Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias
que em chove ponho-me a pensar que não sou só eu que vivo arreliado. Depois, o
cheiro da terra molhada é que me faz de novo animar.
(Almada Negreiros)
Já chove no Meu Alentejo. A terra gretada pela
secura que parecia chorar lágrimas secas pela chegada da chuva, as lágrimas
molhadas, já liberta o inconfundível cheiro de que falava Mestre Almada e que
me deixa mais animado.
E cumpriu-se a tradição. Dizem os Velhos, como o
Mestre Zé Marrafa, que quando não chove pela Feira de Ferreira do Alentejo que
decorreu no fim-de-semana passado, chove com certeza pela Feira d'Aires, aqui
no Meu Alentejo, que se realiza na semana seguinte, este fim-de-semana. E choveu
bem.
Creio que já não vai complicar muito as vindimas
e permite que as azeitonas, poucas este ano, fiquem mais gradas, estão pequenas
da secura.
Esta chuva vai também lavar o pó e tudo fica mais
bonito.
Vai começa a aparecer algum verde na terra, que
ficando mais branda da água que a amolece já pode ser fabricada e daqui a
poucas semanas podem iniciar-se as sementeiras. Virá rapidamente o tempo das favas,
dos alhos ou dos cereais, por exemplo.
Por outro lado, creio que a secura não tem estado
a afectar só a terra. Sinto que as pessoas também se sentem secas, já com pouco
ou nada para dar, cansadas, ansiosas porque alguma coisa mude, às vezes nem
sabendo exactamente o quê, que a desesperança mata o sonho. Creio que cada um
de nós gostaria que mudassem coisas diferentes, mas que mudassem. Um problema
sério é que também a confiança no futuro parece seca como a terra.
A terra vai ficar melhor, já chove no Meu
Alentejo. E nós, as pessoas?
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