Para além desta informação recordo que, segundo dados
da Segurança Social relativos
a Agosto, apenas 44% dos desempregados, acedem ao subsídio de desemprego, sendo
que o valor médio das prestações é também mais baixo 4% relativamente ao ano
passado devido a alterações das regras de cálculo.
Para além do citado abaixamento do número de
crianças e jovens a receber abono de família e do número de beneficiários do
Rendimento Social de Inserção, este valor, também baixou por alteração de critérios e
regras tendo agora como valor médio 83,28€.
Dado que não se tem verificado qualquer subida
nos rendimentos familiares, antes pelo contrário, estes dados, o abaixamento do
número global de pessoas a beneficiar de apoios sociais não decorre de melhoria
das condições de vida das famílias mas obviamente dos cortes no universo dos
apoios sociais.
Este cenário impressionante, que pode agravar-se
com a anunciada reforma do Estado, isto é, cortes nas suas funções sociais,
coloca uma terrível e angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas
vão (sobre)viver de quê?
Contrariamente ao que nos querem fazer acreditar,
a maioria das famílias portuguesas não viviam ou vivem acima das suas
possibilidades, mas cada vez mais famílias estão a viver abaixo das suas
necessidades, com fome, pobres, sem apoio e em risco de exclusão. Os sucessivos
Governos, desta e de outras terras, é que subscreveram políticas públicas que
assentes em modelos económicos sem alma nem ética produziram o inferno em que
vivemos, não foram as famílias, na sua maioria que o produziram. As famílias é
que sofrem o ajustamento de que falam os burocratas que servem os mercados mas
não foram elas que têm ou tiveram a maior responsabilidade pela situação
criada. E dentro das famílias, como também os dados mostram, são as crianças que se encontram em maior vulnerabilidade com todos os riscos daí decorrentes.
Com este terramoto social e económico ainda
insistem em que temos de empobrecer, expressão que indigna até à raiva. Nós já
estamos pobres, não podemos ficar mais pobres, entendam isto de uma vez por
todas.
Nós não precisamos de empobrecer, falar de
empobrecer é insulto e terrorismo social. Nós precisamos de combater a assimetria
da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza, precisamos de combater
mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes e muitas vezes
injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós precisamos de
combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos mercados e dos
seus empregados, que conflituam com os interesses das pessoas. Nós não
precisamos de empobrecer, nós já somos um dos países mais pobres e assimétricos
da Europa com perto de um terço da sua população pobre ou em risco de pobreza,
com miúdos a chegar às escolas com fome, com gente sem trabalho e sem apoio
social.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses mesmo que mascarados em malditos planos de
"ajustamento", de "resgate" ou ainda e de forma ofensiva de
"ajuda".
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados
especulativos ou a grupos minoritários de interesses.
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