Conforme já tinha sido anunciado, o MEC avança
com a criação do ensino vocacional, aprendizagem de profissões concretas,
obrigatório para o ensino básico. Esta via terá como linhas de força; no final
do 6º ano os alunos podem escolher entre a via vocacional ou a via regular
(reparem que só uma é "regular", a outra é "especial"), a
frequência da via vocacional é obrigatória para qualquer aluno que chumbe duas
vezes no mesmo ano no 1º ou 2º ciclos e para quem chumbe três anos
interpolados, as famílias ou qualquer aluno podem escolher esta via e no final
do 9º ou do 12º os alunos podem, fazendo os respectivos exames, retornar ao
ensino "regular" uma vez que manterão na via vocacional o mesmo
currículo em Português, Matemática e Inglês, curiosamente as disciplinas com
mais "chumbos".
Em primeiro lugar quero deixar claro, tenho-o
escrito e afirmado, que é importante diversificar a oferta formativa, a
diferenciação de percursos, de forma a conseguir um objectivo absolutamente
central e imprescindível, todos os alunos devem atingir alguma forma de
qualificação, única forma de combater a exclusão.
A questão que considero fortemente discutível num
plano técnico e ético é a introdução desta diferenciação ao 6º ano e nos termos
propostos pelo MEC, obrigatória para os que chumbam. Poucos sistemas educativos
assumem este entendimento.
Os alunos com insucesso, estamos a falar,
presumo, de gente com capacidades "normais" irão obrigatoriamente
para o ensino vocacional. Voltamos ao meu tempo, não tens jeito para escola
vais para o campo, não tens jeito para os trabalhos "intelectuais"
vais para os trabalhos "manuais", "vocacionais" como lhe
chama o MEC. Sabe-se que o insucesso escolar é mais prevalente em famílias mais
desfavorecidas embora também conheçamos as excepções, muitas. Assim, mantemos a
velha ordem, os mais pobres "destinados" preferencialmente para o
trabalho manual, os mais favorecidos preferencialmente para o trabalho
intelectual. Assim é que está certo.
Por outro lado, afirmar que um aluno no 6º ano
"opta" é um disparate, uma criança de 12 ou 13 anos, não
"opta", como sabem se forem sérios. Aliás, nem a lei nem a sua
maturidade lhe permitem "optar", o aluno não é o seu encarregado de
educação, por alguma razão isto acontece. Claro que a escola poderá sempre
"optar" por ele, canalizando os que "atrapalham" os bons
alunos para o ensino vocacional.
O MEC diz que os pais devem autorizar ou eles
próprios optar, demagogia manhosa mais uma vez. Quem conhece as nossas escolas sabe
bem da margem de negociação e do nível de envolvimento dos pais dos alunos
candidatos a esta via, os de insucesso, e que esta "autorização" é
uma questão burocrática. Seja sério Professor Nuno Crato.
Afirma-se ainda que o aluno pode retornar ao
ensino "regular" fazendo os exames nacionais de ciclo. O desvario
ignorante, demagógico e mal intencionado continua. Qualquer pessoa que conheça
o mundo da educação, sabe que a probabilidade de um aluno que tenha frequentado
uma via mais "prática" durante o 3º ciclo mesmo que tendo o mesmo
currículo a Português, Matemática e Inglês, apresentar-se a exame nacional do
9º ou do 12º e ser bem sucedido é residual, mais uma vez haverá excepções, mas
serão isso mesmo.
Sejamos sérios, a esmagadora maioria destes
miúdos não voltará ao percurso normal sendo "empurrados" aos 12 anos
para a via vocacional.
Pena terem acabado os tempos do meu sogro e do
mestre Marrafa que, como milhares de outros, começaram a trabalhar aos dez
anos. Não atrapalharam ninguém na escola e é sempre necessário quem faça o
trabalho "prático".
Não me surpreende que esta decisão do MEC suscite
a adesão de alguns, professores ou pais. Uns verão as suas salas de aulas,
outros os seus filhos mais afastados dessa gente fracassada que só serve para
trabalhos manuais "práticos", "vocacionais". É claro que se
a medida tocar aos seus filhos a questão é outra, aí exigirão apoios ou
procuram-nos fora da escola, porque sabem, todos sabemos, que aos doze anos os
miúdos devem aprender o que TODOS aprendem, da forma que conseguem aprender e
com os recursos adequados, aqui sim, deveria residir a verdadeira aposta.
A
diferenciação dos percursos, necessária e imprescindível reafirmo, deve surgir
mais tarde, como se verifica na maioria dos sistemas educativos que se
preocupam com os miúdos, com todos os miúdos.
1 comentário:
Estou completamente estupefacta, como é que alguém, na educação, de fazer um "copy past" legislativo dos CEF, para o tornar tão insólito?! Que andais a fazer nesse Ministério, deviam ir fazer uma Formação Vocacional de Pedagogia... Sinceramente...e logo em 12 escolas?! Estão a brincar com quem? Alunos ou Professores?!
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