quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CRATO À SOLTA

Um telegrama de reacção ao notável solo de Nuno Crato após o Conselho de Ministros.
Segundo o Ministro da Examinação a sinistra Prova vai ser um sucesso, está a vender-se bem, já existem cerca de 37000 inscritos, a 20 € por cabeça, o que faz … bom, é só fazer as contas. Aliás, o interesse é tanto que o MEC decidiu prolongar o prazo de inscrição de forma a que todos os interessados tenham a possibilidade, diria o privilégio, de a ela acederem.  Sobre a Sinistra Prova nada acrescentar face ao modelo, circunstâncias e objectivos. Em todo o caso, ficará sempre um “bom” instrumento de análise para as instituições que formam professores ilustrando com extraordinária competência o que não deve ser a Avaliação de Professores.
Uma segunda referência preocupação com o conhecimento científico dos professores que sobre as matérias que leccionam. Qualquer pessoa dentro do universo da Educação em Portugal tem clara consciência que, em termos globais pois existem sempre excepções, o conhecimento científico dos professores, sobre as matérias que ensinam não é um problema central. É razoavelmente evidente, só para dar alguns exemplos que para além do conhecimento científico da matéria que se ensina, importa o conhecimento sobre a forma de ensinar essa matéria, a forma de aprender essa matéria e a forma de avaliar essa matéria. Claro que o Ministro da Examinação do alto da arrogância da ignorância entende que ensinar Matemática numa turma do 3º ciclo com 30 alunos de uma escola cheia de problemas ou ensinar Matemática a uma turma de igual efectivo um estabelecimento privado altamente exclusivo é “apenas” um problema de saber … Matemática.
Uma outra nota recorrente no discurso do Ministro da Examinação, a centração obsessiva nos resultados dos alunos, na medida, nos exames, claro, como fonte e critério único de qualidade. Pedindo desculpa pela referência em inglês pois a tradução retira eficácia, este entendimento faz parte da transformação da “Education” na “Learnification”. Aliás, o Professor Marçal Grilo numa recente e interessante entrevista evidenciava a sua inquietação com o rumo da educação actual, ou seja, a preocupação fundamentalista como o saber, perdendo a sua dimensão global e estruturante de que o saber, os saberes, é, evidentemente, uma peça fundamental, mas não única.
Esperam-nos, portanto, mais e mais exames. Sempre a estranha e mágica convicção de que de tanto medir a febre … ela um dia irá baixar.
Merece ainda um comentário breve a preocupação expressa por Nuno Crato com a “dignificação da profissão docente”, Esta afirmação, depois de ter parido a sinistra Prova, que diz Crato, avalia Conhecimentos e Capacidades para ser professor, seria uma peça de humor se não fosse um despudorado e indigno insulto aos professores.
Uma nota final sobre a decisão de simplificar o processo de certificação dos manuais escolares. Estamos de acordo, por princípio a simplificação de processos é positiva mas, mais uma vez, a questão dos manuais exige outro tipo de reflexão, o peso que lhes é dado no trabalho dos e com os alunos, criando um ensino altamente manualizado e o seu preço excessivo, considerando o número de manuais que cada aluno tem de adquirir e o abaixamento dos dispositivos de apoio da acção social escolar. De facto, do meu ponto de vista e como já tenho referido, a questão dos manuais, a sua utilização e aquisição (porque não serem da escola e não das famílias, por exemplo), entre outros aspectos mereciam reflexão séria embora reconheço o peso económico deste nicho de mercado.
Confesso, embora sirva para nada, que estou cada vez mais preocupado com este Crato à solta.

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