Um telegrama de reacção ao notável solo de Nuno Crato após o
Conselho de Ministros.
Segundo o Ministro da Examinação a sinistra Prova vai ser um
sucesso, está a vender-se bem, já existem cerca de 37000 inscritos, a 20 € por cabeça, o
que faz … bom, é só fazer as contas. Aliás, o interesse é tanto que o MEC decidiu prolongar o prazo de inscrição de forma a que todos os interessados tenham a possibilidade, diria o privilégio, de a ela acederem. Sobre a Sinistra Prova nada acrescentar
face ao modelo, circunstâncias e objectivos. Em todo o caso, ficará sempre um “bom”
instrumento de análise para as instituições que formam professores ilustrando
com extraordinária competência o que não deve ser a Avaliação de Professores.
Uma segunda referência preocupação com o conhecimento
científico dos professores que sobre as matérias que leccionam. Qualquer pessoa
dentro do universo da Educação em Portugal tem clara consciência que, em termos
globais pois existem sempre excepções, o conhecimento científico dos
professores, sobre as matérias que ensinam não é um problema central. É
razoavelmente evidente, só para dar alguns exemplos que para além do
conhecimento científico da matéria que se ensina, importa o conhecimento sobre
a forma de ensinar essa matéria, a forma de aprender essa matéria e a forma de
avaliar essa matéria. Claro que o Ministro da Examinação do alto da arrogância
da ignorância entende que ensinar Matemática numa turma do 3º ciclo com 30
alunos de uma escola cheia de problemas ou ensinar Matemática a uma turma de
igual efectivo um estabelecimento privado altamente exclusivo é “apenas” um
problema de saber … Matemática.
Uma outra nota recorrente no discurso do Ministro da
Examinação, a centração obsessiva nos resultados dos alunos, na medida, nos
exames, claro, como fonte e critério único de qualidade. Pedindo desculpa pela
referência em inglês pois a tradução retira eficácia, este entendimento faz parte
da transformação da “Education” na “Learnification”. Aliás, o Professor Marçal
Grilo numa recente e interessante entrevista evidenciava a sua inquietação com
o rumo da educação actual, ou seja, a preocupação fundamentalista como o saber,
perdendo a sua dimensão global e estruturante de que o saber, os saberes, é,
evidentemente, uma peça fundamental, mas não única.
Esperam-nos, portanto, mais e mais exames. Sempre a estranha
e mágica convicção de que de tanto medir a febre … ela um dia irá baixar.
Merece ainda um comentário breve a preocupação expressa por Nuno
Crato com a “dignificação da profissão docente”, Esta afirmação, depois de ter
parido a sinistra Prova, que diz Crato, avalia Conhecimentos e Capacidades para
ser professor, seria uma peça de humor se não fosse um despudorado e indigno
insulto aos professores.
Uma nota final sobre a decisão de simplificar o processo de
certificação dos manuais escolares. Estamos de acordo, por princípio a
simplificação de processos é positiva mas, mais uma vez, a questão dos manuais
exige outro tipo de reflexão, o peso que lhes é dado no trabalho dos e com os
alunos, criando um ensino altamente manualizado e o seu preço excessivo,
considerando o número de manuais que cada aluno tem de adquirir e o abaixamento
dos dispositivos de apoio da acção social escolar. De facto, do meu ponto de
vista e como já tenho referido, a questão dos manuais, a sua utilização e
aquisição (porque não serem da escola e não das famílias, por exemplo), entre
outros aspectos mereciam reflexão séria embora reconheço o peso económico deste
nicho de mercado.
Confesso, embora sirva para nada, que estou cada vez mais
preocupado com este Crato à solta.
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