Uma docente universitária da
Universidade do Minho propôs que em vez de descontos nos passes para transporte
público, fossem oferecidas às crianças e a jovens bicicletas para uso na deslocação para a escola. A sua argumentação
radica nas experiências de outros países incluindo os que tem climas mais
adversos, na economia e, naturalmente, nos benefícios para a saúde considerando
que, até por decisão do MEC, os alunos portugueses têm menos tempo de actividade
física na escola que o recomendado pela OMS.
A proposta levantou algumas
reservas sobretudo no que respeita à segurança rodoviária e nas diferenças
culturais e sociais que potenciariam riscos de acidentes e incidentes.
Pessoalmente acho que por princípio
devem ser incentivados comportamentos mais saudáveis e com menor custo
ambiental mas parece-me, por várias razões, uma ideia de difícil generalização,
embora todos saibamos o quanto se torna necessário pedalar para aceder a um
projecto de vida viável e positivo.
No entanto, a notícia fez-me
recordar com imensa ternura e nostalgia a minha bicicleta de adolescente, há
muitos anos atrás.
Tive a sorte de ter uma bicicleta desde gaiato
pequeno, oferta de tios generosos, por isso sempre me habituei a bicicletas até
porque foi o veículo de transporte familiar até à adolescência, altura em que o
orçamento lá de casa possibilitou a aquisição de uma motorizada para a família
e na qual todos nos revíamos embevecidos, continuávamos em duas rodas é certo,
mas sempre tinha motor.
Já mais crescido, a economia familiar tinha
limites apertados e não chegava para uma bicicleta nova de roda 28 pelo que
desenvolvi um empreendedor plano. Recolhia cobre de fios velhos de instalações
eléctricas e latão, sobretudo dos casquilhos das lâmpadas, que trocava no
ferro-velho do Gato Bravo por peças para a minha bicicleta. O quadro, as rodas,
selim, o guiador, os travões, o dispositivo de iluminação com o dínamo na roda
e a minha bicicleta foi crescendo, linda, através do que se poderia designar por
um modelo pioneiro de “assembling”, com a ajuda sabedora e companheira do meu
pai, um conhecedor de bicicletas e, sobretudo, um especialista em gente miúda.
Não vos posso dizer a cor da minha bicicleta porque teve várias, era uma
bicicleta personalizada.
De vez em quando, conseguia outro guiador, outro
selim e a minha amada e invejada bicicleta sofria um “restyling”, até mudanças
ganhou. Grandes voltas percorremos nós, quase sempre com o Zé Padiola, íamos à
Costa da Caparica e à Fonte da Telha, até voltar para casa, sempre por estradas
que há quarenta anos ainda nos permitiam andar de bicicleta sem os riscos
actuais.
É certo que eu e ela também testámos o chão, mas
éramos solidários e amigos, quando eu caía, ela acompanhava-me sem um queixume
ou ponta de revolta.
Divertimo-nos a sério. Que saudades da minha
bicicleta.
Talvez a generalização do uso das
bicicletas seja mesmo de considerar.
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