A imprensa de hoje faz referência a um estudo realizado na
Universidade do Minho que, do meu ponto de vista, merece essa referência e
reflexão sobre as suas implicações.
O estudo realizado com 80 crianças no 2º ano de
escolaridade, oriundas de famílias com baixo rendimento, mostra que estas obtêm
melhores resultados escolares quando aprendem duas línguas devido ao efeito
produzido pelos processos de aprendizagem.
Eram já conhecidos os efeitos positivos do bilinguismo em crianças
de meios favorecidos sendo que este estudo é um contributo para se poder estender
a todas as crianças esse tipo de efeito potencialmente positivo.
Do meu ponto de vista, o estudo dá um contributo essencial
para desmontar um dos mais enraizados equívocos instalados na nossa cultura
escolar, o de que crianças que se confrontam com duas línguas estão “condenadas”
a sentir dificuldades de aprendizagem.
Como é evidente, já aqui o referi, algumas pessoas que
genuinamente assumem este entendimento, são as mesmas que proporcionam aos seus
filhos pequenos a aprendizagem, por exemplo, do inglês, e não entendem que isso
lhes provoque dificuldades na aprendizagem, antes pelo contrário, é benéfico
como os estudos comprovam e o que hoje se cita apenas estende esses benefícios a
crianças de meios desfavorecidos.
A questão essencial é a representação sobre a segunda língua
envolvida, ou seja, se para além do português as crianças estiverem a aprender,
inglês, alemão, espanhol ou francês, por exemplo, isto é benéfico. No entanto
se estiverem a aprender português e crioulo vão, com toda certeza, sentir
dificuldades escolares. Dito de outra maneira é o estatuto atribuído às línguas
envolvidas que determina a natureza da apreciação sobre os resultados esperados.
Embora o estudo incida sobre português e um dialecto alemão
falado no Luxemburgo, creio que pode ajudar a contrariar a representação
instalada, mesmo entre professores, de que crianças que lidam diariamente com o
português e com o crioulo estão condenadas a dificuldades ou mesmo ao fracasso.
Não estão e não é um problema, pode ser uma vantagem se a
soubermos, quisermos e conseguirmos aproveitar.
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