segunda-feira, 11 de novembro de 2013

OS JORNAIS NUNCA ACABAM

O Público vai iniciar a partir de hoje um conjunto de trabalhos sobre o jornalismo, os jornais e os desafios que enfrentam a curto e médio prazo, sobretudo no que se prende com o futuro do papel face ao crescimento exponencial dos formatos digitais e das suas implicações em termos de acessibilidade e  velocidade de divulgação. Durante este período gostava de deixar presente estas notas subscritas por um indivíduo que não dispensa os jornais em papel e consome informação também em suporte digital.
Há meses Pacheco Pereira sustentava que o futuro mais imediato da imprensa passará por uma bi-direccionalidade do trabalho dos jornais. Uma redacção on-line dirigida para o imediatismo, a notícia na hora, e uma redacção dirigida para a edição em papel com outro nível de abordagem e tratamento dos assuntos, mais mediata e aprofundada. Este caminho tem vindo a ser seguido por alguns títulos.
Enquanto leitor creio que Pacheco Pereira em razão. Os jornais em papel têm do meu ponto de vista, uma função, não completamente substituída pela imprensa on-line desde que assuma critérios de qualidade e linhas editoriais transparentes. Aliás, numa entrevista ao Público, em 2011, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, corra o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico".
Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e, sou um optimista, acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila.
Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal e que adquiro desde o primeiro número. Relembro o espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos e de leitura sempre interesante.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
Pois é, os jornais são como os dias, nunca acabam. Enquanto se fizer jornalismo, a sério.

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