estas medidas é francamente negativa, incluindo a expressa por pessoas
relevantes dentro do PSD e pessoas ligadas às organizações empresariais de
várias áreas. Sublinho a apreciação discordante de Belmiro de Azevedo que
potencialmente seria um dos beneficiários da mais estranha das medidas deste
pacote, a descida da TSU das empresas e a subida dos encargos dos
trabalhadores.
O Primeiro-ministro procurou na entrevista
televisiva justificar a medida mas também as explicações ficaram longe de
conseguir concordância alargada.
Da entrevista releva sobretudo a afirmação de uma
profissão de fé no caminho que obstinadamente tem vindo a prosseguir, custe o
que custar, independentemente dos sacrifícios que já tornam a vida de muita
gente uma luta diária pela sobrevivência e assombrada pela desesperança.
Registei ainda que face ao que ouve como crítica e ao estado em que o país está, dorme tranquilo. Alguns milhões de portugueses não poderão afirmar o mesmo.
Registei ainda que face ao que ouve como crítica e ao estado em que o país está, dorme tranquilo. Alguns milhões de portugueses não poderão afirmar o mesmo.
Este entendimento do Primeiro-ministro
inscreve-se na habitual miopia que ataca os políticos no poder, a realidade
está enganada, eles é que estão certos.
Sempre me lembra a história que se conta no meu
Alentejo do sujeito que indo, sem dar por isso, em contramão na auto-estrada,
ouve avisar pela rádio que se encontra um automobilista a circular em contramão
naquela via. O nosso amigo condutor ouviu e interrogou-se “Só um em contramão?
Porra, aqui vão todos!”.
Não Senhor Primeiro-ministro, o Governo é segue em contramão.
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