A União das Misericórdias Portuguesas construiu em Fátima um
Centro que hoje começa a receber doentes com quadros clínicos de demência. A
UMP estima que entre 25 e 30% dos seus utentes sejam afectados por esta situação
admitindo-se que possa atingir os 50% nos próximos anos.
Recordo que de acordo com o relatório "Portugal
Saúde Mental em Números 2013", só 16,2% das pessoas com perturbações
mentais ligeiras e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas recebem
tratamento em Portugal. O Relatório sublinha a situação particularmente grave
da falta de estruturas vocacionadas para adolescentes e jovens que são
frequentemente acolhidos em estruturas vocacionadas para adultos.
Por outro lado, Portugal apresenta a prevalência
mais elevada de perturbações mentais (22,9%) dos oito países da Europa que
integraram o estudo integrado no World Mental Health Survey Initiative, da OMS,
realizado em 2010.
Acresce que, consta do mesmo relatório, existe
suporte na investigação para se poder correlacionar a taxa de prevalência de
doenças mentais com os níveis de desigualdades sociais e de saúde, aliás, regista-se
um aumento da procura nas consultas de pessoas em situações fragilizadas no
quadro de desemprego e dificuldades económicas.
Sendo certo que não poderemos estabelecer de
forma ligeira uma relação causal entre a saúde mental e as condições de vida, é
também claro que não podem dissociar-se, numa linguagem simples, alguém que
passa mal, dificilmente se sentirá bem.
Em muitas famílias, as dificuldades podem ser tão
significativas, o desemprego do casal, por exemplo, que a desesperança
instalada se constitua como gatilho para situações de mal-estar e o recurso a
consultas, fármacos, consumo de álcool ou droga, ou ainda em caso limite à
tentação do suicídio, uma preocupação que originou um Plano de Prevenção a
operacionalizar, podem aparecer como uma via que se não deseja mas a que não se
resiste. Acresce a este cenário o envelhecimento acentuado da população e a
degradação das condições de vida dos idosos que potenciam os efeitos dos seus
quadros clínicos e a incapacidade das famílias os acolherem.
Na verdade, a resiliência das pessoas tem
limites.
Por outro lado, apesar de querer ser optimista a
experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente
pobre no universo das políticas de saúde. Quando a pobreza das pessoas aumenta
e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.
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