segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DOENÇA MENTAL

A União das Misericórdias Portuguesas construiu em Fátima um Centro que hoje começa a receber doentes com quadros clínicos de demência. A UMP estima que entre 25 e 30% dos seus utentes sejam afectados por esta situação admitindo-se que possa atingir os 50% nos próximos anos.
Recordo que de acordo com o relatório "Portugal Saúde Mental em Números 2013", só 16,2% das pessoas com perturbações mentais ligeiras e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas recebem tratamento em Portugal. O Relatório sublinha a situação particularmente grave da falta de estruturas vocacionadas para adolescentes e jovens que são frequentemente acolhidos em estruturas vocacionadas para adultos.
Por outro lado, Portugal apresenta a prevalência mais elevada de perturbações mentais (22,9%) dos oito países da Europa que integraram o estudo integrado no World Mental Health Survey Initiative, da OMS, realizado em 2010.
Acresce que, consta do mesmo relatório, existe suporte na investigação para se poder correlacionar a taxa de prevalência de doenças mentais com os níveis de desigualdades sociais e de saúde, aliás, regista-se um aumento da procura nas consultas de pessoas em situações fragilizadas no quadro de desemprego e dificuldades económicas.
Sendo certo que não poderemos estabelecer de forma ligeira uma relação causal entre a saúde mental e as condições de vida, é também claro que não podem dissociar-se, numa linguagem simples, alguém que passa mal, dificilmente se sentirá bem.
Em muitas famílias, as dificuldades podem ser tão significativas, o desemprego do casal, por exemplo, que a desesperança instalada se constitua como gatilho para situações de mal-estar e o recurso a consultas, fármacos, consumo de álcool ou droga, ou ainda em caso limite à tentação do suicídio, uma preocupação que originou um Plano de Prevenção a operacionalizar, podem aparecer como uma via que se não deseja mas a que não se resiste. Acresce a este cenário o envelhecimento acentuado da população e a degradação das condições de vida dos idosos que potenciam os efeitos dos seus quadros clínicos e a incapacidade das famílias os acolherem.
Na verdade, a resiliência das pessoas tem limites.
Por outro lado, apesar de querer ser optimista a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente pobre no universo das políticas de saúde. Quando a pobreza das pessoas aumenta e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.

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