Na imprensa de hoje surge um trabalho
importante e inquietante, mas sem surpresas, sobre o consumo de bens culturais. Os portugueses apresentam dos
indicadores mais baixos da União Europeia no que respeita ao consumo de bens
culturais. Actividades como leitura, cinema e outros espectáculos culturais,
visitas a museus e exposição não fazem parte de forma significativa dos nossos
hábitos, mais destinados ao consumo de televisão.
Os especialistas sustentam que esta
situação, para além dos efeitos da crise na alteração de consumos, remete para
aspectos de natureza educativa e para a política relativa à cultura e à sua
valorização que tem sido seguida. Algumas notas enfatizando a questão da
leitura e do mercado livreiro, área que conheço um pouco melhor, e que está também
em recessão mas, importa sublinhar, de uma forma geral, os bens culturais em
Portugal são um mercado caro, veja-se o preço dos livros, dos CDs ou dos
espectáculos.
O universo da cultura vive e vai
viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm
dificuldade em manter portas abertas, para não falar dos problemas com
investimentos e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em
Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e
mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos
cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
Por outro lado, e no que respeita ao mercado
livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros será o
reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De facto, à
excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por questões
de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos editoriais têm
experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo custo, mas
muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão adquirido pelo que,
mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas edições. Se
considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um pouco mais
negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num mercado
gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do "rendimento"
e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro como apenas um produto
e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande aposta deveria ser
no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores, talvez as edições,
que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e grafismo, ficassem
mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta batalha ganha-se na
escola, na educação, e na comunicação social que, sobretudo a televisão, não valorizam
como seria desejável os bens culturais. É certo que existe em actividade o
Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na
comunicação social generalista, por exemplo na televisão, o livro está
praticamente ausente embora exista o sketch do conhecido entertainer político,
conhecido por Professor, que ao Domingo à noite despeja livros em cima de uma
secretária enquanto faz, dizem, comentário político.
Insisto, é um problema de leitores, não de
livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como agora, aspecto que
seria interessante analisar.
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