O Público
vai iniciar a partir de hoje um conjunto de trabalhos sobre o jornalismo, os
jornais e os desafios que enfrentam a curto e médio prazo, sobretudo no que se
prende com o futuro do papel face ao crescimento exponencial dos formatos
digitais e das suas implicações em termos de acessibilidade e velocidade de divulgação. Durante este período
gostava de deixar presente estas notas subscritas por um indivíduo que não
dispensa os jornais em papel e consome informação também em suporte digital.
Há meses Pacheco Pereira sustentava que o futuro
mais imediato da imprensa passará por uma bi-direccionalidade do trabalho dos
jornais. Uma redacção on-line dirigida para o imediatismo, a notícia na hora, e
uma redacção dirigida para a edição em papel com outro nível de abordagem e
tratamento dos assuntos, mais mediata e aprofundada. Este caminho tem vindo a
ser seguido por alguns títulos.
Enquanto leitor creio que Pacheco Pereira em
razão. Os jornais em papel têm do meu ponto de vista, uma função, não
completamente substituída pela imprensa on-line desde que assuma critérios de
qualidade e linhas editoriais transparentes. Aliás, numa entrevista ao Público,
em 2011, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os
jornais), deixar de ser rentável e, como tal, corra o risco de desaparecimento,
as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico".
Creio que a cidadania de qualidade exige uma
imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e, sou um
optimista, acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do
mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em
papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando
escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me
têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais
em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a
mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir
qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da
minha mochila.
Quando era miúdo aguardava com a maior das
ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer
a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler
com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram
ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva,
o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora,
janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade um regime espesso e
fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa
com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do
Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda
por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com
Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação
trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas.
Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de
Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente
com o jornalismo em Portugal e que adquiro desde o primeiro número. Relembro o
espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos
e de leitura sempre interesante.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público,
um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar
diariamente cá em casa na versão papel.
Pois é, os jornais são como os dias, nunca
acabam. Enquanto se fizer jornalismo, a sério.
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