segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A HISTÓRIA DO PÁRA-RAIOS

Um dia, numa escola de miúdos pequenos, começa a ouvir-se ao longe o ruído da trovoada, os miúdos vão prestando atenção e a ganhar alguma inquietação à medida que se aproximava. Para maior impacto a trovoada chegou mesmo pertinho.
Todos estavam assustados e o Nelson então ... estava mesmo com medo. A professora tentou aquietar aquela aflição o que aconteceu.
É certo que o afastamento da trovoada foi um forte contributo para o sucesso da sua acção.
Algum tempo depois, a mãe do Nelson contou à professora que uma noite, de novo, a trovoada, veio de longe, aproximou-se e o Nelson como de costume estava assustado, muito assustado. A mãe tentou ajudar e acalmar sem grande sucesso, a trovoada demorava a deslocar-se, até que o Nelson pediu, “Mãe, telefona à minha professora, ela é que sabe de trovoadas”.
Gosto de acreditar que os professores, na sua totalidade (ou quase), são percebidos pelos miúdos como pára-raios para as trovoadas que a vida lhes coloca por cima, não as evitam mas ajudam a proteger e a entendê-las.
A questão é que ajuda os professores nas trovoadas que lhes caem em cima.
Bom, isso dará uma outra história.

3 comentários:

Ana disse...

A questão é "quem", certo?

«A questão é quem ajuda os professores nas trovoadas que lhes caem em cima.»

Não sei o que pensará a generalidade dos colegas, mas a mim quem me ajuda são os alunos.

Nesta pequena cidade de província, em escola frequentada por miúdos sobretudo oriundos dos meios rurais circundantes, o bom relacionamento afectivo ainda é o interregno de bonança no meio da tempestade que nos afecta.
Por exemplo, entrar numa sala de aula de um 8º ano, às 8:30h, com zero graus lá fora, como hoje, rouca, ranhosa e entupida q.b., para, a custo, dar uma aula de Português, e ouvir meninos a dizer "Ó pá, calem-se! Não vêem que a stora não consegue falar?!" é um raio de sol no meio da tempestade. E a aula até correu melhor do que nunca! Os 27 meninos falavam baixinho, inclusive para fazerem perguntas durante o trabalho, de tal modo que, às vezes, tive de lhes pedir para falarem mais alto, pois também tinha os ouvidos cheios de balões e não ouvia tão bem. A um ou outro ainda disse, por graça: "Não precisas de falar tão baixinho. Quem está rouca sou eu!"

Nestes contextos que, felizmente, ainda preenchem a maior parte do meu dia-a-dia profissional, as quatro paredes da sala de aula são o abrigo, o pára-raios e o resquício de motivação para me arrastar para a escola mesmo com vontade de ficar embrulhada em cobertores ou, quando de melhor saúde, com vontade de emigrar e fugir do malvado Neptuno.

Mas até quando conseguiremos resistir assim?!

Zé Morgado disse...

Olá Ana, eu não sei "até quando conseguiremos resistir assim" mas creio que daqui a alguns anos se perguntarem aos seus miúdos pela estrada que já fizeram, a maioria deles lembrar-se-á da Professora Ana, um dos pára-raios com que se cruzaram na vida.

Ana disse...

Oxalá, Zé Morgado! Muito obrigada.
Em regra, eles são muito fraquinhos, não se aplicam lá grande coisa e nem têm um contexto familiar nada favorável... agora pior do que nunca! Mas são excelentes miúdos, muito humanos, solidários e agradecidos com o que se lhes dedica. Até os mais rebeldes e/ou revoltados! (Nestes casos, poucos, lembro-me sempre do ditado: "Não é com vinagre que se apanham moscas!")
E costumo dizer-lhes frequentemente que, antes de serem bons falantes da língua materna, quero que sejam boas pessoas, bem formados, íntegros, solidários. E são-no. Tenho quatro turmas de 8.º ano (de continuidade) e, se não fosse a luta constante para aprenderem, diria que, com eles, estou no céu. Talvez seja uma vantagem de estar na província, sei lá! (fiz essa opção há quase 30 anos, para arranjar estabilidade profissional e familiar, e não me arrependo, apesar de tudo).
Cumprimentos.
Ana