Um estudo divulgado na Lancet e citado no Público,
sugere que o stresse profissional decorrente de tensão e pressão laboral ou
excesso de trabalho, pode implicar um risco acrescido de problemas do foro cardiovascular
da ordem dos 23 %. Creio que esta conclusão não é de todo surpreendente.
Também no âmbito das questões relativas ao trabalho
foi divulgado um estudo, desta vez realizado na Austrália sobre a relação entre
saúde mental e trabalho. Confirmou-se que as pessoas desempregadas têm pior
saúde mental que as pessoas com emprego o que o senso comum dirá. Lembro-me de
uma célebre resposta de um conhecido futebolista português que ao ser
interrogado numa entrevista sobre se não sentia stress antes do jogo, respondeu
qualquer coisa como, "stress é chegar ao fim do mês e não ter dinheiro
para dar de comer aos filhos".
Mas o estudo vai ainda mais longe e conclui que
empregos mal remunerados, com grandes cargas de stresse ou incertos no futuro
(nota do tradutor - "incerto no futuro" deverá ser tradução para
australiano do termo português "precário") também não fazem nada bem,
antes pelo contrário, podem fazer mais mal. Esta conclusão merece uma reacção
típica em Portugal, "A sério?! Não posso".
Na verdade, quem iria imaginar que ganhar pouco,
sentir problemas e pressão ou temer a perda do emprego poderia comprometer a
saúde mental das pessoas. Alguns especialistas portugueses ouvidos sobre este
estudo entendiam uma explicação para tal fenómeno poderia advir da existência
de apoios sociais excessivamente generosos aos desempregados que assim não se
sentem tão mal quando comparados com os desgraçados que estão mal empregados.
Bem visto.
Se conjugarmos estes dados com os do estudo hoje
divulgado, o quadro é verdadeiramente preocupante.
Num país com uma das mais altas de precariedade
laboral na Europa, promotora de pressão e stresse a que acresce um baixo nível
de qualidade do trabalho e das suas condições e uma ameaça constante sobre a
manutenção do emprego, os trabalhadores terão uma “escolha” ou destino pouco
tranquilo, ou deprimem ou enfartam.
Poderia ser interessante replicar estes estudos
com a nossa população. Talvez obtivéssemos resposta à questão sobre quem se
deprime ou enfarta mais depressa, um desempregado sem subsídio de desemprego,
um desempregado com subsídio de desemprego, um trabalhador com contrato
precário ou um trabalhador com o salário mínimo que faz um trabalho de que não
gosta e o pressionam o tempo todo.
Ainda vamos ficar a perceber porque é que somos
um dos países com maior consumo de anti-depressivos e com um nível elevado de
doença do foro cardiovascular.
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