Chegou o frio, como é de esperar no tempo em que estamos. Com o
frio chega a neve e surgem as referências ao “manto branco” que cobre a Serra,
a da Estrela, claro, e as outras um pouco mais tarde.
O frio, a neve, sempre me lembram a incontornável “Balada da Neve” de Augusto Gil e a
inquietação lá enunciada.
Mas as crianças,
Senhor,
porque lhes dais tanta
dor?!…
Porque padecem assim?!…
E lembro-me também, já o tenho referido, de “O Mundo”, de Juan José Millás que assim
fala, “Quem teve frio em pequeno, terá
frio para o resto da vida, porque o frio da infância nunca desaparece”.
Creio que existem muitos miúdos que passarão
algum frio e nem sempre conseguimos dar por isso. Acontece até que alguns deles
sentem frio em ambientes muito aquecidos. É o frio que vem de fora, aquele de
que falam os alertas coloridos, é o frio que está à beira, um bloco de gelo
disfarçado de família ou de instituição de acolhimento e é o frio que vem de
dentro e deixa a alma congelada. Do frio de fora, apesar de incomodar, acho que
nos conseguimos proteger e proteger os miúdos, mas dos frios que estão à beira
e dos que vêm de dentro nem sempre o conseguimos porque também nem sempre
entendemos e estamos atentos ao frio que os miúdos passam.
Apesar de sentir confiança na resiliência dos
miúdos expressa em muitíssimas situações de gente que sofreu e resistiu a
experiências dramáticas, uns mais que outros naturalmente, parece-me
fundamental que estejamos atentos aos frios da infância. Existem muitos miúdos
a passar muito frio.
Muitas vezes, como diz Millás, quem teve frio em
pequeno terá mesmo frio no resto da vida. Quando olhamos para muitos adultos à
nossa volta parece claro o frio que terão passado na infância.
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